Ao dono das terras ele dá como gage de aliança, não
“correntias moedas de tesouro do rei, mas costumeiras prendas de louvor aos
santos”. E o seu Habão lhe toma a bênção, servo reconhecendo o senhor. Então,
num rompante, para honrar seu Habão”por alguma alvíssara de mercê”, Riobaldo
determina que ele tome a pedra de valor e sele um bom cavalo, chegue na fazenda
Santa Catarina dos Buritis Altos e a entregue à sua “Sempre noiva” que Otacília
se chamava.
A convocação dos catrumanos para seguirem com os
jagunços tem um sentido de grandeza legendária. E realiza aquele devaneio,
também tocado de nobreza antiga, em que se embalara ao sair do Sucruiú,
querendo levar para longe da desgraça, para um mundo melhor, Otacília,
Diadorim, os companheiros, os conhecidos.
Na comitiva, o cego e o menino, inúteis e, por isso
mesmo, dão a nota de grandeza e majestade, viajando a par com ele; Diadorim é o
cavaleiro gentil, “montado à baiana, gineta com estribos curtos e rédea muito
ponderada, em seu argel travado, às upas”.
Antes, porém, de empreender a demanda dos judas, é
preciso voltar aos campos do Urucuia, receber os eflúvios da terra, encher os
olhos da contemplação dos buritis, os ouvidos, com o berro dos bois. Quem vai
vencer ou morrer, deve dar adeus às coisas queridas, à terra-mãe.
Em sonhos corteses, pensa em Otacília: “E crendo que
eu enfrentava os duros riscos, ela Otacília pudesse praticar o estouvamento
gentil de se fugir de casa e vir aventurada em minha cata, por todos os pousos
deste sertão... Ah, ela vinha, montada num bom cavalo corcel (por pouco se lê palafrém), aparecia de repente, por meu
nome perguntando. E eu deixava a grandeza real dela, definida bem do meu lado,
na frente do grande bando dos meus homens”.
M. Cavalcanti Proença
Trilhas no Grande Sertão.
Os Cadernos de Cultura 114.
Ministério da Educação e Cultura.
Serviço de Documentação. Rio de Janeiro.
1958.