Ó
Poeta, mira esse trigal ardido
em
mágoa. Dos canteiros que tens feito
as
hastes inclinadas sobre o peito
dão-te
o aspecto de um deus encanecido.
Ao
mesmo tempo heróico e triste hás sido
um
anjo alegre e um diabo sem conceito.
O
trigo que plantaste, contrafeito
é
o pobre ázimo pão em que és cozido.
Resta-te
olhar os pássaros que do ermo
voltam
antes que o céu as sombras desça,
ensombrando-lhes
o último agasalho.
Abre
os olhos depois, ó deus enfermo:
Talvez
a noite enfim os umedeça
ou
lhes negue talvez o seu orvalho.
Jorge
de Lima
Livro
de Sonetos