UM
DEVER AMARÍSSIMO!
José
Dias amava os superlativos. Era um modo de dar feição monumental às idéias; não
as havendo, serviam a prolongar as frases. Levantou-se para ir buscar o gamão,
que estava no interior da casa. Cosi-me muito à parede, e vi-o passar com as
suas calças brancas engomadas, presilhas, rodaque e gravata de mola. Foi dos
últimos que usaram presilhas no Rio de Janeiro, e talvez neste mundo.Trazia as
calças curtas para que lhe ficassem bem esticadas. A gravata de cetim preto com
um aro de aço por dentro, imobilizava-lhe o pescoço; era então moda. O rodaque
de chita, veste caseira e leve, parecia nele uma casaca de cerimônia. Erra
magro, chupado, com um princípio de calva; teria os seus cinqüenta e cinco
anos. Levantou-se com o passo vagaroso do costume, não aquele vagar arrastado
dos preguiçosos, mas um vagar calculado e deduzido, um silogismo completo, a premissa
antes da conseqüência, a conseqüência antes da conclusão. Um dever amaríssimo!
Machado
de Assis
Dom
Casmurro