domingo, 5 de agosto de 2012

OS INCONFIDENTES



ANEXO 2 — Termo de declaração, ratificação e juramento prestado pelo Mestre de Campo Inácio Correia Pamplona.

Aos trinta dias do mês de maio do corrente ano de mil e setecentos e oitenta e nove, no Palácio desta Capital de Vila Rica de Nossa Senhora do Pilar do Ouro Preto, residência do Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Visconde de Barbacena, Governador e Capitão General desta Capitania, onde foi vindo por ordem do mesmo senhor o Doutor Desembargador Pedro José Araújo de Saldanha do Desembargo de Sua Majestade Fidelíssima, que Deus guarde, Ouvidor Geral e Corregedor desta Comarca, comigo o Bacharel José Caetano César Manitti, Ouvidor Geral e Corregedor da do Sabará, Escrivão nomeado pelo dito Excelentíssimo Senhor para esta diligência, ali compareceu o Mestre de Campo Inácio Correia Pamplona, perante quem foi por mim lida uma carta e representação que o mesmo tinha feito ao dito Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor, que também presente se achava, toda ela escrita em uma folha de papel e datada do dia vinte de abril do corrente ano, em que lhe denunciava o plano de uma sedição levantamento que temerariamente pretendiam concitar nesta Capitania, várias pessoas da primeira graduação e jerarquia dela, declarando-lhe seus nomes e individuando todos os fatos respectivos de que tivera notícia, cuja carta me fora entregue neste mesmo ato e para o referido fim, pelo dito Excelentíssimo Senhor; e depois de assim lida na presença do mencionado Mestre de Campo, o sobredito Ministro Doutor Desembargador lhe deferiu o juramento dos Santos Evangelhos em um livro deles em que pôs sua mão direita, sob cargo do qual lhe encarregou que em boa e sã consciência declarasse e jurasse ele, dito Mestre de Campo Inácio Correia Pamplona, se tinha com efeito escrito e assinado de seu próprio punho a mencionada carta e denúncia que por mim, Escrivão, lhe tinha sido lida e mostrada; e se eram verdadeiros todos e cada um dos fatos nela indicados; e se além destes ainda tinha que delatar alguns outros que lhe houvessem esquecido, ou de que posteriormente à sobredita delatação tivesse notícia; e finalmente se aprovava e de novo ratificava quanto naquela representação delatória havia expedido e circunstanciado; e aceito pelo mesmo Mestre de Campo Pamplona o dito juramento, debaixo dele declarou novamente, protestou e ratificou que a referida carta e denúncia, que eu Escrivão nomeado lhe acabava de ler e mostrado tinha, datada do dia vinte de abril do corrente ano, era identicamente a própria que ele, dito Pamplona, tinha dirigido ao Excelentíssimo Senhor Visconde de Barbacena, atual Governador e Capitão General desta Capitania, que presente se achava na maneira que dito fica; que a mesma era toda escrita e assinada pelo seu próprio punho; que tudo quanto nela relatava era pura verdade, expressada da mesma sorte que o sabia e tinha vindo à sua notícia; cuja denúncia fizera unicamente por zelo do real serviço como bom vassalo de sua Majestade Fidelíssima, e pela fidelidade, que sabia, estava obrigado a guardar por todos os direitos à sua Soberana e Senhora natural; e que, além do que na referida delatação havia fiel e verdadeiramente recenseado, acresciam mais para referir e declarar os fatos seguintes: Que pernoitando o Vigário da Igreja de São José daquela Comarca do Rio das Mortes, Carlos Correia de Toledo, em casa dele dito Mestre de Campo, na noite do dia vinte do mencionado mês de abril, sucedendo ir logo pela manhã cedo visitar o dito Vigário ao seu quarto, o achara já fora deste passeado e por extremo aflito, sobressaltado e inquieto, por cujo motivo, perguntando-lhe a origem da conhecida perturbação em que o via, lhe respondeu este: que pela meia noite antecedente havia recebido a carta que lhe apresentava, a qual ele declarante Pamplona  leu e viu ser de aviso, participando-se nela ao dito Vigário que, na Cidade do Rio de Janeiro, se achavam presos o Alferes de Cavalaria destas Minas Joaquim José da Silva, por alcunha — o Tiradentes — e o Coronel de Auxiliares Joaquim Silvério dos Reis; que em tais circunstâncias se acautelassem; mas que em todo o caso cumpria antes morrer com honra; e quem não era capaz para as empresas, se não devia meter nelas — e não obstante que ele Pamplona nem conheceu a letra da dita carta, nem esta vinha assinada; contudo se persuade que a mesma viera dirigida de casa do Coronel Francisco Antônio de Oliveira Lopes, e que era sem a menor hesitação  cópia de outra original, do que tudo ele Mestre de Campo avisara logo no dia vinte e um do mesmo mês a Sua Excelência, como se realizava de outra carta sua também que o dito Excelentíssimo Senhor neste ato apresentou e que ele, Pamplona, reconheceu pela própria de que faz menção; e que sendo tão grande a perturbação e indecisão em que flutuava o referido Vigário, pondo-se este a escrever para Carijós, para onde viera destinado a fazer jornada, depois de ter já escrito e fechado a carta, se recordou lhe faltava incluir nela uma procuração para um batismo a que ia assistir; e rompendo aquele sobrescrito, com inquietação e confusão em que estava, deixou, quando se retirou, ambos sobre a mesa em que escrevera: isto é, tanto o da carta do aviso já memorada e que também apresentou a Sua Excelência, o qual se achava escrito por letra visivelmente contra-feita e diz: “Ao Senhor Vigário Reverendo Carlos Correia de Toledo, Guarde Deus, São José”; como o outro igualmente exibido e que cobria a carta para Carijós e dizia: “Ao Senhor João da Silveira Fernandes, meu Amigo e Senhor, Guarde Deus muitos anos, na Estalagem dos Carijós, à mercê, que importa a brevidade da entrega”.

Também declara mais ele, dito Mestre de Campo, que vindo logo posteriormente para esta Vila Rica, transitando pelo Arraial do Ouro Branco, lhe contara o Capelão do mesmo que, no sábado antecedente pelas quatro horas da tarde pouco mais ou menos, passara por ali um Alferes dos Pardos por nome Vitoriano, residente no Bichinho, muito bem montado e com pressa; e perguntando-lhe o dito Capelão para onde se dirigia com tanta celeridade, lhe respondera o dito Alferes que ia à cidade de Mariana com cartas, ou recomendações, do Coronel Francisco Antônio de Oliveira Lopes para despachar ou procurar naquela cidade uns papéis para um casamento; e que voltando o mesmo Alferes no domingo logo de manhã cedo, ele dito Capelão se admirara de tanta brevidade, e perguntando-lhe se havia já concluído o seu negócio, lhe tornara que o tinham encontrado os soldados no caminho, e lhe abriram e tomaram os papéis; e que por este motivo voltava já a avisar o dito Coronel, a quem reputava àquela hora preso. Mais, se lembra finalmente ele declarante, dito Pamplona, que quando aquele Vigário de São  José lhe falara sobre o recontado levante e deposição do Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor General, como expressado tinha na sua carta, acrescentara que os outros não estavam por isto, antes haviam concordado e assentado que o mesmo Excelentíssimo Senhor deveria ser, nas críticas e propostas circunstâncias, precisamente decapitado; o que tudo referido era fiel e verdadeiramente quanto de mais se lhe oferecia declarar e acrescentar ao já denunciado, debaixo do religioso vínculo do juramento que já tomado tinha; e de como assim o disse, protestou e ratificou, fiz este termo de declaração, ratificação e juramento que o mesmo Mestre de Campo Inácio Correia Pamplona assinou na presença do Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Visconde de Barbacena, Governador e Capital General desta Capitania, que também este rubricou, com o dito Doutor Desembargador Pedro José Araújo de Saldanha, Ouvidor Geral e Corregedor desta Comarca; e eu, o Bacharel José Caetano César Manitti, Ouvidor e Corregedor da do Sabará, Escrivão nomeado pelo dito Excelentíssimo Senhor  para esta diligência, o escrevi e assinei, José Caetano César Manitti, Pedro José Araújo de Saldanha , Inácio Correia Pamplona, Mestre de Campo Regente.

Envelopes anexos:

(I) Ao Sr, João da Silveira
     Fernandes meu Amigo e Senhor
     guarde Deus muitos anos.
     Na Estalagem dos Carijós
     À mercê que importa a brevidade da entrega.

(II) Ao Senhor Vigário Reverendo
      Carlos Correia
      de Toledo guarde Deus
      São José