O
MAR
O
mar é triste como um cemitério;
Cada
rocha é uma eterna sepultura
Banhada
pela imácula brancura
De
ondas chorando num alvor etéreo.
Ah!
dessas vagas no bramir funéreo
Jamais
vibrou a sinfonia pura
Do
Amor; lá, só descanta, dentre a escura
Treva
do oceano, a voz do meu saltério!
Quando
a cândida espuma dessas vagas,
Banhando
a fria solidão das fragas,
Onde
a quebrar-se tão fugaz se esfuma,
Reflete
a luz do sol que já não arde,
Treme
na treva a púrpura da tarde,
Chora
a Saudade envolta nesta espuma!
1902
Augusto
dos Anjos
Toda
a Poesia
Paz
e Terra. Rio de Janeiro, RJ.
2ª
edição. 1978.