quinta-feira, 9 de maio de 2013

OS INCONFIDENTES



CARTA DE D. JOANA DE MENESES AO S. M. (AUX.) JOAQUIM PEDRO DA CÂMARA; COIMBRA, 18-07-1787.
(traslado)

Excelentíssimo Senhor ― do coração: tenho escrito a Vossa Senhora muitas cartas, todas remetidas pelo sobrinho Roberto, exceto duas que leva o Capitão Manuel Pinto, e esperando resposta das primeiras, ainda a não tive; e se Vossa Senhoria continuar no seu silêncio, porei termo à minha escrita, mas não aos desejos de que Vossa Senhoria mude de resolução a respeito da esquecida pátria; parece que o tempo e a distância têm endurecido o seu coração para não cuidar em nos vir ver e igualmente não procurar notícias dos parentes, que todos amam Vossa Senhoria; e eu, como sou deste número, não cessarei de executar este comércio epistolar enquanto Vossa Senhoria me não desenganar com o seu silêncio; se Vossa Senhoria, com efeito, se não desagrada de que eu o busque, e se tem correspondente, deve avisar-me para a remessa das minhas cartas; porém era melhor que a sua presença evitasse essa diligência. Vossa Senhoria ainda que aí  está bem, aqui está melhor; e suponhamos que se introduz o espírito de vertigem nos ânimos desses naturais, e que tumultuam; neste caso parece que mais arriscado é o partido da honra, que Vossa Senhoria infalivelmente havia de seguir, e o melhor é evitar estes apertos e vir sem eles à presença da adorada Soberana e livrar-se de um governo subalterno que às vezes degenera em despotismo. Os nossos parentes todos vivem, e neles não há novidade, de que o Reino está estéril; a última lei, ainda que não é muito interessante, aí a remeto. Os sobrinhos agora estão em férias, e por isso esta vai pelo Rio de Janeiro por via de um conhecido de uma minha amiga, chamado o Doutor Antônio José Barreiras, advogado na dita terra. Eu tinha escrito a Vossa Senhoria uma carta, mas, creio, não vai já o portador; nela lhe pedia, como agora faço, que cumprimentasse da minha parte a Senhora Viúva, mãe dos sobrinhos, segurando-lhe que tenho parte no seu pesar, e que lhe desejo todos os alívios, como igualmente a seus filhos, a quem estimo muito; e o mais velho, presenciei bem aflito e magoado com a notícia do falecimento do pai. Aceite Vossa Senhoria recomendações dos manos, e as dê minhas a José do Vale; já lhe disse que, se tiver portador seguro, que me avise para lhe remeter umas linhas finas, que eu ignoro via certa. Adeus, meu primo; lembre-se de que muito o estima esta ― de Vossa Senhoria ― prima muito amante e obrigada ― dezoito de julho de mil e setecentos e oitenta e sete ― E não se continha mais na dita carta, que sem coisa que dúvida faça, aqui bem e fielmente trasladei da própria, que fica em poder do Desembargador Pedro José Araújo de Saldanha, Juiz desta Devassa, à qual me reporto; e com o mesmo Ministro esta conferi com o original, nesta Vila Rica, aos quinze de junho de 1789; e eu, o Bacharel José Caetano César Manitti, Escrivão nomeado, que o escrevi, conferi e assinei.

Saldanha  ―  José Caetano César Manitti