Tudo
era aqui desequilíbrio. Grandes excessos e grandes deficiências, as da nova
terra. O solo, excetuadas as manchas de terra preta ou roxa, de excepcional
fertilidade, estava longe de ser o bom de se plantar nele tudo o que quisesse,
do entusiasmo do primeiro cronista. Em grande parte rebelde à disciplina
agrícola. Áspero, intratável, impermeável. Os rios, outros inimigos da
regularidade do esforço agrícola e da estabilidade da vida de família.
Enchentes mortíferas e secas esterilizantes ― tal o regime de suas águas. E
pelas terras e matagais de tão difícil cultura como pelos rios quase
impossíveis de ser aproveitados economicamente na lavoura, na indústria ou no
transporte regular de produtos agrícolas ― viveiros de larvas, multidões de
insetos e de vermes nocivos ao homem.
Particularmente
ao homem agrícola, a quem por toda parte afligem mal ele inicia as plantações, as
“formigas que “fazem muito dano” à lavoura; a “lagarta das roças; as pragas que
os feiticeiros índios desafiam os padres que destruam com os seus sinais e suas
rezas.
Contrastem-se
essas condições com as encontradas pelos ingleses na América do Norte, a
começar pela temperatura: substancialmente a mesma que a da Europa que a da
Europa ocidental (média anual de 56ºF), considerada a mais favorável ao
progresso econômico e à civilização à européia. De modo que não parece tocar ao
caso brasileiro a generalização do professor Bogart sobre o povo por ele
vagamente chamado de “raça latino-americana”. O qual nem por se achar rodeado
de grandes “riquezas naturais se teria elevado às mesmas condições de progresso
agrícola e industrial que os anglo-americanos. Essa incapacidade atribui o
economista a ser a tal “raça latino-americana” “a weak, ease loving race” e não
“a virile, energetic people” como os anglo-americanos. Estes, sim, souberam
desenvolver os recursos naturais à sua disposição: “devoted themselves to the exploitation
of the natural resources with wonderful success”. Mas foi esse mesmo povo tão
viril e enérgico que fracassou em Old Providence e nas Bahamas.
Gilberto
Freyre
Casa-Grande
& Senzala