Depois
vi o sangue coagular-se em letras
espalhadas
nos muros e nas pedras;
e
o céu baixar-se para fecundá-las
e
fugir outra vez para esquecê-las.
Depois
vi o homem pressuroso em lê-las,
transformá-las
em signos e arabescos
em
palavras, em urros, em apelos
estranhas
oceanias e sonetos,
em
hálitos de bocas cavilosas,
entrecortando
sílabas amargas
engolidas
no prato das desgraças,
e
a gagueira ser tanta, tanto o fel
que
a grande torre de marfim preciosa
era
a torre danada de Babel.
Jorge
de Lima
Livro
de Sonetos