sábado, 21 de setembro de 2013

TRIBUNA LIVRE


E todavia a trave na garganta,
E a grossa mão medrosa em poder
interpretar sequer a ave que canta
e canta e canta oculta no meu ser.

Há uma santa presença (sei que é santa)
Deus, ó Deus, Tu pretendes submeter-me
a mim morosa lesma, Tu minha anta,
seta de luz e luz de incandescer.

E a mão grossa vagando a Teu sabor
sem poder-Te seguir pobre mão, pobre
pata calosa atenta em teu louvor.

E tão suja na pele em que se cobre,
imitação de Ti, sombra, arremedos

da luz que se desprende de Teus dedos.


Jorge de Lima
Livro de Sonetos