quarta-feira, 27 de novembro de 2013

OS INCONFIDENTES


Testemunha 5ª

O Sargento-Mor Raimundo Correia Lobo, homem pardo, natural da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Vila do Príncipe e morador no Arraial do Tejuco, Comarca do Serro do Frio, que vive de suas lavras, de idade de trinta e sete anos, testemunha a quem o dito Ministro deferiu o juramento dos Santos Evangelhos em um livro deles em que pôs sua mão direita, subcargo do qual lhe encarregou jurasse a verdade do que soubesse e lhe fosse perguntado, o que assim prometera fazer como lhe estava encarregado.

E perguntado ele, testemunha, pelo conteúdo no Auto desta Devassa, que todo lhe foi lido, disse que, achando-se ele em casas do Doutor Antônio José Soares de Castro, com quem assistia junto com um Salvador de Carvalho do Amaral Gurgel, vindo este de fora em certa ocasião ouviu que o mesmo, em particular, estava contando àquele Doutor, que também é tenente-coronel dos Pardos da Vila do Príncipe, que o Alferes Joaquim José da Silva, por alcunha o Tiradentes, lhe referira que estava para se fazer um novo Parlamento nestas Minas; a cuja notícia, virou logo o dito Doutor dizendo: “Não se fale aqui nisso; e quem for o motor de semelhante coisa, verá o que lhe sucede, pois é um crime da primeira cabeça”. E foi isto unicamente o que ele, testemunha, tem ouvido a este respeito.

E perguntado ele, testemunha, pelo referimento que nele fez a testemunha Tenente-Coronel Basílio de Brito Malheiro, que todo lhe foi lido, disse que passava na verdade ter ele falado, na ocasião apontada no referimento e na mencionada Estalagem, com o pardo Crispiniano da Luz Soares, e dizer-lhe este: ― “Que lhe parece a Vossa Mercê o que vai de novo: o levante que querem fazer?” Ao que lhe respondeu ele, testemunha: ― “Nem falar nisso é bom; já o Salvador falou no mesmo em casa do Tenente-Coronel Antônio José Soares de Castro, e este ralhou infinito”.

Não está porém certo ele, testemunha, se o mesmo Crispiniano lhe disse o mais que acusa o referimento, relativamente a ter-se escrito para São Paulo para se não pagarem os dízimos, do que não tem lembrança. E mais não disse nem aos costumes; e sendo lido o seu juramento o assinou com o dito Ministro; e eu, José Caetano César Manitti, Escrivão nomeado.


Saldanha   ―   Raimundo Correia Lobo


Autos de Devassa da Inconfidência Mineira
Câmara dos Deputados ― Governo do Estado de Minas Gerais
volume 1. Brasília ― Belo Horizonte. 1976.