sexta-feira, 31 de agosto de 2012
PANEM NOSTRUM
A
torre de marfim, a torre alada,
esguia
e triste sob o céu cinzento,
corredores
de bruma congelada,
galerias
de sombras e lamentos.
A
torre de marfim fez-se esqueleto
e
o esqueleto desfez-se num momento.
Ó!
não julgueis as coisas pelo aspecto
que
as coisas mudam como muda o vento.
E
com o vento revive o que era inerme.
Os
peixes também podem criar asas
as
asas brancas podem gerar vermes.
Olhei
a torre de marfim exangue
e
vi a torre transformar-se em brasa
e
a brasa rubra transformar-se em sangue.
Jorge
de Lima
Livro
de Sonetos
quinta-feira, 30 de agosto de 2012
A BÍBLIA SAGRADA
Aconteceu
que, depois desses fatos, a mulher de seu senhor lançou os olhos sobre José e
disse: “Dorme comigo!” Mas ele se recusou e disse à mulher de seu senhor:
“Estando eu aqui, meu senhor não se preocupa com o que se passa na casa e
me confiou tudo o que lhe pertence. Ele
mesmo não é, nesta casa, mais poderoso do que eu: nada me interditou senão a
ti, porque és sua mulher. Como poderia eu realizar um tão grande mal e pecar
contra Deus?” Ainda que ela lhe falasse a cada dia, José não consentiu em
dormir a seu lado e se entregar a ela.
Ora,
certo dia José veio à casa para fazer seu serviço e não havia na casa nenhum
dos domésticos. A mulher o agarrou pela roupa, dizendo: “Dorme comigo!” Mas ele
deixou a roupa nas suas mãos, saiu e fugiu. Vendo que ele deixara a roupa nas suas mãos e que fugira, ela chamou
seus domésticos e lhes disse: “Vede! Ele nos trouxe um hebreu para nos
insultar. Ele se aproximou para dormir comigo, mas lancei um grande grito, e
vendo que eu levantava a voz e gritava, deixou sua roupa a meu lado e fugiu.”
Quando o marido ouviu o que lhe dizia sua mulher: “Eis de que maneira teu
escravo agiu para comigo”, sua cólera se inflamou. O senhor de José mandou
apanhá-lo e pô-lo na prisão, onde estavam os prisioneiros do rei.
Assim,
ele ficou na prisão. Mas Iahweh assistiu José, estendeu sobre ele sua bondade e
lhe fez encontrar graça aos olhos do carcereiro-chefe. O carcereiro-chefe
confiou a José todos os detidos que estavam na prisão; tudo o que se fazia
passava por ele. O carcereiro-chefe não se ocupava de nada do que lhe fora
confiado, porque Iahweh o assistia e fazia prosperar o que ele empreendia.
Gn
39, 7-23
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
OS NOVOS INCONFIDENTES
APOSENTADORIA (cont.)
Geraldo
de Souza
Geraldo
Lourenço Mafra
Geraldo
Marques
Geraldo
Quartim
Geraldo
Rodrigues dos Santos
Gerd
Alberto Bornhein
Germano
Soares
Gérson
Alves Baraúna
Gerson
de Brito Melo Boson
Gésio
Batista de Almeida
Gibson
Barbosa de Almeida Pinho
Gil
Correa da Silva
Gilberto
Braun
Gilberto
Canedo de Magalhães
Gilberto
de Mendonça Teles
Gilberto
Hauagem Soares
Gilberto
Monteiro Pinto
Gilberto
Nascimento da Cruz
Gilberto
Pontes de Andrade
Gilberto
Ronaldo Campello de Azevedo
Gilberto
Soares Farias
Glênio
Martins Peçanha
Godofredo
Bello
Grinaldo
José da Silva
Guido
Antônio de Almeida
Gilherme
Soares de Lima
Guiomar
Caram
Guy
José Paulo de Holanda
Haity
Moussatché
Hamílton
de Barros Vellasco
Haroldo
Cícero de Morais
Hassin
Gabriel Merediff
Hélcio
Gomes Moraes
Hélcio
Pereira Soares
Helena
Alves de Souza
Hélio
de Souza Mafra
Hélio
Garcia
Hélio
Guia Fontes
Hélio
Lobato Vale
Hélio
Lourenço de Oliveira
Hélio
Lucas de Oliveira
Hélio
Mangeon
Hélio
Marques da Silva
Hélio
Pelegrino
Hélio
Tupinambá da Fonseca
Hélion
Nunes da Rosa
Hênio
Lopes
Herculano
Alfredo de Oliveira
Herman
Lent
Hermano
Alfredo Netto de Sá
Hermenegildo
Pinto Guimarães
Hermes
Lima
Hermógenes
Reis
Hermógenes
Siqueira Franco
Herondino
Ignácio da Silva
Hildebrando
Falcão
A SANÇÃO SOFRIDA PELOS PROFESSORES
[...] A sanção sofrida pelos professores e
pesquisadores punidos pelo AI-5 tem uma característica profundamente injusta e
diabolicamente cruel: ela é total e perpétua.
É total porque os aposentados
pelo nefando Ato foram, pelo Ato Complementar nº 77 de 22 de outubro de 1969,
proibidos de, a qualquer título, exercer qualquer atividade em instituições de
ensino ou pesquisa oficiais ou que recebessem qualquer subvenção oficial, isto
é, praticamente todos os estabelecimentos dessa natureza no Brasil.
Fecharam-se todas as portas às
suas vítimas.
Esse ato complementar, que é uma
obra prima de maldade, teve sua legitimidade contestada pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, baseada em bem fundamentado parecer
jurídico, mas foi amplamente aplicado em todas as Universidades brasileiras.
A sanção é perpétua porque não
teve sua vigência limitada, ao contrário da suspensão dos direitos políticos
que foi restrita a 10 anos.
Em conseqüência vemos diariamente
políticos cassados voltarem à atividade partidária e mesmo concorrerem a
eleições, muitos deles conquistando mandatos populares.
Atualmente no Brasil não há mais
prisões perpétuas, extinguiu-se a pena de morte, aboliu-se o banimento.
Mas os professores e os pesquisadores
científicos continuam impedidos de exercer suas atividades, em claro
desrespeito a um dos mais sagrados direitos humanos: o direito ao trabalho.
A singularidade desta pena cria
situações extremamente anômalas como a do eminente Professor Fernando Henrique
Cardoso, que, tendo sido aposentado como docente da Universidade de São Paulo e
tido seus direitos políticos cassados, foi eleito a 15 de novembro suplente do
Senador Franco Montoro. Poderá, então, se convocado para exercer a senatoria
falar a todo o povo brasileiro da mais alta tribuna, o Senado Federal, mas
continuará impedido de lecionar a meia dúzia de alunos dentro de uma sala de
aula.
O mesmo poderá acontecer ao nosso
querido Professor Edgar de Godói da Mata-Machado, que recentemente filiado ao
Movimento Democrático Brasileiro, se o quiser, conquistará sem dúvida, na
primeira eleição, um mandato eletivo, mas permanecerá afastado de sua Faculdade
de Direito, que tanto honrou, caso persista a situação atual.
Cabe aqui uma pergunta: serão os
professores tão terrivelmente mais perigosos à segurança nacional que os
políticos?
A inexplicável e extrema
severidade, digamos mesmo crueldade, das sanções impostas aos intelectuais fez
com que, em grande número, buscassem em países estrangeiros a oportunidade de
sobrevivência que lhes era negada no Brasil e hoje ocupam cargos de grande
responsabilidade em instituições de importância mundial, como o Instituto
Pasteur de Paris, O Instituto Rockefeller de Nova York, a Organização Mundial
de Saúde e várias universidades da Europa e da América.
Apesar disso, muitos deles, senão
todos, desejam ardentemente regressar à Pátria, mas como fazê-lo se aqui lhes
são negados os simples meios de subsistência e mesmo o indispensável
passaporte?
Não seriam esses homens úteis ao
Brasil, como o são a outros países? Ou será que a Revolução, como a sua
congênere francesa, não precisa de sábios? [...]
[...] Embora tenha sido para mim
motivo de viva alegria e imenso conforto, não me causou qualquer surpresa a
atitude do Instituto de Ciências Biológicas , através da sua Congregação,
conferindo-me o título de Professor Emérito, o mais alto que pode almejar um
velho professor universitário aposentado.
Não me surpreendeu porque conheço
bem meus colegas. Deles tenho recebido desde os torvos dias de setembro de 1969
as mais claras provas de solidariedade, ainda em plena vigência do regime de
denúncias, delações, vinganças e perseguições, movidas pelo ódio e pela inveja,
que caracterizou aquele negro período de nossa história, quando os punidos pelo
sistema eram considerados tabu, mais perigosos que os leprosos na Idade Média
ou os judeus durante o terror nazista e cuja simples aproximação poderia
constituir grave risco. [...]
[...] Tive a suprema ventura de
participar da luta vitoriosa contra o terror nazi-fascista nos campos de
batalha da Itália, junto com os meus companheiros da Força Expedicionária Brasileira [...]
Prof. Amílcar Vianna Martins
Pela Democracia, por uma
Sociedade Humana
Discurso por ocasião do recebimento
do título de
Professor Emérito da UFMG
Vega. Belo Horizonte. 1979.
terça-feira, 28 de agosto de 2012
UM APRENDIZ DE FEITICEIRO
Cavalo
lírico
da
solidão — é quando
são
quatro patas
no
chão — tambor da noite
tão
retumbante.
Cavalo
empírico
é
quando ao sangue furta
a
flor das matas
sua
cor de prata líquida
(a
ultraviolante).
Mas
o
onírico corcel
um
cavalo sonâmbulo
de
blau rompante
que
pasta as natas
do
puro sal da infância
é
um cavalo louco
de
elmo de lata
ou
à chuva azul de Minas
um
almirante.
1960.
segunda-feira, 27 de agosto de 2012
OTELO E SANT'IAGO
O
AGREGADO
Nem
sempre ia naquele passo vagaroso e rígido. Também se descompunha em acionados,
era muita vez rápido e lépido nos movimentos, tão natural nesta como naquela
maneira. Outrossim, ria largo, se era preciso, de um grande riso sem vontade,
mas comunicativo, a tal ponto as bochechas, os dentes, os olhos, toda a cara.
toda a pessoa, todo o mundo pareciam rir nele. Nos lances graves, gravíssimo.
Era
nosso agregado desde muitos anos; meu pai ainda estava na antiga fazenda de
Itaguaí, e eu acabava de nascer. Um dia, apareceu ali vendendo-se por médico
homeopata; levava um Manual e uma
botica. Havia então um andaço de febres; José Dias curou o feitor e uma
escrava, e não quis receber nenhuma remuneração. Então meu pai propôs-lhe ficar
ali vivendo, com pequeno ordenado. José Dias recusou, dizendo que era justo
levar a saúde à casa de sapé do pobre.
—Quem
lhe impede que vá a outras partes? Vá aonde quiser, mas fique morando conosco.
—
Voltarei daqui a três meses.
Voltou
dali a duas semanas, aceitou casa e comida sem outro estipêndio, salvo o que
quisessem dar por festas. Quando meu pai foi eleito deputado e veio para o Rio
de Janeiro com a família, ele veio também, e teve o seu quarto ao fundo da
chácara. Um dia, reinando outra vez febres em Itaguaí, disse-lhe meu pai que
fosse ver a nossa escravatura. José Dias deixou-se estar calado, suspirou e
acabou confessando que não era médico. Tomara esse título para ajudar a
propaganda da nova escola, e não o fez sem estudar muito e muito; mas a
consciência não lhe permitia aceitar mais doentes.
—
Mas, você curou das outras vezes.
—
Creio que sim; o mais acertado, porém, é dizer que foram os remédios indicados
nos livros. Eles, sim, eles, abaixo de Deus. Eu era um charlatão...Não negue;
os motivos do meu procedimento podiam ser e eram dignos; a homeopatia é a
verdade, e, para servir à verdade, menti; mas é tempo de restabelecer tudo.
Não
foi despedido, como pedia então; meu pai já não podia dispensá-lo. Tinha o dom
de se fazer aceito e necessário; dava-se por falta dele, como de pessoa da
família. Quando meu pai morreu, a dor que o pungiu foi enorme., disseram-me,
não me lembra. Minha mãe ficou-lhe muito grata, e não consentiu que ele
deixasse o quarto da chácara; ao sétimo dia, depois da missa, ele foi
despedir-se dela.
—
Fique, José Dias.
—
Obedeço, minha senhora.
Teve
um pequeno legado no testamento, uma apólice e quatro palavras de louvor.
Copiou as palavras, encaixilhou-as e pendurou-as no quarto, por cima da cama.
“Esta é a melhor apólice”, dizia ele muita vez. Com o tempo, adquiriu certa
autoridade na família, certa audiência, ao menos; não abusava e sabia opinar
obedecendo. Ao cabo, era amigo, não direi ótimo, mas nem tudo é ótimo neste
mundo. E não lhe suponhas alma subalterna; as cortesias que fizesse vinham
antes do cálculo que da índole. A roupa durava-lhe muito; ao contrário das
pessoas que enxovalham depressa o vestido novo, ele trazia o velho escovado e
liso, cerzido, abotoado, de uma elegância pobre e modesta. Era lido, posto que
de atropelo, o bastante para divertir ao serão e à sobremesa, ou explicar algum
fenômeno, falar dos efeitos do calor e do frio, dos pólos e de Robespierre.
Contava muita vez uma viagem que fizera à Europa, e confessava que, a não
sermos nós, já teria voltado para lá; tinha amigos em Lisboa, mas a nossa
família, dizia ele, abaixo de Deus, era tudo.
—
Abaixo ou acima? — perguntou-lhe tio Cosme um dia.
—
Abaixo — repetiu José Dias cheio de veneração.
E
minha mãe, que era religiosa, gostou de ver que ele punha Deus no devido lugar,
e sorriu aprovando. José Dias agradeceu de cabeça. Minha mãe dava-lhe de quando
em quando alguns cobres. Tio Cosme, que era advogado, confiava-lhe a cópia de
papéis de autos.
Machado
de Assis
Dom
Casmurro
domingo, 26 de agosto de 2012
EMANUEL E FEDERICO
EMANUEL
E FEDERICO
Que
povo, o desse baixio, dum sertão, das brenhas! De onde tiravam as estúrdias
alfaias, e que juízo formavam da festa que ia ser, da missa na Samarra, na
capelinha feita? Esse cafarnaúm! As lascas de pedras-de-amolar, uma buzina
amarela de caçador, um bacamarte boca-de-sino todo ferrugem, uma oitavada
lanterninha, rosários de fava-vermelha, santa-rita e mariola; um rabudo — armadilha de ferro, de pegar
tatu em entrada de buraco; punhados de penas de arara, um dente de gente com
ponto de ouro, um frasco azulado, as velhas cartas dum baralho; e esteiras,
cestos, sacolas, caixinhas, tapas — tudo que da folha do buriti se fabricava. E
até um grosso livro de contas, todas as páginas preenchidas, a tinta descorável,
e que de certo fora, em tempos, de algum grande fazendeiro lavrar em limpo seus
negócios. E mais até uma mortalha de homem, de ganga roxa, que nunca servira,
porque a tinham costurado com despropositada urgência, mas o corpo do defunto,
afogado no rio, não se achara. Criancice duma boa gente, que remexia em seus
trastes, alguma coisa tinham de trazer,menos as mãos vazias. Será pensavam
preciosos só para Nosso Senhor e a Virgem esses objetos fora de serventia
trivial, mas com bizarria de luxo ou de memória? Talvez então eles também fossem
espertos, ladinos demais, quando compareciam com aquela trenzada — por não ter
saída em comércio, nem nenhum outro seguro custo? Manuelzão, em sutil,
desconfiava deles.
João
Guimarães Rosa
Uma
Estória de Amor
(Festa
de Manuelzão)
em
Corpo de Baile
(sete
novelas) – 1º volume
José
Olympio. Rio de Janeiro.
1ª
edição. 1956.
sábado, 25 de agosto de 2012
OS INCONFIDENTES
CARTA-DENÚNCIA
DO TEN.-CEL. FRANCISCO DE PAULA FREIRE DE ANDRADA; VILA RICA, 17-05-1789.
Ilustríssimo
e Excelentíssimo Senhor.
Foi
Vossa Excelência servido ordenar escrevesse eu o mesmo que tive a honra
comunicar-lhe no dia treze deste mês; e como seja incontestável a cega
obediência que devo às determinações de Vossa Excelência, farei todo o possível
para as executar com toda a fidelidade e pureza. Meu Senhor, em dias do mês de
janeiro vieram à minha casa o Coronel Inácio José de Alvarenga, o Alferes
Joaquim José da Silva Xavier e o Vigário Carlos Carreia de Toledo; e depois de
me haverem cumprimentado, passaram a tratar do estado atual deste país, das
suas produções e dos motivos da total decadência em que se acha, e do quanto
poderia ser feliz se fosse habitado por outra Deusqualquer nação que não fora a
portuguesa, porém como a matéria não estimulasse a minha curiosidade a indagar
o fim a que se dirigia, retiraram-se.
Passados
alguns dias tornaram, e pouco depois o Reverendo Padre José da Silva Rolim; e à
matéria que se tinha anteriormente jogado, ligaram as seguintes reflexões: que
os povos se acham aflitos e consternados com a notícia da nova derrama, e por
este motivo dispostos para qualquer ação que se encaminhasse a favorecê-los; e
que até se lembrariam de formar uma sublevação, se não temessem a oposição da
Tropa.
Bem
que me parecesse isto mais tresvario que reflexões sérias, contudo quis
certificar-me ponderando-lhes algumas cousas que me pareceram mais próprias
para conhecer os seus ânimos. Não me enganei, porque logo que tornaram a si,
ridicularizaram a matéria de tal forma que em poucos instantes a caracterizaram
por uma verdadeira cena de teatro. Mas como a delicadeza da matéria não pedia
um total desprezo, não a deixei jamais perder de vista, fazendo com alguma
dissimulação as precisas observações. Acontecendo ir depois a casa do
Tenente-Coronel Domingos Abreu a despedir-me, e do Reverendo Padre José da Silva
Rolim que se achava seu hóspede, encontrei na mesma o Alferes Joaquim José da
Silva Xavier; e pude alcançar que ao referido Tenente-Coronel não era estranha
a matéria que se tinha tratado. Foi este o estado, Excelentíssimo Senhor, que
deixei, quando desta Capital saí com licença de Vossa Excelência para a minha
fazenda, onde se passaram dois meses, com pouca diferença, sem ter a mais leve
notícia da estado deste negócio.
Contudo,
não me pareceu justo deixar de adiantar a carta de dois de abril, que tive a
honra de pôr na respeitável presença de Vossa Excelência, até que pudesse
diligenciar notícias que me parecessem suficientes para dar uma circunstanciada
parte cheia de fundamentos mais sólidos. Passando depois o Coronel Alvarenga,
quando se retirava desta Capital, pela minha fazenda, usei com ele de alguns
meios que julguei mais a propósito para instruir-me do estado destas coisas;
deu-me a entender que não só se não tratava de semelhante matéria, mas que a
suspensão da derrama sepultara até a mesma lembrança. Porém, passados tempos,
me veio a mão uma carta sem nome, que me não dava a menor idéia de quem fosse
pela disformidade dos seus caracteres, e constava, segundo a minha lembrança,
das palavras seguintes:
“O
Sargento-Mor foi para a Cachoeira, onde se trata de dar-lhe um grande tombo;
assim, recolha-se; e quando ouvir grita “viva o povo”, saia prontamente, quando
não a vida lhe há de custar e a sua casa será arrasada.”
Bem
que esta carta concorresse pouco para se fazer um discurso sério e fundamentar
a minha parte, pois é certo que não tinha delito que obrigasse a Vossa
Excelência a um procedimento tão forte, nem conhecimento de que este negócio
pudesse ter adquirido um adiantamento tão rápido em tão pouco tempo, contudo,
como haviam as antecedências já expostas, poderia algum da parcialidade tomar a
indiscreta resolução de querer fazer algum rompimento sem atender às
conseqüências . Estas foram as razões que me moveram a pôr na presença de Vossa
Excelência esta parte, logo que a minha enfermidade me permitiu, para que Vossa
Excelência pudesse tomar aquelas medidas que lhe parecessem mais acertadas, e
viesse no conhecimento da lembrança que conservo das obrigações que me impõem o
nome de fiel vassalo e igualmente as do meu nascimento. É o que me oferece a
pôr na respeitável presença de Vossa Excelência de quem tenho a honra e a
felicidade de ser, como o mais profundo respeito,
Ilustríssimo
e Excelentíssimo Senhor Visconde de Barbacena,
De
Vossa Excelência
Súdito
mais humilde
Francisco
de Paula Freire de Andrada
Vila
Rica, 17 de maio de 1789.
Reconheço
a letra e firma da carta retro ser feita pelo próprio punho do Tenente-Coronel
Francisco de Paula Freira de Andrada, por outras semelhantes letras e firmas
que lhe tenho visto, em fé do que passo a presente.
Vila
Rica, 15 de junho de 1789.
José
Caetano César Manitti
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
MACHADO
O
VIGOR DA JUVENTUDE
Pouco
se sabe sobre a vida de Machado até os quinze anos de idade. Sua modesta
família não protagonizou proeza, tampouco acumulou patrimônio ou fez nome. Por
sua vez, o escritor obscureceu as origens de modo a criar de si a imagem que
convinha expor ao mundo.
Em
seus primeiros poemas, lamentou a morte da mãe e da irmã, mas nada deixou
transparecer sobre as condições em que vivia. Em depoimentos, evitou habilmente
assuntos delicados, como a irregularidade dos estudos. Pouco disse sobre o
aprendizado de idiomas estrangeiros.
A
partir de 1854, porém, podemos acompanhá-lo pelos jornais e revistas. Estreou
em poesia, gênero mais prestigioso daquele momento, quando a ficção apenas se
preparava para a fulgurante carreira que lhe caberia. O debutante não
demonstrou nenhuma aptidão especial, passível de passar por traço de gênio, mas
o importante era se lançar.
Igual
coragem demonstrou ao se imiscuir entre os maiores poetas e prosadores
brasileiros em atividade, que o acolheram bem. Admiradores do bom texto,
perceberam o potencial do neófito — a quem impulsionaram.
Em
1763, o Rio de Janeiro se tornou a capital da colônia. Em 1808, viveu um grande
salto civilizatório, ao receber a família real e uma comitiva de portugueses
com boa formação. Nada disso impediu, porém, que ao final da década de 1830 a sede do Império
brasileiro fosse suja, insalubre e mal iluminada.
Por
falta de saneamento, os dejetos eram transportados por carroças e escravos até
o mar. A tuberculose e outras moléstias assolavam. Freqüentes eram as epidemias
de doenças como cólera e sarampo. A pessoa que sobrevivesse a tantas ameaças e
chegasse aos cinqüenta anos de idade tinha motivo de sobra para comemorar.
Os
quase 300 mil habitantes se distribuíam irregularmente pelo perímetro urbano,
no qual se privilegiava a zona central. Os montes próximos ao porto eram
ocupados por instalações militares e religiosas, assim como por grandes
chácaras e quintas organizadas em torno de mansões.
Uma
dessas propriedades era o Morro do Livramento, pertencente a uma família portuguesa
servida por vários escravos e agregados. Entre os últimos vivia a branca
açoriana Maria Leopoldina Machado da Câmara, que desempenhava tarefas caseiras
como costura e bordado.
Em
certo momento, a colina passou a ser freqüentada pelo mulato forro Francisco
José de Assis, que provavelmente subira para
prestar serviços. Encantado por Maria Leopoldina, esse pintor de parede
e dourador foi correspondido: contraíram núpcias quando ela tinha 26 anos e
ele, 32.
No
dia 21 de junho de 1839, Maria Leopoldina deu à luz Joaquim Maria Machado de
Assis. O fato de terem transcorrido apenas dez meses e dois dias desde o
casamento parecia prenúncio de numerosa prole. No entanto, o casal teve apenas
mais uma filha, Maria, vinda ao mundo a 3 de maio de 1841.
Os
laços com os proprietários se reforçaram: Machado teve como madrinha a viúva
Maria José de Mendonça Barroso Pereira, então dona exclusiva do Livramento,
cuja filha batizou Maria Machado de Assis. Dava-se continuidade ao hábito de os
padrinhos serem pessoas de posses, por conseguinte em condições de assumir os
afilhados em caso de desgraça dos pais.
Podemos
imaginar o autor levando alguns anos de vida familiar normal, humilde mas
digna. Frágil de compleição, porém impulsionado pela energia da idade, corria
para cima e para baixo, percorria as construções, extasiava-se com a visão da
cidade maravilhosa. Também aprendia a ler e escrever, provavelmente com sua
mãe, que era alfabetizada, portanto, como afirmou o biógrafo Jean-Michel Massa
“podia transmitir a Joaquim Maria o seu conhecimento”.
Todavia
as tragédias surgiram repentina e sucessivamente, levando primeiro a irmã de
quatro anos, vítima de uma epidemia de sarampo. Quase quatro anos depois,
faleceu a mãe, tísica. Como a madrinha morrera antes, restou apenas o pai, com
quem Machado viveu sozinho por mais de cinco anos.
Aos
48 anos, Francisco José casou com a mulata Maria Inês da Silva, que não teve
filhos e, afetuosa, fez-se uma verdadeira mãe do enteado. O trio ocupava agora
um pequeno sobrado em
São Cristóvão , onde usufruía de uma convivência doméstica
harmoniosa.
A
despeito de sua importância histórica, porém, o bairro jamais ofereceria tantas
oportunidades quanto o centro da cidade, a apenas alguns quilômetros dali. À
época, o transporte até o Cais Pharoux, na Praça XV, era feito de barca, na
qual um rapazola passava todo o trajeto lendo, alheio a pessoas, belezas
naturais e edificações. Era Machado, a compensar a falta de estudos regulares
embebendo-se de literatura.
Dau
Bastos
Machado
de Assis
num
recanto, um mundo inteiro
Garamond.
Rio de Janeiro. 2008.
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
O QUE JESUS ENSINOU E OS CRISTÃOS REPUDIAM
Nem
todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino dos Céus, mas sim
aquele que pratica a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão
naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizamos e em teu
nome que expulsamos demônios e em teu nome que fizemos muitos milagres?’ Então
eu lhes declararei: ‘Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, vós que praticais a
iniqüidade.
Assim,
todo aquele que ouve essas minhas palavras e as põe em prática será comparado
ao homem sensato que construiu sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as
enxurradas, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, mas ela não caiu,
porque estava alicerçada na rocha. Por outro lado, todo aquele que ouve essas
minhas palavras, mas não as pratica, será comparado ao homem insensato que
construiu a sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, vieram as enxurradas,
sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela desmoronou. E foi grande
sua ruína!”
Aconteceu
que ao terminar Jesus essas palavras , as multidões ficaram extasiadas com o
seu ensinamento, porque as ensinava com autoridade e não como os seus escribas.
Mt
7, 21-28
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
GR
A
HORA E A VEZ DE JOÃO GUIMARÃES ROSA
Escrita
integralmente ao longo do século XX, a obra do criador de Riobaldo e Augusto
Matraga amplifica o legado regionalista e agrega novas paragens, fazendo do
sertão uma metáfora da literatura de nosso tempo
Esta
20ª edição, comemorativa dos 10 anos dos CADERNOS DE LITERATURA BRASILEIRA,
homenageia aquele que é considerado o maior escritor brasileiro do novecentos.
Ponto culminante de uma tendência que atravessa nossa literatura — o
regionalismo —, a obra de João Guimarães Rosa é ao mesmo tempo sua superação ao
assimilar e amplificar as outras vertentes da invenção ficcional e poética que
caracterizam o período mais fértil das letras do país. Contemporâneo de
romancistas como Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Clarice Lispector, de
poetas como Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo
Neto, o autor de Sagarana (livro que
este ano completa 60 anos) e Grande
Sertão: Veredas (que há meio século transformou radicalmente nossa paisagem
literária) pode ser considerado o resumo e o ápice de seu tempo.
Já
se disse sobre o continente rosiano que ele contém o local e o universal, o
arcaico e o mítico, o documental e o metafísico, vazados numa linguagem que
recria as palavras e desliza sobre uma geografia simbólica. O fato de
continuarmos a dizê-lo sob diferentes ângulos apenas reitera o que todo leitor
sente ao percorrer suas páginas: o sertão de Rosa, com seus jagunços e buritis,
excede as condições históricas e o perfil social da região na qual parece tão
profundamente enraizada. Antonio Candido — numa resenha feita no calor da hora,
quando Sagarana começava a assombrar
leitores e críticos — notou essa singularidade em relação aos demais
regionalistas:
A
província do sr. Guimarães Rosa , no
caso Minas, é menos uma região do Brasil do que uma região da arte, com
detalhes e locuções e vocabulário e geografia cosidos de maneira por vezes
quase irreal, tamanha é a concentração com que trabalha o autor. (...) Sagarana não é um livro regional como os
outros, porque não existe região igual à sua, criada livremente pelo autor com
elementos caçados analiticamente e, depois, sintetizados na ecologia belíssima
de suas histórias.
Transcendendo
o critério regional por meio de uma condensação do material observado
(condensação mais forte do que qualquer outra em nossa literatura da “terra”) o
sr. Guimarães Rosa como que iluminou, de repente, todo o caminho feito pelos seus
antecessores. (“Notas de crítica literária — Sagarana”, Textos de intervenção.
Desde
então, e sob o impacto das obras publicadas posteriormente — o ciclo novelesco Corpo de Baile, Grande Sertão: Veredas e
livros póstumos como Estas Estórias e
Ave, Palavra —, a crítica vem
enfatizando a idéia seminal de que o sertão de Guimarães Rosa é uma
reconstrução alegórica do mundo e que suas narrativas, sejam contos mais breves
ou seu único romance, perfazem o ambicioso projeto de fundar uma cosmologia
literária da qual o escritor é uma espécie de demiurgo, criando os seres e os
signos que os nomeiam. Leituras nem sempre convergentes, muitas vezes
conflitantes, todas no entanto salientam o fato de que sua ficção aponta para
um espaço imaginário, carregado de mistérios e símbolos que convidam à
decifração, descolando-se assim do solo percorrido por seus viventes.
Em
“Céu, Inferno”, Alfredo Bosi afirma:
No
ensaio “O mundo misturado”, Davi Arrigucci Jr. propõe que o entrecruzamento de
elementos da cultura comunitária e de uma religiosidade tradicional com
questões próprias da sociedade e do indivíduo modernos faz do sertão rosiano um
lugar onde se materializam ficcionalmente as forças contraditórias de nossa
modernização periférica — figurada nessa mistura temporal e formal (épica,
literatura oral, romance de formação) que coloca Grande Sertão: Veredas na trilha de uma totalidade buscada pelo
grande romance moderno. Mistura essa que reaparece em o O ,
de João Adolfo Hansen, sob um viés radicalmente antimimético: descartando todas
as leituras que perseguem correspondências entre o texto e um além do texto,
entre a letra e sentidos pré-existentes
a ela (padrões lingüísticos, mitologias, ideologemas etc.). Hansen vê no
romance um deslocamento incessante de estórias que se cancelam reciprocamente,
produzindo sobre a ilusão da referencialidade uma pura indeterminação, uma
negatividade consubstanciada na expressão nonada:
uma cosmogonia no nada, como texto que a tudo pode incluir e deglutir em seu
diabolismo”.
Esses
três exemplos são representativos de uma vastíssima fortuna crítica à qual a
presente edição dos CADERNOS DE LITERATURA BRASILEIRA vem acrescentar algumas
contribuições fundamentais. A começar por um depoimento hoje tingido de forte
conotação simbólica: o texto da poetisa Dora Ferreira da Silva que abre a seção
“Confluências” e acompanha as lembranças do embaixador Rubens Ricupero sobre a
experiência de Guimarães Rosa como diplomata, as anotações do bibliófilo José
Mindlin sobre seu encontro com o escritor, em Paris, e a transcrição de uma
entrevista inédita de Manuelzão, vaqueiro que viajou com o escritor pelo
interior de Minas, tornando-se personagem de “Uma Estória de Amor (Festa de
Manuelzão)”, novela integrante de Corpo
de Baile. Escrito poucas semanas antes de sua morte, o último texto em
prosa da autora de —cuja imagem se funde com a de Guimarães
Rosa na memória da poetisa, que recorda o dia em que acreditou vê-lo montado
num cavalo à porta de sua casa em
São Paulo.
“João
Guimarães Rosa, bardo do Brasil, inventor de mundos, a nossa paidéia, o nosso Homero”, escreve Dora
na abertura de um texto que, à parte sei inestimável valor documental, coloca o
escritor no rol dos clássicos da literatura universal e ecoa o célebre aforismo
de Pessoa: “Deve haver, no mais pequeno poema de um poeta qualquer coisa por
onde se note que existiu Homero”. Poeta da língua portuguesa, épico de um
sertão arquetípico, Guimarães Rosa transformou a topografia em topos — o que faz dele um clássico
naquela acepção inaugurada pelo autor da Odisséia.
Cadernos
de Literatura Brasileira
João
Guimarães Rosa
números
20 e 21. Dezembro de 2006.
Instituto
Moreira Salles.
terça-feira, 21 de agosto de 2012
PANEM NOSTRUM
CLAMANDO...
Bárbaros
vão, dementes e terríveis
Bonzos
tremendos de ferrenho aspecto,
Ah!
deste ser todo o clarão secreto
Jamais
pôde inflamar-vos, Impassíveis!
Tantas
guerras bizarras e incoercíveis
No
tempo e tanto, tanto imenso afeto,
São
para vós menos que um verme e inseto
Na
corrente vital pouco sensíveis.
No
entanto nessas guerras mais bizarras
De
sol, clarins e rútilas fanfarras,
Nessas
radiantes e profundas guerras...
As
minhas carnes se dilaceraram
E
vão, das Ilusões que flamejaram,
Com
o próprio sangue fecundando as terras...
Cruz
e Sousa
Broquéis
segunda-feira, 20 de agosto de 2012
A BÍBLIA SAGRADA
José
fora portanto levado ao Egito. Putifar, eunuco do Faraó e comandante dos
guardas, um egípcio, comprou-o dos ismaelitas que o levaram para lá. Ora,
Iahweh, assistiu a José, que em tudo teve êxito, e ficou na casa de seu senhor,
e egípcio. Como seu senhor via que Iahweh o assistia e fazia prosperar, em suas
mãos, tudo o que empreendia, José encontrou graça a seus olhos: foi posto a
serviço do senhor, que o instituiu seu mordomo e lhe confiou tudo o que lhe
pertencia. E a partir do momento em que ele foi foi preposto à sua casa e ao
que lhe pertencia, Iahweh abençoou a casa do egípcio, em consideração a José: a
bênção de Iahweh atingiu tudo o que ele possuía em casa e nos campos. Então
entregou nas mãos de José tudo o que tinha e, com ele, não se preocupou com
mais nada, a não ser com a comida que tomava. José era belo de porte e tinha um
rosto belo.
Gn
39, 1-6
OS NOVOS INCONFIDENTES
APOSENTADORIA (Cont.)
Evandro
de Oliveira Bastos
Evaristo
de Moraes Filho
Everardo
de Souza
Everardo
Moés da Silva
Ewaldo
de Almeida Pinto
Eziquiel
Bentes Pereira
Fabiano
Villanova Machado
Fábio
Lucas Gomes
Fábio
Moreira Lima
Félix
de Mello
Fenelon
Assumpção de Araújo Filho
Ferdinando
de Morais
Fernando
Barbará de Freitas
Fernando
Braga Ubatuba
Fernando
de Oliveira Coutinho
Fernando
do Nascimento
Fernando
Henrique Cardoso
Fernando
Linhares de Souza
Flávio
Antônio Lopes Ramos
Flávio
Pereira Guimarães
Florduardo
Sena
Florestan
Fernandes
Floriceno
Paixão
Flory
Druck Kruel
Francisca
Brizola Rotta
Francisco
Assis dos Santos
Francisco
Assunção de Macedo
Francisco
Calixto de Jesus
Francisco
Carlos de Castro
Francisco
Caruso
Francisco
Celso Ribeiro
Francisco
Chagas Lopes
Francisco
Cláudio Medeiros
Francisco
das Chagas Caldas Rodrigues
Francisco
das Chagas Soares
Francisco
de Assis Coelho
Francisco
de Assis Moura
Francisco
de Sales Soares
Francisco
Machado Bacurau
Francisco
Mangabeira
Francisco
Maranhão Japiassu
Francisco
Oswaldo de Oliveira
Francisco
Pedro de Souza
Francisco
Ribeiro da Silva
Francisco
Rodrigues de Miranda
Francisco
Xavier de Souza
Frederico
Gomes da Silva
Gaeta
Gaspar
Gélson
Brandão Marques
Geraldo
Bonfim de Freitas
Geraldo
Carneiro de Andrade
Geraldo
de Oliveira
Geraldo
de Pinho Alves
sábado, 18 de agosto de 2012
UM APRENDIZ DE FEITICEIRO
LAMENTO
POR QUEM NESTA VIDA SE CHAMOU
CLARICE
LISPECTOR
Morrer
para ti foi completar-te
no
mergulho macio que te faz
envolver,
marinha, o doce mundo,
mundo
de nojo, feroz e impassível
com
o qual, agora, te misturas
como
esterco, como terra, como pedra,
pois
tanto e tanto, desde sempre, namoravas
o
sonho mais real, pois impossível,
de
te fazeres com o deus o caule e a flor.
1981.
sexta-feira, 17 de agosto de 2012
OTELO E SANT'IAGO
UM
DEVER AMARÍSSIMO!
José
Dias amava os superlativos. Era um modo de dar feição monumental às idéias; não
as havendo, serviam a prolongar as frases. Levantou-se para ir buscar o gamão,
que estava no interior da casa. Cosi-me muito à parede, e vi-o passar com as
suas calças brancas engomadas, presilhas, rodaque e gravata de mola. Foi dos
últimos que usaram presilhas no Rio de Janeiro, e talvez neste mundo.Trazia as
calças curtas para que lhe ficassem bem esticadas. A gravata de cetim preto com
um aro de aço por dentro, imobilizava-lhe o pescoço; era então moda. O rodaque
de chita, veste caseira e leve, parecia nele uma casaca de cerimônia. Erra
magro, chupado, com um princípio de calva; teria os seus cinqüenta e cinco
anos. Levantou-se com o passo vagaroso do costume, não aquele vagar arrastado
dos preguiçosos, mas um vagar calculado e deduzido, um silogismo completo, a premissa
antes da conseqüência, a conseqüência antes da conclusão. Um dever amaríssimo!
Machado
de Assis
Dom
Casmurro
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