quarta-feira, 31 de julho de 2013

CONGONHAS


OS NOVOS INCONFIDENTES


BANIMENTO  (CONT.)

Samuel Aarão Reis
Shismo Osawa
Sônia Regina Yessin Ramos
Takao Amano
Tânia Regina Rodrigues Fernandes
Tercina Dias Oliveira
Tito de Alencar Lima
Ubiratan de Souza
Ubiratan Vatutin Borges Kertzscher
Umberto Trigueiros Lima
Valneri Neves Antunes
Vera Maria Rocha Pereira
Vera Sílvia Araújo Magalhães
Wânio José de Mattos
Washington Alves da Silva
Wellinton Moreira Diniz
Wílson do Nascimento Barbosa
Wladimir Gracindo Palmeira

CASSAÇÃO DE APOSENTADORIA

Aparício Alves do Amaral
Fernando Juarez Ramos
Fernando Vaz Gondim de Oliveira
Francisca Matias da Paz
Geraldo Campos
Gilberto Antunes Shauvet
Glower Leônidas Coelho de Souza
Hugolino Pinheiro dos Santos  
Jorge Gomes
Maria José Silvestre de Faria
Raimundo Nonato Maia
Sílvio de Carvalho Santos
Waldymir Freire Pereira
Walmique Vieira Domingues

CASSAÇÃO DE DISPONIBILIDADE

Maria Nazareth Cunha da Rocha

CASSAÇÃO DE MANDATO


Aarão Steinbruch

terça-feira, 30 de julho de 2013

RAPOSOS


OS INCONFIDENTES


ASSENTADA

Aos dezoito dias do mês de junho de mil e setecentos e oitenta e nove anos, nesta Vila Rica de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto, em casas de residência do Desembargador Pedro José Araújo de Saldanha, Ouvidor Geral e Corregedor desta Comarca, onde eu, o Bacharel José Caetano César Manitti, Ouvidor e Corregedor da do Sabará, Escrivão nomeado para esta diligência pelo Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Visconde de Barbacena, Governador e Capitão General desta Capitania, fui vindo; e sendo aí, pelo dito Ministro, foram inquiridas e perguntadas as testemunhas abaixo declaradas, das quais seus ditos nomes, naturalidades, moradas, ofícios, idades e costumes são os que ao diante se seguem, do que para constar fiz este termo; e eu, o Bacharel José Caetano César Manitti, Escrivão nomeado, o escrevi.

Testemunha 2ª
O Padre Francisco Vidal de Barbosa, natural da freguesia de Nossa Senhora da Glória, chamada do Caminho Novo, Comarca do Rio das Mortes, Bispado de Mariana, morador na Fazenda denominada do Juiz de Fora, que vive de suas ordens, de idade de trinta e dois anos, testemunha a que o dito Ministro deferiu o juramento dos Santos Evangelhos em um livro deles, em que pôs a sua mão direita, sob cargo do qual lhe encarregou jurasse a verdade do que soubesse e lhe fosse perguntado, o que assim prometeu fazer como lhe era encarregado.

E perguntado ele, testemunha, pelo conteúdo no Auto desta Devassa, que todo lhe foi lido, disse que sabe por ouvir dizer, sem que se lembre a quem , e depois da prisão do Alferes Joaquim José da Silva Xavier no Rio de Janeiro, que Domingos Peres, homem do Caminho, havia dito que o mesmo Alferes, encontrando-o naquela cidade e perguntando-lhe que gêneros conduzia para estas Minas, lhe recomendou e aconselhou que trouxesse também pólvora e sal, que era o de que mais cá se carecia; e que o mesmo tinha dito a outras várias pessoas da mesma cidade; e mais não disse, nem dos costumes; e depois de lido o juramento, assinou com o dito Ministro e eu, José Caetano César Manitti, Escrivão nomeado, o escrevi.

Saldanha ­― Pe. Francisco Vidal de Barbosa


Autos de Devassa da Inconfidência Mineira  - vol. 1
Câmara dos Deputados / Governo do Estado de Minas Gerais

1976.

CABO FRIO


EMANUEL E FEDERICO


E a gente, bom povo. Não falavam mole, como os do Centro, nem assurdado remancheado feito os do Alto-Oeste, sua terra. Falavam limpo, duro. Eram diversos. Povo alegre, ressecado. Manuelzão era que, no meio deles, às vezes se sentia mais capiau. E, no começo, ele mais sua meia-dúzia de pessoal trazido do Maquiné, quase que muita coisa não entendiam bem, quando aqueles dali falavam. Linguajar com muitas outras palavras: em vez de “segunda-feira”, “terça-feira”, era “desamenhã é dia-de-terça, dia-de-quarta; em vez de “parar”, só falavam “esbarrar” ― parece que nem sabiam o que é que “parar” significava; em vez de dizerem “na frente, lá, ali adiente”, era “acolá, e “acolá-em-cima”; e “p’r’acolá”, e “acoli, p’r’ acoli ― quando era para trás, ou ali adiente de lado... Estimavam por demais o nhambu, pássaro que tratavam com todo carinho, que diziam assim: “a nhambuzinha”... Gente de boa razão, seja com o chapéu-de-couro seja com chapéu de seda de buriti ―  eles não se importavam muito com as maldades do tempo. Manuelzão nos usos deles já se ajeitava. Aquele poder de gente, por ali, chegando para a festa, todos o olhavam com admiração e aspeto. Mundo grande! Mas, ainda muito maior, quando a gente podia estar em sua casa, e os outros vinham, empoeirados de sete maneiras, por estradas sertanias ― e pediam um café, um gole d’água. Cada um tinha visto muita coisa, e só contava o que valesse. ― “Lá chove, e cá corre...” A gente mesmo, na estrada, não acostuma com as coisas, não dá tempo. Para bem narrar uma viagem, quase que se tinha necessidade de inventar a devoção de uma mentira. E gabar mais os sofridos ― que de si já eram tantos. ― “Eh, mundão! Quem me mata é Deus, que me come é o chão!...” ― como no truque. Arre, o ruim, o duro da vida, é da gente. Não se destroca. Tudo tinha de ir junto. Como no canto do vaqueiro:

“― Eu mais o meu companheiro
vamos bem emparelhados:
eu me chamo Vira-Mundo,
e ele é Mundo-Virado...”  

Que nem o velho Camilo, até vinha à idéia. Por que era que ele, Manuelzão, derradeiramente, reparava tanto no velho Camilo? Quem dirá, afora mesmo ele, somente o velho Camilo estaria advertindo em sua mãe, senhora, enterrada lá no alto, pegado à capelinha ― mas as alma dela, seu entender de tudo, parava era no Céu. Embora, o sentimento por dentro, que Manuelzão pensava, era o de um sendo-sucedido estúrdio: que esse velho Camilo, no diário dos dias, ali na Samarra, se pertencia justo, criatura trivial; mas, agora, descabido no romper da festa, ele perdia o significado de ser ― semelhava um errante, quase um morto. Porque, assim, clareada uma festa, o velho Camilo se demonstrava a pessoa separada no desconforme pior: botada sozinha no alto da velhice e da miséria.


João Guimarães Rosa
Uma Estória de Amor
(Festa de Manuelzão)
Corpo de Baile, I. José Olympio.

Rio de Janeiro. 1ª edição. 1956.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

ENTRE RIOS DE MINAS


O QUE JESUS ENSINOU E OS CRISTÃOS REPUDIAM


Ora, os fariseus e alguns escribas vindos de Jerusalém se reúnem em volta dele. Vendo que alguns de seus discípulos comiam os pães com mãos impuras, isto é, sem lavá-las ― os fariseus, com efeito, e todos os judeus, conforme a tradição dos antigos, não comem sem lavar o braço até o cotovelo, e, ao voltarem da praça pública, não comem sem antes se aspergir, e muitos outros costumes que observam por tradição: lavação de copos, de jarros, de vasos de metal ― os fariseus e os escribas o interrogam: “Por que não se comportam os teus discípulos segundo a tradição dos antigos, mas comem o pão com mãos impuras?” ele lhes respondeu: “Bem profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como está escrito:

Este povo honra-me com os lábios,
mas o seu coração está longe de mim.
Em vão me prestam culto;
as doutrinas que ensinam são apenas mandamentos humanos.

Abandonais o mandamento de Deus, apegando-vos à tradição dos homens”.



Mc 7, 1-8

terça-feira, 16 de julho de 2013

NÃO É MOTOR DE TUDO E NOSSA ÚNICA / FONTE DE LUZ, NA LUZ DE SUA TÚNICA?


OS AMANTES

Quem os vê andar pela cidade
se todos estão cegos?
Eles se tomam as mãos: algo fala
entre seus dedos, línguas doces
lambem a úmida palma, correm pelas falanges,
e acima a noite está cheia de olhos.

São os amantes, sua ilha flutua à deriva
rumo a mortes na relva, rumo a portos
que se abrem nos lençóis.
Tudo se desordena por entre eles,
tudo encontra seu signo escamoteado;
porém eles nem mesmo sabem
que enquanto rodam em sua amarga arena
há uma pausa na criação do nada,
o tigre é um jardim que brinca.

Amanhece nos caminhões de lixo,
começam a sair os cegos,
o ministério abre suas portas.
Os amantes cansados se fitam e se tocam
uma vez mais antes de haurir o dia.

Já estão vestidos, já se vão pela rua.
E só então,
quando estão mortos, quando estão vestidos,
é que a cidade os recupera hipócrita
e lhes impõe os seus deveres quotidianos.


Julio Cortázar

tradução de José Jeronymo Rivera

sábado, 13 de julho de 2013

SÃO PAULO


UM APRENDIZ DE FEITICEIRO


TREVAS

Um dia nada mais será
do que foi em Rio Acima a família dos Simões.
Ninguém mais se lembrará
de Manuel Simões Loureiro,
de Geraldo Simões Loureiro
ou de Éder Simões.
Dona Maria de Lourdes, quem saberá?

No entanto, foi ali que nós vivemos,
ali cantamos nosso cântico, nossa dor.
Foi ali que celebramos nossos ritos.

Viajante que passas pela estrada,
Chora a morte que feriu os nossos nomes.
Mas olha: de chorar também é o teu destino,
desenhado aos poucos nos teus passos,
que para igual negrume se encaminham.



20/09/74.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

RIO DE JANEIRO


OTELO E SANT'IAGO


SEM FALTA

Quando voltei a casa era noite. Vim depressa, não tanto, porém, que não pensasse nos termos em que falaria ao agregado. Formulei o pedido de cabeça, escolhendo as palavras que diria e o tom delas, entre seco e benévolo. Na chácara, antes de entrar em casa, repeti-as comigo, depois em voz alta, para ver se eram adequadas e se obedeciam às recomendações de Capitu: “Preciso falar-lhe, sem falta, amanhã; escolha o lugar e diga-me”. Proferi-as lentamente, e mais lentamente ainda as palavras sem falta, como para sublinhá-las. Repeti-as ainda, e então achei-as secas demais, quase ríspidas, e, francamente, impróprias de um criançola para um homem maduro. Cuidei de escolher outras, e parei.

Afinal disse comigo que as palavras podiam servir, tudo era dizê-las em tom que não ofendesse. E a prova é que, repetindo-as novamente, saíram-me quase súplices. Bastava não carregar tanto, nem adoçar muito, um meio-termo. “E Capitu tem razão, pensei, a casa é minha, ele é um simples agregado. Jeitoso é, pode muito bem trabalhar por mim, e desfazer o plano de mamãe.”


Machado de Assis

Dom Casmurro

quarta-feira, 10 de julho de 2013

PRETO & BRANCO


PANEM NOSTRUM


ENCARNAÇÃO

Carnais, sejam carnais tantos desejos.
Carnais, sejam carnais tantos anseios,
Palpitações e frêmitos e enleios,                                     
Das harpas da emoção tantos harpejos.

Sonhos, que vão, por trêmulos adejos,
À noite, ao luar, intumescer os seios
Lácteos, de finos e azulados veios
De virgindade, de pudor, de pejos...

Sejam carnais todos os sonhos brumos
De estranhos, vagos, estrelados rumos
Onde as Visões do amor dormem geladas...

Sonhos, palpitações, desejos e ânsias
Formem, com claridades e fragrâncias
A encarnação das lívidas Amadas!


Cruz e Sousa

Broquéis

AS HOMENS, OU DE COMO AS FALES E O PETÊ SÃO ESTÚPIDOS...


A poeta, pois senão estaremos depreciando o bardo (ou seria a barda?) de saias. É mais ou menos assim como se estivéssemos menosprezando as mulheres por não as chamar de as homens... Aí vem a presidenta, a gerenta...


Isto tudo é uma mistura das Faculdades de Letras, do feminismo e do politicamente correto do petê... Como este país é estúpido!...

CORDISBURGO


G. RAMOS


Procurei um mictório nas paredes lisas, cheguei-me à porta, desci à calçada, passei em frente do manequim teso, sem me decidir a perguntar-lhe quantos metros o fio que me amarrava poderia estender-se: provavelmente, nas funções de espantalho, a criatura emudecia. Avizinhei-me do pátio coberto de manchas de sombra e luz. Regressei ao cabo de um minuto, busquei o lavatório, achei uma pequena moringa e um copo. A higiene satisfazia-se com isso. Voltei a estender-me no colchão, fatigado, cochilei algum tempo, confundi o real e o imaginário, os olhos protegidos pela aba do chapéu. Despertava, fumava, distinguia o estafermo e o fuzil, imaginava, olhando-os de perto, vendo a carranca e o brilho do metal, que haviam sido ali postos para amedrontar-me. Recurso infantil: conjecturei crianças barbadas, ingênuas e maliciosas. O pobre homem devia estar cansado. Seria o mesmo do começo ou teria vindo outro durante os cochilos? Havia-me escapado a substituição. Também me escapavam próximos rumores possíveis: gemidos do vento nas árvores do pátio, a marcha lenta da ronda. Realmente não me lembro de árvores nem da ronda: isto é suposição. Esqueci pormenores, ou não os observei.

Ter-me-ia revelado inquieto? Pouco me importava o conceito que a sentinela pudesse ter dos meus movimentos excessivos, nem me ocorria que o infeliz, tão parado, tivesse conceitos. Mas na verdade a inquietação era puramente física: difícil permanecer num lugar; precisão de levantar-me, sentar-me, deitar-me, fumar; a ligeira sonolência perturbada vezes sem conta e a leitura das mesmas páginas de José Geraldo Vieira. Parecia-me faltar a um dever. Habituara-me a ler todos os livros que me remetiam, ali estavam três a desafiar-me em longa insônia, e era-me impossível fixar a atenção neles. As idéias partiam-se a cada instante, desagregavam-se. Picadas no estômago. Fome. Não, não era fome: nem conseguiria mastigar qualquer coisa. Só pensar em comida me dava enjôo. Interiormente achava-me tranqüilo. Ou antes, achava-me indiferente. Sumia-se até a curiosidade inicial. Que peça me iriam pregar no dia seguinte? Julgo que não perguntei isso. Realmente era desagradável continuar naquela saleta nua, a procurar nas paredes um lavatório e um mictório inexistentes. Mas noutro canto arranjar-me-ia. Operava-se assim, em poucas horas, a transformação que a cadeia nos impõe: a quebra da vontade. E não me espantei quando, manhãzinha, me vieram tirar de uma leve modorra:

― Prepare-se para viajar.

Saltei da cama; utilizando o copo e a moringa, escovei os dentes, lavei o rosto, molhei os cabelos; penteei-me, agarrei a valise e os três volumes:

― Está bem.


Graciliano Ramos
Memórias do Cárcere
1º volume. Viagens.
(obra póstuma).
José Olympio. Rio de Janeiro.

1ª edição. 1953.

domingo, 7 de julho de 2013

CONHECENDO PETRÓPOLIS


CONGONHAS MG


OS NOVOS INCONFIDENTES


BANIMENTO  (cont.)

Jorge Raymundo Nahas
José Araújo Nóbrega
José Dirceu de Oliveira e Silva
José Duarte dos Santos
José Ibraim
José Lavechia
José Ronaldo Tavares de Lira e Silva
Jovelina Tonello do Nascimento
Júlio Antônio Bittencourt Almeida
Ladislas Dawbor
Liszt Benjamim Vieira
Lúcio Flávio Uchoa Regueira
Luiz Alberto Barreto Leite Sanz
Luiz Travassos
Manoel Dias do Nascimento
Mara Curtiss Alvarenga
Marco Antônio Azevedo Mayer
Marcos Antônio Maranhão Costa
Maria Augusta Ribeiro Carneiro
Maria Auxiliadora Lara Barcelos
Maria do Carmo Brito
Maria José de Carvalho Nahas
Maria Nazareth Cunha da Rocha
Mario Roberto Galgardo Zanconato
Maurício Vieira Paiva
Maurina Borges da Silveira
Melchíades Porcino da Costa
Murilo Pinto da Silva
Nancy Mangabeira Unger
Nélson Chaves dos Santos
Octávio Ângelo
Onofre Pinto
Oswaldo Antônio dos Santos
Oswaldo Soares
Otacílio Pereira da Silva
Paulo Roberto Alves
Paulo Roberto Telles Franck
Pedro Alves Filho
Pedro Chaves dos Santos
Pedro França Viegas
Pedro Lobo de Oliveira
Pedro Paulo Bretas
Rafael de Falco Neto
Reinaldo Guarany Simões
Reinaldo José de Melo
Ricardo Villas Boas Sá Rêgo
Roberto Cardoso Ferraz do Amaral
Rolando Prattes
Ronaldo Dutra Machado
Roque Aparecido da Silva


Publicação da Câmara dos Deputados
em homenagem às vítimas da ditadura

eclesiástico-empresarial-udeno-militar

sexta-feira, 5 de julho de 2013

SE SEU DONO MANDAR...



Mexeu com a Bolívia, mexeu conosco, sul-americanos!

Deprimente o espetáculo de servilismo aos americanos, dado pelos países europeus, no caso do vôo de retorno do Presidente Evo Morales, da Bolívia.

Se seu mestre mandar, obedeceremos todos...

Existe Esquerda na Europa? Eu penso que não: continuam todos contaminados pelo vírus do nazi-fascismo, que parece fazer parte do seu DNA.
                                       
Enriqueceram matando e roubando todo o resto do mundo, sempre obedientes, no entanto, ao mestre de plantão, papas, imperadores, ditadores, a Alemanha, ou a Inglaterra. Sempre obedientes.

De todos eles eu destaco Portugal, Espanha e França. Portugal e Espanha subjugados, até há pouco,  pelas ditaduras beatas, carolas, de um onanista e de um carrasco. Sempre em nome de Deus. E nenhum protesto significativo, por quarenta anos, da parte de dois povos covardes, que só foram valentes contra os índios, os astecas, os maias, os incas e os negros. Sempre em nome de Deus... Até que aparecessem os nossos heróis e libertadores, Tiradentes, San Martin, Bolívar, O'Higgins. A eles, a esses países, o meu desprezo e, no caso de Portugal, a atitude assumida por um personagem negro de Autran Dourado: “A partir de hoje, eu só falo em nagô.” A minha língua a partir de hoje é o Brasileiro, e que Portugal, com o português ridículo dos seus Manuéis e seus Joaquins, seus sub-escritores e sub-poetas, vá pro diabo!

Quanto à França, que sempre subjugou povos fracos e selvagens ou semi-selvagens, com o seu catolicismo hipócrita, que se lembre sempre da humilhação suprema dos soldados alemães na Segunda Guerra Mundial, dizendo, ao passarem em suas motos pelos militares franceses, desbaratados, perdidos: “Pra casa!, pra casa! O que vocês estão fazendo aqui?” Ou, ainda, da humilhação maior, a surra que levaram de um dos povos mais pobres, embora o mais valente de todos, os vietnamitas.


Há um petisco razoavelmente atraente para nós, sul-americanos, aqui bem próximo. A Guiana “francesa” não perde por esperar...  

quinta-feira, 4 de julho de 2013

RAPOSOS


OS INCONFIDENTES


Passados porém alguns dias, e chegando ele, testemunha, de fora, lhe disse um dos seus escravos que ali estava o Tenente-Coronel do Regimento Pago, Francisco de Paula Freire de Andrada; e entrando ele, testemunha, a cumprimentá-lo no quarto onde se achava, observou que se tratava da matéria do levante, que o dito Tenente-Coronel e ele, testemunha, sumamente estranharam; e ouvindo então dizer àqueles ditos Alferes e Padre José da Silva, que no caso de se efetuar o seu projeto devia ser logo morto o Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Visconde General, e que do mesmo voto eram o Desembargador Tomás Antônio Gonzaga e o Coronel Inácio José de Alvarenga, segundo a sua presente lembrança, os quais se explicaram assim: “Que enquanto ao General, cabecinha fora, cabecinha fora”. Ele, testemunha, e o dito Tenente-Coronel se opuseram com todas as forças a semelhante desígnio; e se retirou também logo ele, testemunha. Depois desta passagem, decorrendo algum tempo, tornaram aqueles loucos, dito Alferes e Padre José da Silva, a falar a ele, testemunha, convidando-o para mandar vir alguns barris de pólvora a fim de que todos concorressem para aquela ação que já lhe tinham relatado, e toda sumamente se dirigia à felicidade e bem público; ao que respondeu constantemente ele, testemunha, que em tal não convinha, nem consentia que o seu nome interviesse em semelhante desordem; e só declara que, quando aquele Alferes se retirou ultimamente desta Capital para a Cidade do Rio de Janeiro, lhe emprestou ele, testemunha, cem mil réis para suas despesas; e cinqüenta oitavas ao Coronel Alvarenga, quando também se ausentou para o Rio das Mortes; de que ambos lhe passaram os créditos que devem existir entre os seus papéis, onde os oferece em prova desta verdade. Além de todo o referido, ouviu ele, testemunha, ao dito Alferes Joaquim José da Silva e Padre José da Silva, sobre o plano que se tinha disposto, que pretendiam levantar a Casa de Moeda e que o ouro corresse a mil e quinhentos; e que não saísse mais para o exterior o dinheiro que se achasse no Erário desta Capital; que assim o diziam o Coronel Alvarenga e o Vigário de São José. Que em casa do Desembargador Gonzaga se formavam as leis para o governo da nova república, onde residiam o dito Vigário e Alvarenga, que eram os mais fortes partidistas da rebelião, sendo o primeiro cabeça dela o dito Alferes Joaquim José, o qual dizia que ele, Alvarenga e o dito Tenente-Coronel Francisco de Paula haviam de ser os heróis da ação, pois defendiam a sua pátria; que os mazombos também valiam e sabiam governar; e que, produzindo a sua terra tantos haveres, eles existiam sempre pobres, por lhes tirarem tudo para fora; que por isso se arrojavam a resgatá-la e a pô-la em liberdade, para cujo efeito só esperavam a oportuna ocasião em que se lançasse a derrama; pois as Minas a não podiam pagar e que tudo lhe tiravam para o Reino. Que a capital se havia de mudar para São João del Rei, por ser aquela Vila mais bem situada e farta de mantimentos; e que nesta se haviam de abrir estudos como em Coimbra, em que também se aprendessem as leis.

Além disto, ouviu mais ele, testemunha, ao dito Alferes Tiradentes, que tinha também convidado para a mesma sublevação o Tenente de Dragões Antônio Agostinho Lobo Leite Pereira, o qual respondera que estava pronto, que também era mazombo, e que voltando seu sobrinho, o Sargento-Mor Vasconcelos, do Destacamento onde se achava, também o havia de convidar. Do mesmo modo lhe disseram, o referido Alferes e Padre José da Silva, que tinham falado ao Capitão Antônio José de Araújo. ao Tenente José Antônio de Melo, e ao Alferes Matias Sanches; e o Padre José da Silva disse a ele, testemunha, que também tinha falado, ou havia de falar, no que não está bem certo, ao Alferes Antônio Gomes Meireles, para, no caso de se efetuar o levante, ajudar-lhe da parte do Serro do Frio, certificando-lhe, o mesmo Padre e dito Alferes, que já tinham igualmente falado ao Capitão Brandão para aquele efeito; e que do mesmo modo se achava prevenido pelo mencionado Alferes o outro Capitão, Maximiano; acrescentando o dito Tiradentes que para o levante estava pronta parte da tropa paga, ainda soldados e povo; e que também se aprontava artilharia, sendo preciso; e todo o mais trem e armas que existiam no armazém, como se tinha assentado; encarregando-se o Vigário de São José de mandar vir algum socorro de São Paulo, quando fosse necessário. Sendo tudo o que fica relatado o que ele testemunha sabe e de que presentemente se lembra sobre esta matéria; e mais não disse, e aos costumes declarou ser compadre do Alferes Joaquim José da Silva, por ter batizado uma menina que lhe disse ser sua filha; e assinou com o dito Ministro, depois de lhe ser lido este seu juramento e o achar conforme; e eu, o Bacharel José Caetano César Manitti, Escrivão nomeado, o escrevi.


Saldanha ― Domingos de Abreu Vieira

quarta-feira, 3 de julho de 2013

CABO FRIO


EMANUEL E FEDERICO

Manuelzão, como os dois campeiros escutava, não conseguia ser mais forte do que aquelas novidades. ―  “Estória!” ― ele disse, então. Pois, minhamente: o mundo era grande. Mas tudo ainda era muito maior quando a gente ouvia cantada a narração dos outros, de volta de viagens. Muito maior do que quando a gente mesmo viajava, serra-abaixo-serra-acima, quando a maior parte do que acontecia era cansativo e dos tristonhos, tudo trabalho empatoso, a gente era sofrendo e tendo de aturar, que nem um boi, daqueles tangidos no acerto escravo de todos, sem soberania de sossego. A vida não larga, mas a vida não farta. Só se feito a João Urúgem, revertido ao sempre, cabelama caindo pelos ombros, o nu, as unhas. Para esse o tempo podia passar, que não adiantava. Quieto num canto, virado bicho. Mas um existir assim os olhos dos outros não mediam. Ele, Manuel J. Roíz, vivera lidando com a continuação, desde o simples de menino. Varara nas águas. Boiadeiro em cima da sela, dando altas despedidas, sabendo saudade em beira de fogo, frias noites, nos ranchos. Até para sofrer, a gente carece de quietação. Para sofrer com capricho, acondicionado, no campo de se rever. Viageiro vai adiando. Só o medo da miséria do uso ― um medo constante, acordado e dormindo, anoitecendo, amanhecendo. Já o pai de Manuelzão tinha sido roceiro, pobrezinho, no Mim, na Mata. Todas terras tão diferentes, tão longe daqui, tão diferente tudo, muita qualidade dos bichos, os paus, os pássaros. Mas o pai de Manuelzão concordava de ser pobre, instruído nas resignações; ele trabalhava e se divertia olhando só para o chão, em noitinha sentava para fumar um cigarro, na porta da choupana, e cuspia muito. Tinha medo até do Céu. Morreu.

De desde menino, no buraco da miséria. Divisou a lida com gado, transitar as boiadas. Mas, agora, viera bem chegado, àquele aberto sertão, onde havia de se acrescentar, onde esquecia os passados. ― “Lá é Cristo, e cá é isto...” Tinha a confiança de Federico Freyre, era expedito no leal. Tinha vindo em oco: ― “E desci cá p’ra baixo, como se diz, como diz o negócio: pedindo e roubando...” Mas ali trabalhava, lei de seu bom sentir. E prosperava. ― “Nós já espichemos por aí uns duzentos, trezentos rolos de arame...” Mais havia de redondear aquilo, fazenda grande confirmada. Cerca de arame de três fios; e levavam gado. Com a banda boa da sorte. Sorte: a Capelinha e esta Festa davam a melhor prova!

Sertão. O lugar era bonito. O céu subia mais ostentoso, mais avistado do que na Mata do Oeste, azuloso com uns azinhavres, ali o céu parecia mesmo o Céu, de Deus, dos Anjos. E o pasto reinava bom, sem carrapatos, sem moscas de berne, sem pragas. Ao bater daquela enorme luz, o ar um mar seco. Em setembro ou outubro, o gado aqui estava mais gordo do que no Maquiné; porque os fracos, mesmo, morriam logo. O frio se engrossava bom, fazia para a saúde.


João Guimarães Rosa
Uma Estória de Amor
(Festa de Manuelzão)
José Olympio. Rio de Janeiro.

1ª edição. 1956.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

ENTRE RIOS DE MINAS


O QUE JESUS ENSINOU E OS CRISTÃOS REPUDIAM


Jesus então dirigiu-se às multidões e aos seus discípulos: “Os escribas e fariseus estão sentados na cátedra de Moisés. Portanto, fazei e observai tudo quanto vos disserem. Mas não imiteis suas ações, pois dizem mas não fazem. Amarram fardos pesados e os põem sobre os ombros dos homens, mas eles mesmos nem com um dedo se dispõem a movê-los. Praticam todas as suas ações com o fim de serem vistos pelos homens. Com efeito usam largos filactérios e longas franjas. Gostam do lugar de honra nos banquetes, dos primeiros assentos nas sinagogas, de receber as saudações nas praças públicas e de os homens lhes chamarem ‘Rabi’.

Quanto a vós, não permitais que vos chamem ‘Rabi’, pois um só é o vosso Mestre e todos vós sois irmãos. A ninguém na terra chameis ‘Pai’, pois só tendes o Pai Celeste. Nem permitais que vos chamem ‘Guias’, pois um só é vosso guia, Cristo. Antes, o maior dentre vós será aquele que vos serve. Aquele que se exaltar será humilhado, e aquele que se humilhar será exaltado.



Mt 23, 1-12