segunda-feira, 30 de setembro de 2013

SÃO PAULO 3


FRASES DO GRANDE SERTÃO

O senhor não vê? O que não é Deus, é estado do demônio. Deus existe mesmo quando não há.

SÃO PAULO 2


A BÍBLIA SAGRADA


Eu disse a mim mesmo: Pois bem, eu te farei experimentar a alegria e conhecer a felicidade! Mas também isso é vaidade. Do riso eu disse: “Tolice”, e da alegria: “Para que serve?” Ponderei seriamente entregar meu corpo ao vinho, mantendo meu coração sob a influência da sabedoria, e render-me à insensatez, para averiguar o que convém ao homem fazer debaixo do céu durante os dias contados da sua vida. Fiz obras magníficas: construí palácios para mim, plantei vinhedos, fiz jardins e parques onde plantei árvores frutíferas de toda espécie. Construí reservatórios de água para regar as árvores novas do bosque. Adquiri escravos e escravas, tinha criadagem e possuía muitos rebanhos de vacas e ovelhas, mais do que os meus predecessores em Jerusalém. Acumulei também prata e ouro, as riquezas dos reis e das províncias. Escolhi cantores e cantoras e todo o luxo dos homens, uma dama, damas. Ultrapassei e avantajei-me a todos quantos me precederam em Jerusalém, e a sabedoria permanecia junto a mim. Ao que os olhos me pediam nada recusei, nem privei meu coração de alegria alguma; sabia desfrutar de todo o meu trabalho, e esta foi minha porção em todo o meu trabalho.

Então examinei todas as obras de minhas mãos e o trabalho que me custou para realizá-las, e eis que tudo era vaidade e correr atrás do vento, e nada havia de proveitoso debaixo do sol. Pus-me então a examinar a sabedoria, a tolice e a insensatez. Que fará o sucessor do rei? O que já haviam feito. Observei que a sabedoria é mais proveitosa do que a insensatez, assim como o dia é mais que as trevas: O sábio tem os olhos na cabeça, mas o insensato caminha nas trevas.

Porém compreendi que ambos terão a mesma sorte. Por isso disse em mim mesmo: “a sorte do insensato também será a minha; para que então me tornei sábio?” Disse em mim mesmo: “Isto também é vaidade”.

Não há lembrança durável do sábio e nem do insensato, pois, nos anos vindouros tudo será esquecido: o sábio morre com o insensato. Detesto a vida, pois vejo que a obra que se faz debaixo do sol me desagrada: tudo é vaidade e correr atrás do vento.



Ecl 2, 1-17

domingo, 29 de setembro de 2013

FRASES DO GRANDE SERTÃO

E as pessoas não nascem sempre? Ah, medo tenho não é de ver morte, mas de ver nascimento. Medo mistério.

SÃO PAULO 1 (AQUI PETRÓPOLIS)


TRIBUNA LIVRE


Ó Poeta, mira esse trigal ardido
em mágoa. Dos canteiros que tens feito
as hastes inclinadas sobre o peito
dão-te o aspecto de um deus encanecido.

Ao mesmo tempo heróico e triste hás sido
um anjo alegre e um diabo sem conceito.
O trigo que plantaste, contrafeito
é o pobre ázimo pão em que és cozido.

Resta-te olhar os pássaros que do ermo
voltam antes que o céu as sombras desça,
ensombrando-lhes o último agasalho.

Abre os olhos depois, ó deus enfermo:
Talvez a noite enfim os umedeça
ou lhes negue talvez o seu orvalho.


Jorge de Lima

Livro de Sonetos

sábado, 28 de setembro de 2013

SÃO JOÃO DEL REI


FRASES DO GRANDE SERTÃO

Dor não dói até em criancinhas e bichos, e nos doidos — não dói sem precisar de se ter razão nem conhecimento? 

SÃO JOÃO DEL REI


LOS ÚLTIMOS VERSOS


Aunque éste sea el último dolor que ello me causa
y éstos sean  los últimos versos que yo le escribo.

Veinte Poemas de Amor y una Canción Desesperada

Pablo Neruda

TIRADENTES


UM APRENDIZ DE FEITICEIRO



CANTO DESESPERADO

A flecha, o fogo, a armadilha, a seara
e o centauro pastando violetas.
a lava passa e o cântico rubro
destrói a lira que atrelou o bando
de javalis que, galgos, vão voando
na selva incandescente que defronto.
e o rio vai, volumoso, e suplementa
o mundo de cimento e de armadilhas,
a usura, a pedra dura e o sangue meu.
na ara, entretanto, do exterminador
verdes corcéis fumegam mansamente.


1958
Suplemento Cultural de O Diário

Ilustração de Yara Tupinambá. 

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

JUIZ DE FORA


NO PAÍS DO SUPREMINHO

Soraia Ferreira compartilhou a foto de Revoltados 

Hoje eu acordei triste, mais uma vez o país perdeu, assistindo todo um trabalho de pessoas dignas, como nosso ministro do supremo Joaquim Barbosa e seus colegas indo por água abaixo.Quando é que iremos ver uma luz no fundo do túnel? Mais uma vez tudo termina em pizza,é muito triste saber que nosso país não vai para frente justamente pela corrupção, esse é o nosso maior mal, e o pior de tudo saber que a corrupção chegou ao SUPREMO, e se até o SUPREMO se corrompe para onde podemos ir, olha Danda , vc lembra quando eu vendia brochinho do PT para campanha? saía de baixo de chuva para prestigiar o PT?quando eu achava que ali naquele partido poderia existir uma luz no fundo do túnel para nosso país ? pois é ,eu me arrependo disso tudo, vc lembra quando eu cheguei injuriada porque o COLLOR DE MELO, tinha enfiado a mão no bolso do brasileiro e roubado todo o dinheiro do povo? eu não sabia naquela época, que o PT era pior do que ele, pelos menos ele foi ladrão na cara de todo mundo, ele não se enfeitou de ovelha como o PT para enganar um povo tão querido, eu me arrependo muito de ter lutado por um partido tão corrupto, que existam pessoas corruptas dentro de um partido até eu entendo, mas um partido que passa mão na cabeça de um corrupto isso é inaceitável.E um SUPREMO que se corrompe para mim é inadmissível, ele pode falar todas aquelas ladainhas que ele falou, mas ele não respeitou nem o trabalho que os seus colegas honestos fizeram,um trabalho árduo para colocar os ladrões dentro da cadeia. Antes as pessoas não sabiam votar,hoje sabemos. Mas fica a pergunta em quem vamos votar? PARA ONDE VAMOS? SERÁ QUE DÁ PARA ACREDITAR NUM FUTURO PARA NAÇÃO? TENHAM UM BOM DIA.

ENTRE RIOS DE MINAS


FRASES DO GRANDE SERTÃO

Mas, se não tem Deus, então, a gente não tem licença de coisa nenhuma! Porque existe dor. E a vida do homem está presa encantoada — erra rumo, dá em aleijões dos meninos sem pernas e braços.

SÃO JOÃO DEL REI


G. RAMOS


Chegou-se a nós um rapaz alto, esticado na farda, que se ofereceu para conduzir-nos ao nosso destino. A fala era branda, os modos corteses, de uma cortesia sem afetação, ligada com rigor ao homem, parecendo haver nascido com ele. A maneira como se apresentou, nos abriu a portinhola de um grande automóvel, dava-nos a impressão de que éramos hóspedes consideráveis levados ao hotel por um funcionário cerimonioso. E nenhuma palavra que de longe revelasse a nossa degradação. O investigador Tavares logo se eclipsou. Estranho. Aquela contradança me desorientava. Subordinara-me em vinte e quatro horas ao mulato rodopiante, ao oficial mudo, á sentinela, ao Tavares, ao rapaz atencioso. Surpreendia-me: imaginara que me trancassem a chave numa sala, me deixassem só ― e não me vira só um minuto. A vigilância contínua, embora exercida por uma estátua armada a fuzil ou por uma criatura amável em excesso, começava a angustiar-me. Isso e a instabilidade. Mal fechara os olhos numa leve sonolência, alguém me sacudira e soprara ao ouvido: “― Viajar”. Para onde? Essa idéia de nos poderem levar para um lado ou para outro, sem explicações, é extremamente dolorosa, não conseguimos familiarizar-nos com ela. Deve haver uma razão para que assim procedam, mas, ignorando-a, achamo-nos cercados de incongruências. Temos a impressão de que apenas desejam esmagar-nos, pulverizar-nos, suprimir o direito de nos sentarmos ou dormir se estamos cansados. Será necessária essa despersonalização? Depois de submeter-se a semelhante regime, um indivíduo é absolvido e mandam-no embora. Pouco lhe serve a absolvição: habituado a mover-se como se o puxassem por cordéis, dificilmente se libertará. Condenaram-no antes do julgamento, e nada compensa o horrível dano. Talvez as coisas devam ser feitas assim, não haja outro meio de realizá-las. De qualquer modo isso é uma iniqüidade ― e a custo admitiremos que uma iniqüidade ― e a custo admitiremos que uma iniqüidade seja indispensável. Aonde me transportariam? Àquela hora muitos sujeitos suspeitos estavam sendo paralisados, rolavam sobre pneumáticos silenciosos, navegavam do norte para o sul e do sul para o norte, resvalavam como sombras em longos corredores úmidos. E as autoridades resvalavam também, abafando os passos, oblíquas, tortuosas, com aparência de malfeitores.

Embarcamos, ziguezagueamos longamente na iluminação fraca do Recife. Achara-me ali vintes e dois anos antes, recolhido, enfermo, e ignorava a topografia da cidade: as ruas estreitas e sem nome nada me diziam do itinerário. A um lado, o meu companheiro dava-me palpites desprovidos de significação; no outro lado, o nosso guia, atento, digno, o busto ereto, quase se invisibilizava na penumbra do veículo. Começava a esboçar-se a terrível situação que ia perdurar: uma curiosidade louca a emaranhar-se em cordas, embrenhar-se em labirintos, marrar paredes, e ali perto o informe necessário, imperceptível nas linhas de uma cara enigmática e fria. Chegamos afinal diante de um vasto edifício, saltamos. E, lembrando-me da exigência da manhã, aproximei-me do chofer, abri a carteira, disposto a reduzir os cobres escassos.

― Ah! não! interpôs-se o nosso condutor. É um carro oficial.

Respirei aliviado. Atravessamos um portão, percorremos lugares que não me deixaram nenhum vestígio na memória, desembocamos numa saleta onde um sujeito em mangas de camisa bebia chá e mastigava torradas. Não se alterou com a nossa presença: continuou sentado à mesinha, diante da bandeja, e nem deu mostra de perceber a continência e algumas palavras indistintas do rapaz cortês. Pouco a pouco, inteirando-se de qualquer coisa, entrou a manifestar sinais de inquietação, jogando-nos de soslaio olhadelas descontentes. Tínhamos ido incomodá-lo, impacientava-se, murmurava uma recusa teimosa, falando para dentro, sem deixar de mastigar a torrada. O movimento dos queixos e o som abafado e monótono casavam-se de tal jeito que a recusa e a torrada pareciam confundir-se. E as migalhas economizadas voltavam à boca, juntavam-se às sílabas indecisas, tudo se moía num ronrom asmático. Não me chegava uma palavra, e o desagrado apenas se revelava no gesto arrepiado, no resmungo cavernoso. O moço fez nova continência, meia-volta, veio dizer-nos que não havia ali acomodações para nós.


Graciliano Ramos
Memórias do Cárcere
1º volume. Viagens.
(obra póstuma).
José Olympio. Rio de Janeiro.

1ª edição. 1953.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

SETE LAGOAS IV


COPAS E OLIMPÍADAS


Será que os europeus que pensam em vir até esse país desgraçado, para copas e olimpíadas, sabem que o Rio de Janeiro, principalmente, é uma cidade em que 3/4 de seu território são constituídos de favelas? O mesmo acontecendo, em maior ou menor escala, por todas as outras? Que o dinheiro que deveria ser canalizado para a saúde e a educação foi jogado fora na construção de estádios padrão fifa? Que cerca de 3.500 (em cerca de 5.000) municípios não dispõem de um único médico para assistência básica? Que o país está sendo obrigado a importar médicos estrangeiros, principalmente de Cuba, apesar do corporativismo dos que, embora tenham estudado de graça, só querem ficar nas grandes cidades e nos seus arredores? Que a qualidade da educação brasileira se iguala à dos países mais atrasados da África?

O que é que vocês vêm fazer aqui?

Lembrem-se de que as manifestações de rua, muito maiores que as deste ano, já estão programadas.

Copas e olimpíadas foram atividades circenses, caras para os povos que as abrigam, e bilionariamente rentáveis para os donos do negócio, inventadas pelos europeus. Então que fiquem lá com os seus brinquedinhos.


Quem pariu Mateus que o embale.

SETE LAGOAS III


FRASES DO GRANDE SERTÃO


Estremeço. Como não ter Deus?! Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possível, o mundo se resolve.

Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vai-vem, e a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e pequenas horas, não se podendo facilitar — é todos contra os acasos.

Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois no fim dá certo. 

SETE LAGOAS II


OS NOVOS INCONFIDENTES


CASSAÇÃO DE MANDATOS  (CONT.)

Evilásio Nery Caon
Ewaldo de Almeida Pinto
Expedito Machado da Ponte
Fabiano Villanova Machado
Fausto Tomás de Lima
Félix Valois de Araújo
Fernando Barros da Silva
Fernando Bruggemann Veigas de Amorim
Fernando de Sant’Anna
Fernando Leite Perrone
Fernando Mauro Pires da Rocha
Flávio Antônio Lopes Ramos
Flávio Castrioto de Figueiredo e Melo
Flávio da Costa Franco
Floriano Bezerra de Araújo
Floriano Maia D’Ávila
Floriceno Paixão
Francisco Alves dos Santos
Francisco Aniceto Rocha
Francisco Assunção de Macedo
Francisco das Chagas Caldas Rodrigues
Francisco Julião Arruda de Paula
Francisco Machado Bacurau
Francisco Maranhão Japiassu
Francisco Mariani Guariba
Francisco Paulo dos Santos Lemes
Francisco Roberto Dall’igna
Francisco Salgon Castillon
Francisco Seráfico Dantas
Francisco Souto Neto
Francisco Teles de Mendonça
Fúlvio Celso Petracco
Galileu Bicudo
Garibáldi Alves
Gastão Otávio Lacerda Pedreira
Gastone Righi Cuochi
Genir José Destri
Geraldo Damasceno de Siqueira
Geraldo de Pinho Alves
Geraldo Roque Angelim de Farias
Geraldo Theobaldo Monnerat
Gerardo Magella Mello Mourão
Gérson Bergher
Getúlio Barbosa de Moura
Getúlio Orlando Veneziani
Gilberto Geraldo Siqueira Lopes

Gilberto Mestrinho de Medeiros Raposo

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

SETE LAGOAS CITY


O POVO É O INIMIGO?


Você pode correr o Brasil de norte a sul e de leste a oeste, do Oiapoque ao Chuí, como diriam os antigos leitores de “O Guri”, que não verá nas ruas um único policial patrulhando as ruas, num país de alto índice de criminalidade, roubos de celulares, de dinheiro (enfiam a mão nos bolsos da vítima, como já aconteceu comigo inúmeras vezes), de bolsas e sacolas com as compras feitas por moças e senhoras. Isso para não falar no grande número de assassinatos, gratuitos ou motivados pelos mais variados motivos. Quando muito, há um ou outro policial nas portas do Itaú e do Bradesco, os bancos particulares semi-oficiais.

Todo governador que se empossa diz que botará a polícia para trabalhar, levando-a para as ruas, a fim de proteger os cidadãos (?). As pessoas acreditam, brasileiro é muito crédulo. Por alguns dias isto até acontece. Dois, três dias. Logo em seguida a pm volta à sua modorra habitual. Imagino que dorme o dia inteiro... Polícia aqui só motorizada, e olhe lá. Eles dizem que policial a pé nas ruas (a única coisa que funciona, pelo seu caráter dissuasório) é um alvo que convida a mira e o disparo dos bandidos. Então colocam alguns poucos policiais em algumas poucas “viaturas” (como dizem), param num ponto e ficam à espera de alguma ordem pelo rádio para se deslocarem para algum lugar. De maneira que a coisa fica assim: se sou assaltado, devo pedir ao assaltante que me faça o favor de esperar um instantinho, enquanto vou ao orelhão mais próximo pedir a presença de uma “viatura”. Se o ladrão for bonzinho, tiver bom coração, pode ser que ele se disponha a esperar a chegada dos “homes” para efetuar o seu assalto.

Ah, ia me esquecendo. A polícia também bate, humilha, tortura e mata (“Onde está Amarildo?”) em grande escala. Quando mata, o que é freqüente, lavra os chamados autos de resistência para justificar o assassinato, ou a execução, ou a aplicação da justiça por mãos próprias. No Brasil existe pena de morte, decretada pela polícia militar. Todo mundo sabe disto, mas ninguém faz absolutamente nada, confirmando o que venho dizendo, que este país é um monte de merda. O supreminho faz alguma coisa? Nada! Ele está ocupado em encadear as mais abstrusas e abstratas razões para colocar algum figurão na rua, livre da cadeia, principalmente se for do petê, partido que controla pelo menos a metade mais um de seu corpo de juízes. O Congresso até que faz alguma coisa de vez em quando, no sentido de legalizar o óbvio, isto é, a necessidade de extinguir este tipo de polícia, que brinca de Forças Armadas, e é na verdade um corpo de segurança, para não dizer outra coisa, dos governadores dos estados. Uma herança dos tempos coloniais, quando a perversidade do colonizador português, o mais perverso de todos os colonizadores, colocou esta turma para bater  paus na defesa dos capitães-generais.

Agora, se o povo vai para as ruas... ai, ai, ai..., eles aparecem em verdadeira multidão para jogar bombas, bater cassetetes, jogar no chão, chutar, ferir, cegar ou derramar sangue com balas de borracha, de espada na mão lançar cavalos sobre o que supõem, acreditando no que os seus donos disseram, ser o inimigo. Ainda outro dia mesmo, um soldado negro jogava esprei de pimenta sobre os olhos de um manifestante também negro, em frente ao supreminho.

Nós não somos o inimigo. Nós somos os donos deste território que desbravamos com armas rudimentares, enfrentando rios caudalosos, serpentes, onças, doenças tropicais e as setas dos índios, justificadamente, bravios. Mas o Brasil não é o seu território. O Brasil somos nós e a nossa cultura. Os judeus mantiveram, por dois milênios,  longe de seu primitivo território, a sua língua e a sua identidade nacional. O Brasil somos nós, repito, nós, o povo brasileiro, desde o mais pilantra dos banqueiros até o mais humilde, o mais faminto e nu dos favelados.


Mas é besteira ficar falando sobre isto. Isto aqui não tem conserto, nem nunca terá.

SETE LAGOAS


FRASES DO GRANDE SERTÃO

Refiro ao senhor: um outro doutor, doutor rapaz, que explorava as pedras turmalinas no vale do Arassuaí, discorreu me dizendo que a vida da gente encarna e reencarna, por progresso próprio, mas que Deus não há.

SERRAS


OS INCONFIDENTES


Em outra ocasião também, andando a passear ele, testemunha, pela varanda que tem a mesma Estalagem, se achavam a um lado dela a conversar dois pardos do Serro, um por nome Crispiniano, outro Raimundo Corrêa, Sargento-Mor dos Pardos do Tejuco; e percebendo ele, testemunha, que era sobre a matéria da sublevação, aplicando disfarçadamente o ouvido, percebeu a palavra “levante” e que já se tinha escrito para São Paulo para lá se não pagarem os dízimos; cujas palavras proferiu o dito Crispiniano para o mencionado Raimundo.

Além do que fica referido, também ele, testemunha, ouviu em casa do Tenente-Coronel José Pereira Marques dizer repetidas vezes ao Coronel Inácio José de Alvarenga, quando se conversava na decadência em que se achavam as Minas, que estava propínquo a correr nelas rios de sangue; ouvindo também dize, em outra ocasião, ao Capitão Vicente Vieira da Mota, caixeiro do Contratador João Rodrigues de Macedo, que via as Minas em muita desordem, e que todos os nacionais delas se queriam ver livres, e que ele era amigo do Cônego Luís Vieira, mas que lhe ouvia falar umas tais coisas que, se fosse Rei, lhe mandava cortar a cabeça.

Sabe mais ele, testemunha, que as palestras sobre o levante que concitava aquele Alferes se faziam, umas em casa do Doutor Cláudio Manuel da Costa, outras na do Desembargador Tomás Antônio Gonzaga; e a razão é porque ele, testemunha, prevenido já desta desordem, como dito fica, curiosamente pesquisava ele a outros, e viu algumas vezes o próprio Alferes Joaquim José na casa do dito Desembargador; e muitas e muitas vezes viu juntarem-se o dito o dito Alvarenga e Gonzaga na casa do Doutor Cláudio, e estes na do Gonzaga, ora em uma, ora em outra; e sabendo ele, testemunha, de tudo o que se tem declarado, bem se persuadia que aqueles conventículos, em que também se achava o Vigário de São José do Rio das Mortes quando esteve nesta Vila; eram sem dúvida com o fim de tratar o sistema do levante; e para melhor indagação desta matéria, procurara uma vez, disfarçadamente àquele Doutor Cláudio Manuel da Costa e, perguntando-lhe este pelos seus particulares, ele testemunha, simuladamente e para o fim de lhe rastrear os seus desígnios, se queixou algum tanto do Excelentíssimo Senhor Visconde General, ao que saiu imediatamente aquele Doutor dizendo estas formais palavras: “Nas Minas não há gente; os americanos ingleses foram bem sucedidos porque acharam três homens capazes para a campanha; e nas Minas não há nenhum; só o Alferes Joaquim José, por alcunha o Tiradentes, anda feito corta-vento; mas ainda lhe hão de cortar a cabeça a ele”; não lhe podendo tirar mais coisa alguma do que o referido, e falando posteriormente ao Cônego Luís Vieira, este, não podendo encobrir ou disfarçar a paixão que tem por ver o Brasil feito uma república independente, principiou a abonar o dito Alferes Tiradentes por um homem animoso, e que se houvesse muitos como ele, que o Brasil era uma república florente; acrescentando que um príncipe europeu não podia ter nada com a América, que era um país livre; que o Rei de Portugal nada gastou nesta conquista; que os nacionais já a tinham tirado aos holandeses, fazendo a guerra à sua custa sem El-Rei contribuir com dinheiro algum para ela; que os franceses tomaram o Rio de Janeiro, e que os habitadores da cidade a tornaram a comprar com o seu dinheiro; concluindo ultimamente que esta terra não podia estar muito tempo sujeita ao Rei de Portugal, porque os nacionais dela também queriam fazer corpo de república; proferindo estas e outras solturas sediciosas, encaminhadas todas ao fim da liberdade.

Depois disto, encontrando-se ele testemunha, nesta Vila, com um bacharel (Lucas Antônio Monteiro de Barros), filho do Guarda-Mor das Congonhas do Campo, Manoel José Monteiro, e conversando com ele já maliciosamente, por ver a íntima amizade que conservava com o Coronel Alvarenga, veio a cair na mesma conversação sobre a matéria em que então se falava, e por este motivo lhe disse a ele, testemunha, que um fulano Claro de tal, sobrinho do Vigário de São José do Rio das Mortes, fora em certa ocasião encontrar o dito Coronel Alvarenga, o Cônego Luís Vieira, o Doutor Cláudio, o Desembargador Gonzaga, o Alferes Joaquim José, por alcunha o Tiradentes, e outros, a falarem todos em um levante que estava para se fazer nas Minas; depois do que, se retirou aquele Claro para Taubaté, da Capitania de São Paulo, onde reside, e pensa ele, testemunha, que mandado pelos tais do congresso para ele não falar alguma coisa do que ouviu.


Autos de Devassa da Inconfidência Mineira
Câmara dos Deputados / Governo do Estado de Minas Gerais

Brasília / Belo Horizonte. 1976.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

SÃO JOÃO DEL REI (AQUI JUIZ DE FORA)


O SUPREMINHO

No supreminho brasileiro é assim: para os pobres, o cacete, a cadeia, a tortura. Para os poderosos, a marmelada, como sobremesa da pizza.

Pizzaiolos, nunca prenderam um chapa branca realmente poderoso. Quanto aos pobres, nem lá chegam, pois não têm dinheiro para tanto. Passei uma vida inteira tendo causas que poderia levantar contra os que me injuriavam e perseguiam (e como tive...). Como sempre fui autêntico, apesar dos meus pecados, fui perseguido e injuriado toda a minha vida. Mas nunca tive dinheiro para contratar um advogado. Defensoria Pública? É para quem ganha salário mínimo, e não passa dos juizados de conciliação, para não dar trabalho... Eu ganhava mais, mas não tinha dinheiro para sustentar a máfia de preto. Um, para quem levei uma causa tão justa que depois foi acatada espontaneamente pelo governo federal, me disse que, para cruzar a porta de seu gabinete, eu teria que pagar R$ 3.000,00, para custear o escritório. Eu deveria dizer: ele teve a cara-de-pau de afirmar uma coisa destas.


O supreminho é mesmo impagável. Até bancada do petê ele tem! O polonês, o guarda nazista, o cara-de-aluno-mais-atrasado do fundo da sala, o engraçadinho que argumenta contra os réus, mas depois vota a favor, jogando por terra um trabalho de que não participou, a gaúcha que aprendeu lá nos pampas a arte de se camuflar. Este é o nosso supreminho, impagável.

SANTA TEREZINHA


FRASES DO GRANDE SERTÃO

Só quando se jornadeia de jagunço, no teso das marchas, praxe de ir em movimento, não se nota tanto: o estatuto de miséria e enfermidades. Guerra diverte — o demo acha.

RIO DE JANEIRO CENTRO HISTÓRICO


O QUE JESUS ENSINOU E OS CRISTÃOS REPUDIAM

Chegaram então sua mãe e seus irmãos e, ficando do lado de fora, mandaram chamá-lo. Havia uma multidão sentada em torno dele. Disseram-lhe: “Eis que tua mãe, teus irmãos e tuas irmãs estão lá fora e te procuram”. Ele perguntou: “Quem é minha mãe e meus irmãos?” E, repassando com o olhar os que estavam sentados ao seu redor, disse: “Eis a minha mãe e os meus irmãos. Quem fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe.”



Mc 3, 31-35

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

RIO II


EXPERIÊNCIA



Quando eu dava aulas numa faculdade de certa cidade onde morei, a maior parte dos alunos que, além do curso de Letras,  também cursavam direito tinham como ídolo uma professora que se dizia de Literatura Portuguesa (uma coisa que começava com algo com que nada temos a ver, um país estrangeiro), mas que, na verdade, era mestra de História da Literatura. História da Literatura é história. Literatura é outra coisa. Como a história é aparentada com o direito, (uma velha piada diz que “história é o relato de alguma coisa que não aconteceu, feito por alguém que não estava lá”), primeiro a tese, depois os argumentos para sustentá-la, eles conseguiam entendê-la e a achavam o máximo... Os alunos inteligentes da turma morriam de rir.

RIO DE JANEIRO


FRASES DO GRANDE SERTÃO


(...) os doentes condenados: lázaros de lepra, aleijados por horríveis formas, feridentos, os cegos mais sem gestos, loucos acorrentados, idiotas, héticos e hidrópicos, de tudo: criaturas que fediam. Senhor enxergasse aquilo, o senhor desanimava. Se tinha um grande nojo.

Eu sei: nojo é invenção, do Que-Não-Há, para estorvar que se tenha dó.

RAPOSOS


UMA CASA DE DEUS E DO DIABO



Norberto BOBBIO
Nem com Marx, nem contra Marx
Roberto MACHADO
Foucault, a Filosofia e a Literatura
Creusa CAPALBO  
Fenomenologia e Hermenêutica
Richard RORTY
Objetivismo, Relativismo e Verdade  
Ernesto SABATO
A Resistência
Robert M. PIRSIG
Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas
Martin HEIDEGGER
História da Filosofia 
M. TAVARES e M. FERRO
Análise da Obra A ORIGEM DA TRAGÉDIA 
Luc FERRY
Aprender a Viver 
K. MARX e F. ENGELS
A Ideologia Alemã (I - Feuerbach)
Madel T. LUZ
Natural Racional Social  
R. DROIT
101 Experiências de Filosofia com Diana
Luc FERRY
Famílias, Amo Vocês  
Martin HEIDEGGER
Ser e Tempo
Eduardo GIANNETTI
Auto-Engano
Rubem ALVES
A Gestação do Futuro
L. H. B. HEGENBERG
Introdução à Filosofia da Ciência   
Roque LAUSCHNER
Lógica Formal
Alan CHALMERS
A Fabricação da Ciência
Jürgen HABERMAS
Consciencia Moral e Agir Comunicativo
Robert C. TUCKER
Karl Marx: Filosofia e Mito
Jean-Pierre VERNANT
O Universo, os Deuses, os Homens
M. C. L. BINGEMER
O Impacto da Modernidade sobre a Religião
Peter L. BERGER
O Dossel Sagrado 
Henri DESROCHE
O Homem e suas Religiões 
Rubem ALVES
Filosofia da Ciência 
Santa Teresa de JESUS
Castelo Interior ou Moradas 

domingo, 22 de setembro de 2013

RAPOPETROARARAS


QUE RAIO DE TROÇO É ESTE QUE ALEGRA O DIRCEU?



Afinal de contas o que é o direito? É Sociologia? É Filosofia? É História? É manual de bom comportamento para meninos bem comportados? É um tratado geral de como ser um bom escoteiro? Mas que diabo afinal é o que chamam de direito (em bom brasileiro, também se diz ‘o dereito’...).

QUITANDINHA


FRASES DO GRANDE SERTÃO

Compadre meu Quelemém é um homem fora de projetos. O senhor vá lá, na Jijujã. Vai agora, mês de junho. A estrela-d’alva sai às três horas, madrugada boa gelada. É tempo da cana. Senhor vê, no escuro, um quebra-peito — e é ele mesmo, já risonho e suado, engenhando o seu moer. O senhor bebe uma cuia de garapa e dá a ele lembranças minhas. Homem de mansa lei, coração tão branco e grosso de bom, que mesmo pessoa muito alegre ou muito triste gosta de poder conversar com ele. 

PRÉDIO


A BÍBLIA SAGRADA


Eu, Coélet, fui rei de Israel em Jerusalém. Coloquei todo o coração em investigar e em explorar com a sabedoria tudo o que se faz debaixo do céu. É uma tarefa ingrata que Deus deu aos homens para com ela se atarefarem. Examinei todas as obras que se fazem debaixo do sol. Pois bem, tudo é vaidade e correr atrás do vento!

O que é torto não se pode endireitar;
o que está faltando não se pode contar.

Pensei comigo: aqui estou eu com tanta sabedoria acumulada que ultrapassa a dos meus predecessores em Jerusalém; minha mente alcançou muita sabedoria e conhecimento. Coloquei todo o coração em compreender a sabedoria e o conhecimento, a tolice e a loucura, e compreendi que tudo isso é também procura do vento.

Muita sabedoria, muito desgosto;

quanto mais conhecimento, mais sofrimento.



Ecl 1, 12-18

sábado, 21 de setembro de 2013

PEUGEOT


ADEVOGADOS



Todo advogado, além de ser cheio de tiques profissionais, na linguagem, nos movimentos dos lábios e nos gestos, é burro. Conseqüência de tratarem de coisas humanas, concretas, com a teoria abstrata, erguida nas nuvens, com que “trabalham”.

PETRÓPOLIS PRAÇA DA LIBERDADE


FRASES DO GRANDE SERTÃO

Raciocinei isso com compadre meu Quelemém, e ele duvidou com a cabeça: — “Riobaldo, a colheita é comum, mas o capinar é sozinho...” — ciente me respondeu.

PETRÓPOLIS TOUR


TRIBUNA LIVRE


E todavia a trave na garganta,
E a grossa mão medrosa em poder
interpretar sequer a ave que canta
e canta e canta oculta no meu ser.

Há uma santa presença (sei que é santa)
Deus, ó Deus, Tu pretendes submeter-me
a mim morosa lesma, Tu minha anta,
seta de luz e luz de incandescer.

E a mão grossa vagando a Teu sabor
sem poder-Te seguir pobre mão, pobre
pata calosa atenta em teu louvor.

E tão suja na pele em que se cobre,
imitação de Ti, sombra, arremedos

da luz que se desprende de Teus dedos.


Jorge de Lima
Livro de Sonetos

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

PETRÓPOLIS RIO NEGRO


DIREITO



O direito é assim: o sujeito estabelece uma tese e, depois, sai catando, aqui e ali, os argumentos que possam sustentá-la. É a anti-ciência em pessoa. É a própria. Um bom exemplo literário é o Dom Casmurro, de Machado de Assis.

PETRÓPOLIS NATAL


FRASES DO GRANDE SERTÃO


Às vezes eu penso: seria o caso de pessoas de fé e posição se reunirem, em algum apropriado lugar, no meio dos gerais, para se viver só em altas rezas, fortíssimas, louvando a Deus e pedindo glória do perdão do mundo. Todos vinham comparecendo, lá se levantava enorme igreja, não havia mais crimes, nem ambição, e todo sofrimento se espraiava em  Deus , dado logo, até à hora de cada uma morte cantar. 

PETRÓPOLIS E SUAS ENTRANHAS


UM APRENDIZ DE FEITICEIRO


geonal

em trilhos de ar
cavalos equânimes
percorrem os trópicos:
capricórnio e câncer

na areia solar
lontras sonolentas
cozem-se e agaves
tecem meridianos
de conchas e pérolas

na água do mar
líricos antílopes
estupram espumas
e apostam com algas
marrom maratona

no fosco olhar
é circo geral
de seres e peças
em noite de gala
do tédio real.


1958