sexta-feira, 28 de junho de 2013

A ARMADILHA


A armadilha, como a chamaram os jornais, em que caiu e morreu um jovem trabalhador, além de várias outras quedas com conseqüências hospitalares diversas, é uma prova contundente da inteligência dos atuais engenheiros brasileiros.

Vejo isto como conseqüência do estudo exclusivo de matemática, esta inimiga da formação integral ― lembrem-se da atitude do pai de Pascal ― e é, portanto, um elemento altamente burrificador.

Sou a favor da retirada da matéria do currículo dos estudos normais de segundo grau. Que ela vá para os cursos exclusivamente técnicos e para os cursos de engenharia.

Mais um pouco de humanismo e vidas preciosas talvez fossem salvas.

Talvez fosse bom lembrar aqui que nunca tiveram nenhuma importância para a minha vida a trigonometria e os mil e um teoremas com que me torturaram durante o meu ensino médio. Costumam dizer que o estudo de semelhante estupidez faz o aluno ficar mais inteligente. É um mito idêntico ao do xadrez. As pessoas se esquecem de que quem joga muito xadrez fica ótimo em xadrez...


(Do livro que gostaria de escrever ― Heterodoxias – Ensaios Heréticos)

ANIVERSÁRIO 2012


segunda-feira, 17 de junho de 2013

MOVIMENTO POPULAR CONTRA AS COPAS

MEU APOIO INTEGRAL AO MOVIMENTO POPULAR CONTRA AS COPAS, NESTE PAÍS DA MISÉRIA, DA FOME, DA INEXISTÊNCIA DE EDUCAÇÃO, DO DESCASO  COM A SAÚDE E COM A SEGURANÇA PÚBLICA (O BRASIL, ONDE A JUSTIÇA É UMA FARSA,  É UM DOS PAÍSES MAIS VIOLENTOS DO MUNDO).


TURISTAS DO ESPORTE, CUIDADO, SE ESTÃO PENSANDO EM VIR AO BRASIL PARA COPAS, OLIMPÍADAS, ETC. O BRASIL ESTÁ NAS RUAS CONTRA A GASTANÇA COM ESTÁDIOS MONUMENTAIS E VILAS OLÍMPICAS DE LUXO PARA IMPRESSIONAR OS COLONIALISTAS LADRÕES E ASSASSINOS.

domingo, 16 de junho de 2013

CASA E CIDADE DE PETRÓPOLIS


BELO HORIZONTE


NÃO É MOTOR DE TUDO E NOSSA ÚNICA / FONTE DE LUZ, NA LUZ DE SUA TÚNICA?



LOS AMANTES

?Quién los ve andar por la ciudad
si están todos ciegos?
Ellos se toman de la mano: algo habla
entre sus dedos, lenguas dulces
lamen la húmeda palma, corren por las falanges,
y arriba está la noche llena de ojos.

Son los amantes, su isla flota a la deriva
hacia muertes de césped, hacia puertos
que se abren entre sábanas.
Todo se desordena a través de ellos,
todo encuentra su cifra escamoteada;
pero ellos ni siquiera saben
que mientras ruedan en su amarga arena
hay una pausa en la obra de la nada,
el tigre es un jardín que juega.

Amanece en los carros de basura,
empiezan a salir los ciegos,
el ministerio abre sus puertas.
Los amantes rendidos se miran y se tocan
una vez más antes de oler el día.

Ya están vestidos, ya se van por la calle.
Y es solo entonces
cuando están muertos, cuando están vestidos,
que la ciudad los recupera hipócrita
y les impone los deberes cotidianos.



Julio Cortázar

sábado, 15 de junho de 2013

"CAUSO"

Usando uma expressão do Ancelmo, de O Globo, "causo", a respeito de Guimarães Rosa, é o cacete.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

SÃO PAULO


UM APRENDIZ DE FEITICEIRO


POEMA

Sobrenadando em espirais de sangue,
a ânfora derrama óleo e brande sabres,
lançando dardos na cruz meridional,
que dardos, porém, nesta secura
são deste cravo amargo em carne crua:
o vértice, o vórtice, a vírgula do dia
flui de branda rosa em rosa murcha
e atira a lança em pungente retrocesso
para tanger esta paixão ao meio-dia.


“Diário de Minas”, 3/5/59.

terça-feira, 11 de junho de 2013

RIO DE JANEIRO


OTELO E SANT'IAGO


SEM FALTA

Quando voltei a casa era noite. Vim depressa, não tanto, porém, que não pensasse nos termos em que falaria ao agregado. Formulei o pedido de cabeça, escolhendo as palavras que diria e o tom delas, entre seco e benévolo. Na chácara, antes de entrar em casa, repeti-as comigo, depois em voz alta, para ver se eram adequadas e se obedeciam às recomendações de Capitu. “Preciso falar-lhe, sem falta, amanhã; escolha o lugar e diga-me”; Proferi-as lentamente, e mais lentamente ainda as palavras sem falta, como para sublinhá-las. Repeti-as ainda, e então achei-as secas demais, quase ríspidas, e, francamente, impróprias de um criançola para um homem maduro. Cuidei de escolher outras, e parei.

Afinal disse comigo que as palavras podiam servir, tudo era dizê-las em tom que não ofendesse. E a prova é que, repetindo-as novamente, saíram-me quase súplices. Bastava não carregar tanto, nem adoçar muito, um meio-termo. “E Capitu tem razão, pensei, a casa é minha, ele é um simples agregado. Jeitoso é, pode muito bem trabalhar por mim, e desfazer o plano de mamãe.”


Machado de Assis

Dom Casmurro

sábado, 8 de junho de 2013

PRETO & BRANCO


PANEM NOSTRUM



Amigos, deixai-me ir tranqüilo. Vou
com uma escolta perdida. Pois, perdi-a.
Então: perdi-a. Sou exilado ou
um ser que foi. Agora para onde ia?

Nem sei, pois minha escolta regressou
vencida e sem paz. Vai longe esse dia.
Foi quando o meu destino começou
e perdi a asa que me protegia.

Amigos, deixai-me ir tranqüilo, pois,
com meu ar de sonâmbulo perdido,
guerreiro andante sem o seu cavalo.

Por que afinal sem dó sofrerem dois?
Um como um anjo inválido, banido,
e o outro (o árdego animal) a acompanhá-lo?


Jorge de Lima

Livro de Sonetos

sexta-feira, 7 de junho de 2013

CORDISBURGO


G. RAMOS


Pensando nessas coisas, desci do automóvel, atravessei o pátio, que, em 1930, vira cheio de entusiasmos enfeitados com braçadeiras vermelhas. Numa saleta, um rapaz me recebeu em silêncio, conduziu-me a outra saleta onde havia uma cama e desapareceu. O mulato fez a última viravolta e desapareceu também. À porta ficou um soldado com fuzil. Evidentemente as minhas reflexões tendiam a justificar a inércia, a facilidade com que me deixara agarrar. Se todos os sujeitos perseguidos fizessem como eu, não teria havido uma só revolução no mundo. Revolucionário chinfrim. Desculpava-me a idéia de não pertencer a nenhuma organização, de ser inteiramente incapaz de realizar tarefas práticas. Impossível trabalhar em conjunto. As minhas arma, fracas e de papel, só podiam ser manejadas no isolamento. No íntimo havia talvez o incerto desejo de provocar a nova justiça inquisitorial, perturbar acusadores, exibir em tudo aquilo embustes e patifarias. Essa vaidade tola devia basear-se na suposição de que enxergariam em mim um indivíduo, com certo número de direitos. Logo ao chegar, notei que me despersonalizavam. O oficial de dia recebera-me calado. E a sentinela estava ali encostada ao fuzil, em mecânica chateação, como se não visse ninguém.

Sentado na cama, o chapéu em cima da valise, abri com o pente as páginas dos três volumes que trouxera: Território Humano de José Geraldo Vieira, Gente Nova de Agripino Grieco e Dois Poetas de Octávio de Faria. Li a primeira folha do primeiro umas três vezes, inutilmente. Conservei esses livros muitos meses, acompanharam-me por diversos lugares, foram remoídos, esfacelaram-se, pulverizaram-se; hoje, com esforço, consigo recordar algumas passagens de um deles.

Nada afinal do que eu havia suposto: o interrogatório, o diálogo cheio de alçapões, alguma carta apreendida, um romance com riscos e anotações, testemunhas, sumiram-se. Não me acusavam, suprimiam-me. Bem. Provavelmente seria inquirido no dia seguinte, acareado, transformado em autos. Que horas seriam? Estirei-me no colchão, vestido, o livro de José Geraldo aberto sobre o estômago vazio. Em jejum desde manhã, mas isto apenas me causava uma vaga tontura e escurecia a vista. E concorria talvez para dificultar a compreensão do texto. Virando a cabeça, percebia à esquerda o soldado imóvel. Essa precaução me parecia tão burlesca e tão estúpida que interrompia a leitura vã, ria-me, apesar de tudo. Sentava-me, acendia um cigarro. Naturalmente não havia cinzeiro, esses luxos de civilização tinham desaparecido. Burlesco. Recebera a notícia ao meio-dia, lavara-me, vestira-me, lera dois telegramas desaforados, conversara só com minha mulher e com d. Irene. Tinham-me feito esperar sete horas. E ali estava com sentinela à vista. Para quê? Não era mais simples trancarem a porta? Aquele dispêndio inútil de energia corroborava o desfavorável juízo que eu formara da inteligência militar. De novo me deitava, pegava a brochura, soltava-a, cobria os olhos com o chapéu por causa da luz, tornava a levantar-me, acendia outros cigarros. Já no cimento se acumulavam pontas. Nenhum relógio na vizinhança. Apenas os indeterminados rumores noturnos da caserna: um apito, vozes remotas, confusas. O sujeito firme, encostado ao fuzil. Iria passar ali a noite, dormir em pé? Eu não tinha sono, mas ele, coitado, com certeza engolia bocejos, amolava-se; Enfim que significação tinha aquilo? Pretenderiam manifestar-me deferência, considerar-me um sujeito pernicioso demais, que era preciso vigiar, ou queriam apenas desenferrujar as molas de um recruta desocupado? Compreenderia ele que era uma excrescência , ganhava cãibras à toa, equilibrando-se ora numa perna, ora noutra? Se não fosse obrigado a desentorpecer-se e dar-me um tiro em caso de fuga, aquela extensa vigília só tinha o fim de embrutecê-lo na disciplina.


Graciliano Ramos
Memórias do Cárcere
1º volume. 1ª parte. Viagens.
José Olympio. Rio de Janeiro.

1ª edição. Obra póstuma. 1953.

OUTROS TEMPOS...


quarta-feira, 5 de junho de 2013

CONHECENDO PETRÓPOLIS


MACHADO


Entre o reino metafísico da vontade, insaciável e contínua no seu movimento, e o homem perdido na terra, sob o governo de Satanás, a coerência não se forma necessariamente no campo do pessimismo. Machado de Assis, ferido por outra trajetória, não se dobra, servilmente, ao comando de Schopenhauer. Ele, o escritor carioca, vê a cena final do homem como um baile de máscaras, quando os mascarados se retiram, calada a música, reconquistada a fisionomia real. Porque nem por ser o homem a presa do pecado, há de entregar-se só à dor. Sobre a dor o espetáculo tem a sua grandeza, diante do céu mudo e do absurdo do destino. Entre a metafísica e a ética se interpõe um espelho que retrata a luz e a converte num feixe de novas imagens. A realidade se transfigura não apenas em outro estilo, com a cor e a tonalidade diversas. Uma concepção, a concepção humorística da vida dota as coisas e os homens de um eixo novo, capaz de fazê-los circular em torno de outro centro, devorando a matéria-prima do pessimismo. Da cega vontade que domina o mundo, e, dentro dele, o homem, pode deduzir-se não só o pessimismo, como supunha Schopenhauer, mas também a sinfonia ditirâmbica da vida, como demonstraria Nietzsche. Entre uma e outra conseqüência, na encruzilhada de caminhos possíveis, o humorismo sombreia a dúvida, parecendo tudo afirmar ao tempo que tudo nega. Schopenhauer, na sua visão metafísica e especulativa, despreza as provas de felicidade do cotidiano: a felicidade não passa de momentâneo fenômeno negativo, da provisória cessação da dor. Ele viu o espetáculo e não quer enganar-se, depois do baile de máscaras só há o homem nu, dentro do universo. Para o humorista há a realidade e o espetáculo, em dualismo em que um não nega o outro, peças de um só jogo. Nem o desespero, nem a tragédia, mas o vestíbulo do desespero e da tragédia, o homem diante do absurdo, do fluir sem sentido da eternidade, na luta para perseguir valores impossíveis de se concretizarem na limitada gaiola do mundo. Se o Diabo domina a cena, isto sugere que o seu contrário está presente, insinuando que perdeu o comando da alma humana, com a dilaceração dos ideais. Melancólico ou burlesco, Swift ou Rabelais, há lugar, na visão humorística da vida, para todos os temperamentos. A terra que alimenta a planta tem muitos elementos ―  pessimismo, ceticismo, otimismo ―, mas a árvore é uma só. No eterno vir-a-ser da vida, busca o humorista as formas permanentes, conceitos, idéias, valores, para, sentindo-os viver, descobrir a inanidade de tudo, na carência dos fins, na nudez da paisagem. O pretensioso rei da criação percebe que a fantasmagoria é infinita, graças à minuciosa análise que tudo decompõe, deixando as engrenagens à vista, na incoerência universal. O mundo se despe de sua solenidade, varrido por dois furacões opostos, a chama perene que o faz vibrar e o pequeno capricho que ergue o homem do pó à ilusão. A espada de Napoleão vale tanto, ou menos, do que o espadim que alimenta a vaidade do menino ou dos graves senhores do mundo (M.P., XII). A dor universal e a universal bondade de todas as coisas, nessa perspectiva de contrários, se entredevoram. No final, visto o mundo dentro do baile de máscaras, “todas as coisas são boas, omnia bona” (Q. B., X). À luz das estrelas indiferentes, só há figurantes enganados, para os quais a terra foi inventada para o recreio do homem. Só há uma desgraça, para quem se compraz com a festa, e é não nascer (M. P., CXVII). “Ânimo, Brás Cubas, não me seja palerma. Que tens tu com essa sucessão de ruína a ruína ou de flor a flor? Trata de saborear a vida; e fica sabendo que a pior filosofia é a do choramingas que se deita à margem do rio para o fim de lastimar o curso incessante das águas. O ofício delas é não parar nunca; acomoda-te com a lei e trata de aproveitá-la (M. P., CXXXVII). O nada, que espera o grande lascivo, tem a sua volúpia, mais do que a negação da dor, a própria felicidade de quem vê e não se revolta com o espetáculo. Dentro da casca do riso não há só a dor, também dentro da casca da dor pode haver o riso, no dualismo inconciliável da contemplação humorística da terra, de sua força e da sua miséria.


Raymundo Faoro
Machado de Assis:
A Pirâmide e o Trapézio
Globo. Rio de Janeiro.

3ª edição. 1988.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

OS NOVOS INCONFIDENTES


BANIMENTO

Aderval Alves Coqueiro
Afonso Celso Lana Leite
Afonso Junqueira de Alvarenga
Almir Dutton  Ferreira
Altair Lucchesi Campos
Aluízio Ferreira Palmar
Ângelo Pezzuti da Silva
Antõnio Expedito Carvalho Pereira
Antônio Rogério Garcia Silveira
Antônio Ubaldino Pereira
Apolônio Pinto de Carvalho
Argonauta Pacheco da Silva
Aristenes Nogueira de Almeida
Armando Augusto Vargas Dias
Bruno Dauster Magalhães e Silva
Bruno Piola
Carlos Bernardo Vainer
Carlos Eduardo Pires Fleury
Carlos Frederico Faial de Lira
Carlos Minc Baunfeld
Carmela Pezzutti
Christóvão da Silva Ribeiro
Cid Queiroz Benjamim
Conceição Imaculada de Oliveira
Damaris de Oliveira Lucena
Daniel Aarão Reis Filho
Daniel José de Carvalho
Darcy Rodrigues
Delci Fensterseifer
Derly José de Carvalho
Diógenes José Carvalho de Oliveira
Domingos Fernandes
Dulce de Souza
Edmauro Gopfert
Edmur Péricles Camargo
Elinor Mendes Brito
Encarnación Lopes Perez
Eudaldo Gomes da Silva
Fausto Machado Freire
Fernando Nagle Gabeira
Flávio Aristides Freitas Tavares
Flávio Roberto de Souza
Francisco Roberval Mendes
Geny Cecília Piola
Gregório Bezerra
Gustavo Buarque Schiller
Ieda dos Reis Chaves
Irani Campos
Ismael Antônio de Sousa
Ivens Machetti de Monte Lima
Jairo José de Carvalho
Jayme Walwitz Cardoso
Jean Marc Frederic Charles Von Der Weid
Jeovah de Assis
João Batista Rita
João Carlos Bona Garcia
João Leonardo da Silva Rocha
Joaquim Pires Cerveira
Joel José de Carvalho


Câmara dos Deputados

Publicação em Homenagem às Vítimas da Ditadura