Mas
Manuelzão menos entendia o mover-se das mulheres, surgidas quase de repente de
toda parte, muitas ele nem conhecia. Mau o acordo com que elas se juntavam,
semelhavam batalhão de mutirão. À sonsa, queriam afastá-lo? Enquanto fora obra
de roçar a marca, torar madeira e carrear o materiame, fincar os esteios,
levantar os oitões, e terminar —ele mestreara. Mas entre homens, seus homens.
Agora, as mulheres tomavam conta. E ele ia ter algum jeito? A que fugiam de o
encarar, sonseavam. — “Falta uma pia de água benta...” — ele reparava, de
supetão, na voz de comandar mil bois. E elas se arredando, saias astúcias, que
nem um excomungado ele fosse. Fechava então o silêncio, para ser como uma
zanga. Depois, tomava cuidado de dirigir-se a Leonísia, ou a alguma das dos
vaqueiros. Ainda essas, sem perder-lhe o respeito, em curto respondiam, meio
sem paciência, pareciam só pertencentes ao bando de todas. Não, ninguém lhe
faltaria com o respeito, ali na Samarra ele era o chefe. Só que não percebia os
espíritos do mulherio reunido; e aquele arremate para a festa tinha de ser de
muitas mãos. Assim como não achava senso nas prendas que o povo aportava, para
oferecerem a sua Nossa-Senhora da capela. Eles eram espantantes.
João
Guimarães Rosa
Uma
Estória de Amor
(Festa
de Manuelzão)
em
Corpo de Baile
(Sete
Novelas) – 1º volume
José
Olympio. Rio de Janeiro.
1ª
edição. 1956.