Escritores e artistas, substituindo a ação pelas
palavras, acreditavam poder fazer mais, e era o projeto do Teatro de
Experiência, criado em São Paulo por Flávio de Carvalho e logo fechado pela
polícia, o que motivou o protesto do deputado Zoroastro de Gouveia, a 19 de
dezembro, na Assembléia Nacional Constituinte:
O teatro da (sic) Experiência,
ali, acaba de ser brutalmente fechado pela Polícia. Um grupo de literatos,
conhecidos homens de reputação artística em todo o Brasil, lançou-se a esse
trabalho, verdadeiramente inóspito em momentos de paixão política, de organizar
um teatro completamente independente.
Ao que se diz, a intervenção policial resultou de
desordens irrompidas no recinto, mais do que pelo conteúdo subversivo do Bailado do Deus Morto, as máscaras de
alumínio, bem como a capa do mesmo metal com que mais tarde circulou o único
número da RASM Revista Anual do Salão de
Maio), explicam-se pela indústria metalúrgica de que Flávio de Carvalho era
então proprietário.
Mais revolucionárias, embora cercadas de menos
sensacionalismo, eram algumas obras publicadas nesse mesmo ano de 1933, como
por exemplo, juntamente com Psiquiatria e
Psicanálise, de Artur Ramos, os seus “ensaios de psicanálise ortodoxa e
herética”, Freud, Adler, Jung, com
prefácio, aliás pouco inteligente, de Afrânio
Peixoto, e O Direito de Morrer sem Dor,
no qual Royo-Villanova y Morales discutia o problema da eutanásia (tradução de
J. Catoira e C. Barbosa), além de Uma
Definição Biológica do Crime, de Dionélio Machado, impresso em Porto
Alegre. Acrescentem-se os incontáveis volumes que continuavam a ser escritos
sobre os últimos movimentos armados, e que iam de A Verdade sobre a Revolução de Outubro, de Barbosa Lima Sobrinho,
ao Acuso!, de João Neves da Fontoura,
passando pelos Sucessos Militares de
Julho de 1922, de Mário Tibúrcio Gomes Carneiro; O Despertar de São Paulo, de Menotti del Picchia (juntamente com um
volume de Poesias); A Sala da Capela, dee Vivaldo Coaraci; Ilha Grande, de Orígenes Lessa; Minas na Aliança Liberal e na Revolução,
de Aurino de Morais, e 1930: História da
Revolução na Paraíba, de Ademar Vidal.
Tudo isso já era, ou já começava a ser, História: O Brasil Continua, dizia o título
irônico de Álvaro Moreira, a que podemos juntar na estante historiográfica
propriamente dita: História da
Civilização Brasileira; O Marquês de Abrantes; Gomes Carneiro, o General da
República, e Vida e Amores de Castro
Alves, todos do prolífico Pedro Calmon; O
Conde d’Eu, de Luís da Câmara Cascudo; À
Margem da História do Brasil, de Vicente Licínio Cardoso; Ementário da História de Minas: Felipe dos
Santos Freire e A Sedição de Vila
Rica em 1270, empresa antimitológica de Feu de Carvalho; O Doutor Blumenau, de J. Ferreira da
Silva; O Condestável do Império, de
Osvaldo Orico; O Senador José Bento, de
Amadeu de Queirós; Os Amores de Canabarro,
de Otelo Rosa; Minha Vida, de
Medeiros e Albuquerque, em terceira edição (juntamente com Laura), e Romance de Meu Pai,
de Jaime Balão Júnior.
Wilson Martins
História da Inteligência Brasileira
vol. VII (1933-1960)
Cultrix. Editora da Universidade de São Paulo.
São Paulo, SP. 1ª edição. 1979.