Depois
renascia a lembrança de uma nova atitude; a parede fugia em outra direção:
achava-me em meu quarto em casa da sra. Saint-Loup, antes de vestir a casaca.
Pois muitos anos haviam se passado desde aqueles dias de Combray, quando, em
nossos regressos mais tardios, eram os reflexos vermelhos do poente que eu
avistava nas vidraças de minha janela. Muito outro é o gênero de vida que se
leva na residência da sra. Saint-Loup, em Tansonville, outro o gênero de prazer
que experimento em só sair à noite, em seguir, ao luar, esses caminhos onde
brincava outrora ao sol; e o quarto onde terei adormecido em vez de preparar-me
para a ceia, avisto-o de longe, quando voltamos, iluminado pelo clarão da
lâmpada, único farol dentro da noite.
Marcel Proust
em busca do tempo perdido
volume I
no caminho de swann
tradução de mário quintana
Globo. São Paulo, SP. 3ª edição. 5ª reimpressão.
2009.