ANEXO
2 — Termo de declaração, ratificação e juramento prestado pelo Mestre de Campo
Inácio Correia Pamplona.
Aos
trinta dias do mês de maio do corrente ano de mil e setecentos e oitenta e
nove, no Palácio desta Capital de Vila Rica de Nossa Senhora do Pilar do Ouro
Preto, residência do Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Visconde de
Barbacena, Governador e Capitão General desta Capitania, onde foi vindo por
ordem do mesmo senhor o Doutor Desembargador Pedro José Araújo de Saldanha do
Desembargo de Sua Majestade Fidelíssima, que Deus guarde, Ouvidor Geral e
Corregedor desta Comarca, comigo o Bacharel José Caetano César Manitti, Ouvidor
Geral e Corregedor da do Sabará, Escrivão nomeado pelo dito Excelentíssimo
Senhor para esta diligência, ali compareceu o Mestre de Campo Inácio Correia
Pamplona, perante quem foi por mim lida uma carta e representação que o mesmo
tinha feito ao dito Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor, que também presente
se achava, toda ela escrita em uma folha de papel e datada do dia vinte de
abril do corrente ano, em que lhe denunciava o plano de uma sedição
levantamento que temerariamente pretendiam concitar nesta Capitania, várias
pessoas da primeira graduação e jerarquia dela, declarando-lhe seus nomes e
individuando todos os fatos respectivos de que tivera notícia, cuja carta me
fora entregue neste mesmo ato e para o referido fim, pelo dito Excelentíssimo
Senhor; e depois de assim lida na presença do mencionado Mestre de Campo, o
sobredito Ministro Doutor Desembargador lhe deferiu o juramento dos Santos
Evangelhos em um livro deles em que pôs sua mão direita, sob cargo do qual lhe
encarregou que em boa e sã consciência declarasse e jurasse ele, dito Mestre de
Campo Inácio Correia Pamplona, se tinha com efeito escrito e assinado de seu
próprio punho a mencionada carta e denúncia que por mim, Escrivão, lhe tinha
sido lida e mostrada; e se eram verdadeiros todos e cada um dos fatos nela
indicados; e se além destes ainda tinha que delatar alguns outros que lhe
houvessem esquecido, ou de que posteriormente à sobredita delatação tivesse
notícia; e finalmente se aprovava e de novo ratificava quanto naquela
representação delatória havia expedido e circunstanciado; e aceito pelo mesmo
Mestre de Campo Pamplona o dito juramento, debaixo dele declarou novamente,
protestou e ratificou que a referida carta e denúncia, que eu Escrivão nomeado
lhe acabava de ler e mostrado tinha, datada do dia vinte de abril do corrente
ano, era identicamente a própria que ele, dito Pamplona, tinha dirigido ao
Excelentíssimo Senhor Visconde de Barbacena, atual Governador e Capitão General
desta Capitania, que presente se achava na maneira que dito fica; que a mesma
era toda escrita e assinada pelo seu próprio punho; que tudo quanto nela
relatava era pura verdade, expressada da mesma sorte que o sabia e tinha vindo
à sua notícia; cuja denúncia fizera unicamente por zelo do real serviço como
bom vassalo de sua Majestade Fidelíssima, e pela fidelidade, que sabia, estava
obrigado a guardar por todos os direitos à sua Soberana e Senhora natural; e
que, além do que na referida delatação havia fiel e verdadeiramente recenseado,
acresciam mais para referir e declarar os fatos seguintes: Que pernoitando o
Vigário da Igreja de São José daquela Comarca do Rio das Mortes, Carlos Correia
de Toledo, em casa dele dito Mestre de Campo, na noite do dia vinte do
mencionado mês de abril, sucedendo ir logo pela manhã cedo visitar o dito
Vigário ao seu quarto, o achara já fora deste passeado e por extremo aflito,
sobressaltado e inquieto, por cujo motivo, perguntando-lhe a origem da conhecida
perturbação em que o via, lhe respondeu este: que pela meia noite antecedente
havia recebido a carta que lhe apresentava, a qual ele declarante Pamplona leu e viu ser de aviso, participando-se nela
ao dito Vigário que, na Cidade do Rio de Janeiro, se achavam presos o Alferes
de Cavalaria destas Minas Joaquim José da Silva, por alcunha — o Tiradentes — e
o Coronel de Auxiliares Joaquim Silvério dos Reis; que em tais circunstâncias
se acautelassem; mas que em todo o caso cumpria antes morrer com honra; e quem
não era capaz para as empresas, se não devia meter nelas — e não obstante que
ele Pamplona nem conheceu a letra da dita carta, nem esta vinha assinada;
contudo se persuade que a mesma viera dirigida de casa do Coronel Francisco
Antônio de Oliveira Lopes, e que era sem a menor hesitação cópia de outra original, do que tudo ele
Mestre de Campo avisara logo no dia vinte e um do mesmo mês a Sua Excelência,
como se realizava de outra carta sua também que o dito Excelentíssimo Senhor
neste ato apresentou e que ele, Pamplona, reconheceu pela própria de que faz
menção; e que sendo tão grande a perturbação e indecisão em que flutuava o
referido Vigário, pondo-se este a escrever para Carijós, para onde viera
destinado a fazer jornada, depois de ter já escrito e fechado a carta, se
recordou lhe faltava incluir nela uma procuração para um batismo a que ia
assistir; e rompendo aquele sobrescrito, com inquietação e confusão em que
estava, deixou, quando se retirou, ambos sobre a mesa em que escrevera: isto é,
tanto o da carta do aviso já memorada e que também apresentou a Sua Excelência,
o qual se achava escrito por letra visivelmente contra-feita e diz: “Ao Senhor
Vigário Reverendo Carlos Correia de Toledo, Guarde Deus, São José”; como o
outro igualmente exibido e que cobria a carta para Carijós e dizia: “Ao Senhor
João da Silveira Fernandes, meu Amigo e Senhor, Guarde Deus muitos anos, na
Estalagem dos Carijós, à mercê, que importa a brevidade da entrega”.
Também
declara mais ele, dito Mestre de Campo, que vindo logo posteriormente para esta
Vila Rica, transitando pelo Arraial do Ouro Branco, lhe contara o Capelão do
mesmo que, no sábado antecedente pelas quatro horas da tarde pouco mais ou
menos, passara por ali um Alferes dos Pardos por nome Vitoriano, residente no
Bichinho, muito bem montado e com pressa; e perguntando-lhe o dito Capelão para
onde se dirigia com tanta celeridade, lhe respondera o dito Alferes que ia à
cidade de Mariana com cartas, ou recomendações, do Coronel Francisco Antônio de
Oliveira Lopes para despachar ou procurar naquela cidade uns papéis para um
casamento; e que voltando o mesmo Alferes no domingo logo de manhã cedo, ele
dito Capelão se admirara de tanta brevidade, e perguntando-lhe se havia já
concluído o seu negócio, lhe tornara que o tinham encontrado os soldados no
caminho, e lhe abriram e tomaram os papéis; e que por este motivo voltava já a
avisar o dito Coronel, a quem reputava àquela hora preso. Mais, se lembra
finalmente ele declarante, dito Pamplona, que quando aquele Vigário de São José lhe falara sobre o recontado levante e
deposição do Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor General, como expressado
tinha na sua carta, acrescentara que os outros não estavam por isto, antes
haviam concordado e assentado que o mesmo Excelentíssimo Senhor deveria ser,
nas críticas e propostas circunstâncias, precisamente decapitado; o que tudo
referido era fiel e verdadeiramente quanto de mais se lhe oferecia declarar e
acrescentar ao já denunciado, debaixo do religioso vínculo do juramento que já tomado
tinha; e de como assim o disse, protestou e ratificou, fiz este termo de
declaração, ratificação e juramento que o mesmo Mestre de Campo Inácio Correia
Pamplona assinou na presença do Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Visconde
de Barbacena, Governador e Capital General desta Capitania, que também este
rubricou, com o dito Doutor Desembargador Pedro José Araújo de Saldanha,
Ouvidor Geral e Corregedor desta Comarca; e eu, o Bacharel José Caetano César
Manitti, Ouvidor e Corregedor da do Sabará, Escrivão nomeado pelo dito
Excelentíssimo Senhor para esta
diligência, o escrevi e assinei, José
Caetano César Manitti, Pedro José Araújo de Saldanha , Inácio Correia Pamplona,
Mestre de Campo Regente.
Envelopes
anexos:
(I)
Ao Sr, João da Silveira
Fernandes meu Amigo e Senhor
guarde Deus muitos anos.
Na Estalagem dos Carijós
À mercê que importa a brevidade da
entrega.
(II)
Ao Senhor Vigário Reverendo
Carlos Correia
de Toledo guarde Deus
São José