sexta-feira, 31 de maio de 2013

OS INCONFIDENTES


4 ― INQUIRIÇÕES DE TESTEMUNHAS
4.1 ― ASSENTADA

Aos dezesseis dias do mês de junho de mil e setecentos e oitenta e oitenta e nove anos, nesta Vila Rica  de Nossa Senhora do Pilar do Ouro Preto, na Cadeia Pública dela onde foi vindo o Desembargador Pedro José Araújo de Saldanha, Ouvidor Geral e Corregedor desta Comarca, junto comigo o Bacharel José Caetano César Manitti, Ouvidor e Corregedor da do Sabará. Escrivão nomeado para esta diligência pelo Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Visconde de Barbacena, Governador e Capitão General desta Capitania, e sendo aí, pelo dito Ministro foi mandado vir à sua presença o Tenente-Coronel Domingos de Abreu Vieira, que se achava preso em segredo na mesma Cadeia, a fim de ser, como foi, inquirido pelo dito Ministro sobre todo o conteúdo no Auto desta Devassa, do que para constar
fiz este termo; e eu, o Bacharel José Caetano César Manitti, Escrivão nomeado, o escrevi.

Testemunha 1ª

Domingos de Abreu Vieira, Tenente-Coronel do Regimento de Cavalaria Auxiliar de Minas Novas, natural de São João de Concieiro, Termo de Regalados, Comarca de Viana, Arcebispado de Braga, morador nesta Vila Rica, onde vive do seu negócio de administrar o Real Contrato dos Dízimos de que foi rematante o triênio passado, de idade de sessenta e cinco anos, testemunha a quem o dito Ministro deferiu o juramento dos Santos Evangelhos em um livro deles, em que pôs a sua mão direita, sob cargo do qual lhe encarregou jurasse a verdade do que soubesse e lhe fosse perguntado, o que assim prometeu cumprir como lhe era encarregado.

E perguntado ele, testemunha, pelo conteúdo no Auto desta Devassa, que todo lhe foi lido, disse que vindo hospedar-se em sua casa no mês de agosto ou setembro do ano pretérito o Padre José da Silva e Oliveira Rolim, da Comarca do Serro Frio, e observando ele, testemunha, depois de alguns meses desta residência, a grande amizade e correlação que havia entre o dito Padre e um Alferes do Regimento Pago desta Capitania, Joaquim José da Silva Xavier, por alcunha o Tiradentes, lhe perguntou em certa ocasião que amizade tão continuada e estreita era aquela, ao que lhe respondeu o mesmo Padre que andavam tratando um negócio de muita importância; e passados alguns dias, indo ele, testemunha, encontrá-los no mesmo quarto onde se achavam conversando, o que sucedeu pelos meses de dezembro ou janeiro, então lhe descobriram e declararam ambos que, no caso de se lançar a derrama como se dizia, estava justo um levante nesta Capitania, no qual entrava também o Coronel Inácio José de Alvarenga, que tinha a seu cargo aprontar quatrocentos ou mais homens, e igualmente o dito Padre José da Silva, concorrendo também o Vigário de São José do Rio das Mortes, incumbido de aprontar do mesmo modo gente para as bandas de São Paulo; contando-lhe mais que o Desembargador Tomás Antônio Gonzaga entrava igualmente naquela confederação prestando o seu conselho; e que todos se juntavam algumas noites, para este fim, em certa casa que lhe não declararam; e que da mesma sorte pretendiam interessar naquela rebelião ao Ouvidor da Vila do Príncipe, Joaquim Antônio Gonzaga, primo daquele Desembargador Tomás Antônio, a quem haviam de pedir lhe escrevesse para este mesmo efeito; e ele, testemunha, perfeitamente se lembra haver-lhe asseverado aquele Padre José da Silva, quando foi ultimamente para o Serro do Frio, a vinte e um de fevereiro segundo sua lembrança, que ele próprio levava já consigo a mencionada carta para a entregar ao dito Ouvidor; o que tudo ouvindo ele, testemunha, ficou por extremo absorto e assustado de semelhante desordem, da qual entrou a dissuadi-los com o maior esforço que lhe foi possível; e se retirou.


Câmara dos Deputados e
Governo do Estado de Minas Gerais
Autos de Devassa da Inconfidência Mineira
Volume 1. Brasília / Belo Horizonte.

1976.