sexta-feira, 18 de julho de 2014

ÁLBUM 1


ÁLBUM 1


OS INCONFIDENTES

Assentada

Aos trinta dias do mês de junho de mil e setecentos e oitenta e nove anos, nesta Vila Rica de Nossa Senhora do Pilar do Ouro Preto, em casas de residência do Desembargador Pedro José Araújo de Saldanha, do Desembargo de Sua Majestade Fidelíssima, Ouvidor-Geral e Corregedor desta Comarca, onde eu, Escrivão nomeado pelo Excelentíssimo Senhor Visconde de Barbacena, Governador e Capitão General desta Capitania de Minas Gerais, fui vindo e, sendo aí, por ele dito Ministro foram inquiridas e perguntadas as testemunhas que para esta Devassa foram chamadas, das quais seus ditos, nomes e idades, são os que ao diante se seguem, do que para constar fiz este termo; e eu, o Bacharel José Caetano César Manitti, Escrivão nomeado, o escrevi.

Testemunha 21ª

Inácio Correia Pamplona, homem branco, Mestre de Campo Regente do Bambuí, natural da Ilha Terceira, Bispado de Angra, morador da Freguesia dos Prados, Comarca do Rio das Mortes, que vive de suas fazendas, idade de cinquenta e oito anos, testemunha a quem o dito Ministro deferiu o juramento dos Santos Evangelhos em um livro deles em que pôs sua mão direita, sob cargo do qual lhe encarregou que com boa e sã consciência jurasse a verdade do que soubesse e lhe fosse perguntado, o que prometeu fazer como lhe estava encarregado.

E perguntado pelo conteúdo no Auto desta Devassa, que todo lhe foi lido, disse que ele, testemunha, sabe que estava para haver nestas Minas o levante que o Auto acusa; e a razão por que o sabe vem a ser que convidando-o por carta o Vigário de São José do Rio das Mortes, Carlos Correia de Toledo, para ir ter naquela Vila à Semana Santa, indo ele, testemunha, com efeito ver ali a Procissão de Passos no dia 29 de março do corrente ano, e conversando com o dito Vigário, ele lhe disse que estava para haver um levante em Minas; e que o Alferes Joaquim José, por alcunha Tiradentes, se achava no Rio de Janeiro a fazer séquito; e que no caso de haver a desordem, se havia cortar a cabeça ao Excelentíssimo Senhor General e levá-la ao pelourinho para fazer horror aos maus; e que imediatamente se praticaria o mesmo com o Ajudante de Ordens Francisco Antônio Rebelo, segundo sua lembrança, fazendo-se o mesmo ao Coronel Carlos José da Silva, por ser o que promovia os tributos; mas que ele, Vigário, era de diverso sentimento, votando que antes se mandasse ir embora o dito Excelentíssimo Senhor General com toda a sua família; e que igualmente não fosse morto o referido Coronel Carlos José, por ser seu xará – que vem a dizer – do mesmo nome; acrescentando que, para o novo governo, já havia leis feitas e que nos primeiros três anos serviriam os eleitos; e depois iriam servindo os mais, anualmente; e que todos os que devessem à Fazenda Real seriam perdoados inteiramente; e como o dito Vigário se achava estudando um sermão, e se divertiram em outras coisas o resto do dia, lhe não comunicou mais nada; ele, testemunha, se recolheu para sua casa, sem tenção já de lá ir na dita Semana Santa, como assim sucedeu. Na quarta-feira de trevas lhe escreveu ele, testemunha, desculpando-se com moléstia afetada de não poder ir assistir à dita função; e o portador da carta, que era um mulato seu lhe contou que o mesmo Vigário, lida que foi aquela carta, se voltara para ele e lhe dissera que a moléstia era de manha, e que entrara a passear como raivoso de uma para outra parte, batendo com a carta na cabeça, despedindo-o assim sem mais resposta; nem ele, testemunha, até ao dia presente, se encontrou mais com o dito Vigário.

Passados dias veio ao sítio dele, testemunha, denominado o Mendanha, um sujeito do Rio de Janeiro chamado Manuel Pereira Chaves, que vinha para o fim de conduzir por mandado de Manuel Vaz Carneiro, comissário e morador naquela cidade, uma partida de gado e potros da fazenda dele, testemunha, que de fato levou e seguiu sua viagem; antes porém de partir, particularmente lhe contou o mesmo Chaves que ele sentia bem o não poder vir a Vila Rica para contar ao Coronel Afonso Dias Pereira, por ser da sua terra, para o dizer ao Senhor General, o que tinha ouvido nas Vilas de São João e São José, que era que nestas Minas estava para haver um levante, e se tinham conluiado para este fim as cabeças poderosas; e que, para isto mesmo, se achava na cidade do Rio de Janeiro um oficial destas mesmas Minas a convocar séquito para o detestável fim que se propunha; contou-lhe mais a ele, testemunha, o dito Chaves (que tinha perguntado se ele entrou nesta desordem, ao que tinha dito que não), perguntou se tinha tirado muito, ao que respondeu o pobre: que tudo estava perdido e agora de novo muito mais, porque Sua Excelência queria lançar a derrama, tocando oito oitavas de ouro por cabeça, e que o povo estava para levantar-se dizendo que queria viver em sua liberdade. Ultimamente chegou ao mesmo sítio o Capitão João Dias da Mota, a particulares que aí tinha com André Esteves; e apeando-se a deixar passar a força do sol, neste intervalo lhe perguntou ele, testemunha, se sabia haver chegado à cidade do Rio de Janeiro a nau de guerra, ao que o dito lhe respondeu que não, e que só havia passado para a mesma cidade um Furriel com Portaria do Tenente-Coronel Francisco Antônio Rebelo, e ordem de assistência para o que lhe fosse necessário, obrigando-se a tudo que o dito Furriel pedisse e que, por isto, alguns passavam ia a buscar ali o Alferes Tiradentes. E também lhe disse que, poucos dias antes, havia passado um clérigo para a Borda do Campo, e que no rancho das Lavrinhas do Lourenço, segundo sua lembrança, falara sem rebuços no dito levante ao mesmo dono da estalagem, por nome João da Costa.

No dia vinte de maio do corrente ano veio à casa dele, testemunha, o dito Vigário de São José, dizendo-lhe que o seu destino era ir a um batizado ao Arraial de Carijós; porém, levantando-se ele, testemunha, cedo e indo visitá-lo ao quarto onde se hospedara, o achou já passeando na varanda com o aspecto bastante carregado e perturbado;  e lhe disse que já não ia para Carijós; e que alta noite lhe tinha chegado uma carta, cópia de outra que do caminho do Mato do Rio haviam escrito ao Coronel Francisco Antônio de Oliveira, a qual ele, testemunha, viu na mão do mesmo Vigário, e lendo-a dizia por formais palavras: “Dou-vos parte com certeza que se acham presos, no Rio de Janeiro, Joaquim Silvério e o Alferes Tiradentes para que vos sirva, ou se ponham em cautela; e quem não é capaz para as coisas, não se meta nelas; e mais vale morrer com honra que viver com desonra”, cuja carta meteu o dito Vigário na algibeira; e só deixou em cima de uma banca o sobrescrito que ele, testemunha, apanhou, remetendo-o logo a Sua Excelência com a exposição do referido fato no dia vinte e um do dito mês e ano, cuja parte e dito sobrescrito são os mesmos que se acham autuados nesta Devassa, e que ele testemunha reconhece pela própria parte, que lhe foi mostrada, e dito sobrescrito.

Declara mais ele, testemunha, que o Capelão do Arraial do Ouro Branco, ou Vigário, por nome Manuel Pacheco Lopes, lhe dissera que em um sábado, que se contaram vinte e três do dito mês de maio, passara por ali um pardo chamado Vitoriano, que é alferes e mora no Bichinho, de mandado do Coronel Francisco Antônio de Oliveira Lopes; e que o dito lhe dissera que ia a Mariana buscar uns papéis para um casamento; porém, que logo no domingo seguinte, vinte e quatro do dito mês, bem cedo passara outra vez o dito Alferes por ali, dizendo-lhe que ia acudir a seu amo, pois temia de o achar já preso, e outros muitos; e que as cartas que levava, lhas abriram os soldados em Vila Rica, pela busca que lhe haviam dado, e lhas tomaram; de cujo fato deu ele, testemunha, também parte a Sua Excelência no dia vinte e oito (Vitoriano O. Veloso deixou Ponta do Morro (Prados) na manhã de 22-05. Dormiu em casa do Pe. Fajardo de Assis, em Carijós, almoçou em Ouro Branco e atingiu o Capão do Lana, onde viu passar preso o Des. Gonzaga; aí pousou e retornou no dia 24 até Carijós, chegando na noite de 25 em Ponta do Morro. Seria de extraordinária compleição física, para cumprir quase 200 km em 4 jornadas. Era portador de mensagem a Francisco de Paula Freire de Andrade, último apelo para que passasse ao Serro e desse início ao levante).

Declara mais ele, testemunha, que o Padre Bento (Pe. Bento Cortês de Toledo, irmão do Pe. Carlos Correia de Toledo e Melo e do Sargento-Mor Luís Vaz de Toledo Piza. Mais tarde Reitor do Seminário de São José, no Rio.), irmão do Vigário de São José, quando se retirou desta Vila Rica, lhe disse a ele, testemunha, ( estranhando as desordens que via e sentindo amargamente aquela diabrura) que o Padre Assis (Padre José Maria Fajardo de Assis), morador em Carijós, lhe contara: que muito pior seria se ele (Padre Assis) não tirasse, das cartas que o Coronel Francisco Antônio de Oliveira Lopes mandava pelo dito Alferes Vitoriano, um certo papel ou bilhete que o dito Alferes tirou e rasgou.

Declara mais ele, testemunha, que depois de todo o referido, viera à sua casa um sobrinho, cujo nome ignora (seria Claro José da Mota o referido sobrinho. Esconder-se-ia na fazenda paterna, em Baependi, e nunca foi localizado pelas investigações do Visconde de Barbacena), mas que é ainda moço, de idade de vinte e cinco anos pouco mais ou menos, alto, claro, e de mediana nutrição, a falar-lhe positivamente no desamparo e desarranjo em que estavam suas tias e primas por causa do sequestro que se havia feito em todos os bens e roças do dito seu tio Vigário, rogando-lhe que fosse seu valedor com Sua Excelência, ou com seu compadre o Coronel Carlos José, para os deixarem ficar na casa sequestrada; ao que ele, testemunha, respondeu que não lhe competia falar em semelhante matéria. E nessa mesma ocasião, chamando ele testemunha o dito sobrinho a um quarto retirado, aí lhe persuadiu a fidelidade que devia ter com a sua Soberana, e outras mais reflexões a este respeito. Por esta causa lhe recontou ele, então, o fato seguinte:

Que no domingo (24-05) em que foi preso seu tio, tinha este sido chamado pelo Coronel Francisco Antônio de Oliveira Lopes, que lhe viesse falar à Serra de São José, em um capão que fica abaixo da mesma Serra; e que quando lá chegaram, já estava o dito Coronel, muito aflito, proferindo logo as palavras seguintes: - “Amigo, estamos perdidos. E eu sábado  (23-05) mandei um próprio a Vila Rica, a quem Vossa Mercê sabe (Uma tentativa, e já tardia, de conduzir o Ten.-Cel. Francisco de Paula Freire de Andrada a uma atitude máscula, assumindo a iniciativa do levante a partir do Norte de Minas, onde contavam com o Destacamento Diamantino, sob o comando do Cap. Manuel da Silva Brandão), para se passar ao Serro e ajuntar gente; e que eu cá ficava fazendo o que pudesse. O General se abriu comigo. Eu tudo imputei a Joaquim Silvério, e que este foi o que viera à sua casa dar parte do levante a seu irmão Luís Vaz e que, sabendo Vossa Mercê disto, se agoniara muito, por cuja causa vendo ele, dito Joaquim Silvério, uma imagem de um crucifixo em cima de uma mesa, pegara nela e se botara a seus pés, dizendo e prometendo que nunca mais falaria em tal.  Isto mesmo pode Vossa Mercê avisar ao Alvarenga que, se  algum de nós for preso, que não diga outra coisa.” Que o General tudo lhe mandou escrever, e que este papel havia de ir à Corte. Ao que nada respondera o dito seu tio Vigário mais do que: que somente pensava em se retirar. E que montara a cavalo e fora demandando a estrada que segue para a sua casa (Trata-se aqui da casa que o Pe. Toledo possuía no Arraial da Laje, vizinha à do Cap. José de Resende Costa. O caminho entre a Vila de São Jose e o dito arraial passava pelo Bichinho (atual Vitoriano Veloso, MG), atalhando pela Ponta do Morro (onde ficava a fazenda deste nome, pertencente a Francisco A. O. Lopes, proximidades de Prados). E que ele e o dito Coronel subiram a Serra, por ele ir à Vila buscar umas chaves das caixas que lá tinham esquecido a seu tio. E que, olhando d ato da Serra para a chapada, já viram os soldados com o dito seu tio preso; o que reparando, aquele Coronel, se foi sumindo por uma grota; e ele, custosamente e com temor, da mesma forma se ocultou.

Também ele, testemunha, ouviu dizer que no dia quatro de junho, mandara o mesmo Coronel Francisco Antônio um maço de cartas para se entregarem na Vila de São João ao Tenente-Coronel Francisco Joaquim, cujo maço conduzira o mesmo Alferes Vitoriano, que foi o que veio a Vila Rica trazer as outras cartas do referido Coronel, como já fica declarado. Mas também depois ouviu dizer ele, testemunha, que o dito maço era das sortes para se repartirem na forma do costume. Ouviu dizer mais ele, testemunha, que nas capoeiras da roça que o mesmo Coronel tem na Laje, haviam aparecido muitos homens com armas de fogo; sendo uma mulher que ali assiste, cujo nome ignora, a primeira que lhe deu esta notícia; mas que indo a patrulha que por ali andava com ordem para prender o Sargento-Mor Luís Vaz examinar aquele sítio, nada se encontrou (A patrulha é a enviada pelo Tem. Antônio J. Dias Coelho, sob o comando do Ajudante Davi Ottoni, no mesmo dia 24-05, a qual não conseguiu encontrar o S.M. Luís Vaz de Toledo.

Declara mais ele, testemunha, que todos estes fatos acima referidos pela sua ordem, quando os foi sabendo, os pôs na presença do Excelentíssimo Senhor Visconde General, cujas cartas insertas no Auto desta Devassa, sendo-lhe mostradas neste mesmo ato, reconheceu ele, testemunha, pelas próprias e idênticas.

Declara finalmente ele, testemunha, que falando em certa ocasião, não há muitos dias, com o Tenente-Coronel José Franco de Carvalho, vizinho da Vila de São José, sobre o motivo das prisões que se fizeram, se discorreu se seriam por extravio de ouro ou diamantes; ao que respondeu o dito Tenente-Coronel, se seriam também por conta do que se tinha falado em um batizado que se havia feito em casa do Vigário de São José, que foi o do Coronel Alvarenga, no qual se acharam os ditos: Desembargador Ouvidor da Comarca, Luís Ferreira de Araújo e Azevedo, o Desembargador Tomás Antônio Gonzaga, o Sargento-Mor Luís Vaz de Toledo Piza, e o Tesoureiro de Ausentes da mesma Comarca, Luís Antônio; dentre os quais , proferiu um que esta Capitania era um formidável Império, ao que saiu aquele Vigário dizendo: “Eu sou o Pontífice”, ou “o Bispo”, do que ele, testemunha, não tem boa lembrança. E que o Coronel Alvarenga ao mesmo tempo acrescentara: “Pois eu serei o Rei e Dona Bárbara a Rainha”. E mais não disse ele, testemunha, nem dos costumes; e leu todo o referido juramento, declarando estar bem e fielmente escrito; e assinou com o dito Ministro, e eu, o Bacharel José Caetano César Manitti, o escrevi.

Saldanha  -  Inácio Correia Pamplona


Autos de Devassa da Inconfidência Mineira I
Câmara dos Deputados – Governo do Estado de Minas Gerais.
Brasília, Belo Horizonte. 1976.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

ÁLBUM 1


ÁLBUM 1


OS INCONFIDENTES


Testemunha 20ª
Francisco Xavier Machado, homem branco, natural da Anadia, Comarca e Bispado de Coimbra, que vive de ser porta-estandarte do Regimento de Cavalaria Paga da guarnição desta Vila Rica, onde atualmente reside, de idade de trinta e quatro anos, testemunha a quem o dito Ministro deferiu o juramento dos Santos Evangelhos em um livro deles em que pôs sua mão direita, sob cargo do qual lhe encarregou  jurasse a verdade do que soubesse e lhe fosse perguntado, o que assim prometeu fazer como lhe estava encarregado.

E perguntado pelo conteúdo no Auto desta Devassa que todo lhe foi lido, disse que somente sabe que recolhendo-se ele, testemunha do Destacamento em que esteve  na Jacobina, Capitania da Bahia, e chegando por mar ao Rio de Janeiro, aí encontrou o Alferes Joaquim José do seu Regimento, que assistia com outro Alferes do mesmo Regimento, por nome Matias Sanches, com o qual conversando ele, testemunha, algumas vezes, lhe ouvia ao dito Joaquim José exagerar a beleza, fertilidade e riqueza do país de Minas Gerais, e que por estes motivos podia bem ficar independente assim como fez a América Inglesa; ao que ele testemunha lhe respondia falando, naturalmente, que tal nunca poderia suceder, porque Minas não tinha força para se conservar, nem marinha para se defender, como tinha a América Inglesa; e que além do primeiro ponto de honra e fidelidade, tinha todos estes obstáculos a vencer que, certamente, se não podiam remediar; ao que o mesmo Alferes tornava que tinha muito povo, e que as Minas por si só se defendiam, cujos discursos rebatia ele testemunha com outras asserções que lhe vinham à lembrança nas ditas conversações; e que passados alguns dias, o mesmo Alferes fora à casa dele testemunha e lhe mostrara um livro escrito em francês, pedindo-lhe que lhe quisesse traduzir um capítulo dele, que vinha a ser o dito livro em francês A Coleção das Leis Constitutivas dos Estados Unidos da América, e o capítulo que apontava vinha a ser a seção oitava, sobre a forma da eleição do conselho privado, por cujo conteúdo ser invulgar ao dito Alferes, ele, testemunha, traduziu; o qual, depois, folheou muito o mesmo livro e como quem queria achar outro lugar, deixando-lhe ficar o mesmo livro, que é o próprio em oitavo, com capa de papel pintado, apenso desta Devassa; depois do que se retirou o dito Alferes. Também sabe ele, testemunha, que o mesmo Alferes procurou naquela cidade ao Sargento-Mor Simão Pires Sardinha, (Embarcou para Portugal. Nota constante dos Autos. O Sargento-Mor Simão Pires Sardinha foi interrogado em Lisboa. No volume 8, da presente edição, reproduz-se o seu depoimento. O Dr. Simão Pires Sardinha era filho da célebre Chica da Silva, ex-escrava de José da Silva e Oliveira Rolim (o velho) e irmã-de-criação do Padre José da Silva e Oliveira Rolim. Chica da Silva foi amante, em segunda união , do Dr. Des. João Fernandes de Oliveira, último contratador de diamantes no Tejuco e um dos homens mais ricos de seu tempo, filho do primeiro contratador, de igual nome. Quitéria Rita, filha de Chica da Silva e meia-irmã do Dr. Simão, foi a amada do Padre Rolim, a quem deu vários filhos. Luís da Cunha Meneses reputava ao Dr. Simão P. Sardinha como grande naturalista, encarregando-o de estudar as ocorrências fósseis da região de Prados, MG. Simão Pires Sardinha, apesar de fazer praça de contrário a Tiradentes, menosprezando-o, foi quem mandou-lhe aviso de que o Vice-Rei o fazia vigiar por dois granadeiros disfarçados. Medroso da repressão política que se prenunciava, retirou-se para Portugal, onde serviu vários cargos da carreira judicial. Era homem de grande fortuna.) (que lhe contou o mesmo Sardinha) levando-lhe uns livros ingleses para lhe traduzir certos lugares que também diziam respeito a coisas da América; mas que o dito Sardinha, mal percebeu o intento do dito Alferes, logo lhos tornou a mandar a casa, e dizia a todos que fugissem daquele homem, dito Alferes, que estava doido, e o mesmo disse a ele testemunha; depois, porém, que ele, testemunha, chegou a esta Vila Rica, feitas já as prisões que nela se executaram, e no Rio das Mortes, ouviu dizer que as mesmas tiveram a sua origem em um levante que se pretendia fazer, sendo o autor daquela desordem o Tiradentes. Declara mais ele, testemunha, que voltando do Rio de Janeiro no mês de maio próximo pretérito do corrente ano, e tendo passado a Serra denominada do Azevedo, no fundo dela onde se acha levantado um sítio novo pertencente ao Capitão Werneck, vizinho encontrara um boiadeiro (Manuel Pereira Chaves, referido por Inácio Correia Pamplona na carta-denúncia de 20-04-1789). A fazenda referida chamava-se Mendanha e ficava a pouco mais de uma légua de Lagoa Dourada) que conduzia uma boiada e quatorze ou dezesseis potros, tudo criação da fazenda do Mestre de Campo Inácio Correia Pamplona, que ele testemunha conheceu por trazerem o ferro da mesma fazenda, cujo homem boiadeiro era de estatura alta, grosso, barba cerrada, e quase vesgo; o qual, chegando-se à noite para o fogo onde ele testemunha estava, lhe disse ser também de Portugal e que a boiada e potros que trazia eram do dito Pamplona, à exceção de um cavalo seu, ao parecer dele testemunha muito bom, que levava para vender no Rio, quando lho pagassem bem; sendo o mais que levava, para pagamento de uma dívida, pelo que cada uma das cabeças trazia preço certo e inalterável; e travando-se conversa entre ele testemunha e o dito homem, depois dele falar em várias matérias, chegando-se mais a ele testemunha e moderando a voz, recatadamente lhe disse que as Minas estavam em grande desordem; que se tratava de fazer um levante; que o Coronel Inácio José de Alvarenga, havia dois anos, estava escrevendo leis e que o Coronel Francisco Antônio de Oliveira Lopes, por alcunha o “Come-lhe os Milhos”, tinha sido convidado para o mesmo levante; que ao princípio o recusara, mas que depois se deliberou a ter parte no mesmo dizendo que: “O que havia de ser cozido, que fosse assado, e que se desse já princípio ao negócio, e que ele valia por quatro.” Também ele, testemunha, tem lembrança que, ou deste mesmo boiadeiro ou alguma outra pessoa de que não pode recordar-se, e já depois das supramencionadas prisões, mas ainda em caminho, onde encontrou preso o Desembargador Gonzaga, o Vigário de São José e o Coronel Alvarenga, lhe disseram que também eram entrados no mesmo levante o dito Vigário de São José e o Tenente-Coronel do seu Regimento, Francisco de Paula Freire de Andrada. E mais não disse, nem dos costumes; e lido o seu juramento, logo o assinou com o dito Ministro, e eu, o Bacharel José Caetano César Manitti, Escrivão nomeado, o escrevi.



Saldanha  -  Francisco Xavier Machado

terça-feira, 15 de julho de 2014

ÁLBUM 1


ÁLBUM 1


OS NOVOS INCONFIDENTES


José Gricolato Sobrinho
José Guedes
José Guedes de Andrade
José Hélio Leite Barbosa
José Henrique Green
José Jerônimo César
José Lauro Moreira
José Leandro Santiago Filho
José Leite da Costa Filho
José Leocádio Filho
José Leôncio Drumond
José Lopes de Albuquerque
José Lopes Pereira
José Lopes Simplício
José Lucas Costa Pinheiro
José Luiz Eboli
José Luiz Martins de Menezes
José Luiz Pereira de Oliveira
José Luiz Rodrigues Calazans
José Luiz Sobrinho
José Maciel Filho
José Mafort de Oliveira
José Manoel
José Manoel de Mello
José Maria Beato
José Maria Carvalho Oliveira
José Maria da Silva
José Maria Gonçalves
José Maria Platilha
José Maria Tibúrcio Barroso
José Mariano Pinto Costa
José Marques Gomes
José Martins Costa Lubeh
José Matias Freire da Gama
José Medeiros Dantas
José Medeiros de Oliveira
José Meimberg da Cunha Filho
José Morais de Oliveira
José Moreira
José Muniz de Faria
José Narciso Legentil
José Nartaide dos Santos
José Nélson Mota Sá
José Niepce da Silva Filho
José Palmeira Guimarães
José Paulino Soares
José Paulo Costa
José Paulo da Silva
José Paulo Mendes dos Santos
José Pereira Santiago Neto
José Raimundo Barata
José Raymundo da Silva
José Ribamar Borges
José Ribamar de Souza
José Ribamar Lopes
José Ribamar Pereira Torreão da Costa
José Ribeiro da Conceição
José Ribeiro Lopes

José Roberto Silva