Agora
torna a minha pergunta. E que faria n’este caso, ou que devia fazer o semeador
evangélico vendo tão mal logrados seus primeiros trabalhos? Deixaria a lavoura?
Desistiria da sementeira? Ficar-se-ia ocioso no campo, só porque tinha lá ido? Parece que não. Mas se tornasse
muito depressa a casa a buscar alguns instrumentos com que alimpar a terra das
pedras e dos espinhos, seria isto desistir? Seria isto tornar atrás Não por
certo. No mesmo texto de Ezequiel, com que argüístes, temos a prova. Já vimos
como dizia o texto que aqueles animais da carroça de Deus, quando iam não
tornavam: Nec revertebantur , cum
ambularent. Lede agora dois versos mais abaixo, e vereis que diz, o mesmo
texto, que aqueles animais tornavam, à semelhança de um raio ou corisco: Ibant, et revertebantur in similitudinem
fulguris coruscantis. Pois se os animais iam e tornavam, à semelhança de um
raio, como diz o texto, que quando iam não tornavam? Porque quem vai, e
volta como um raio, não torna. Ir, e
voltar como raio, não é tornar, é ir por diante. Assim fez o semeador do nosso
Evangelho. Não o desanimou, nem a primeira, nem a segunda, nem a terceira
perda: continuou por diante no semear, e foi com tanta felicidade, que n’esta e
última parte do trigo se restauraram com vantagem as perdas do demais: nasceu,
cresceu, espigou, amadureceu, colheu-se, mediu-se, achou-se que por um grão
multiplicara cento: Et fecit fructum
centuplum.
Padre
Antônio Vieira
Sermão
da Sexagésima