E
todavia a trave na garganta,
E
a grossa mão medrosa em poder
interpretar
sequer a ave que canta
e
canta e canta oculta no meu ser.
Há
uma santa presença (sei que é santa)
Deus,
ó Deus, Tu pretendes submeter-me
a
mim morosa lesma, Tu minha anta,
seta
de luz e luz de incandescer.
E
a mão grossa vagando a Teu sabor
sem
poder-Te seguir pobre mão, pobre
pata
calosa atenta em teu louvor.
E
tão suja na pele em que se cobre,
imitação
de Ti, sombra, arremedos
da
luz que se desprende de Teus dedos.
Jorge de Lima
Livro de Sonetos