terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

MINHA TERRA TEM PALMEIRAS



Outra circunstância ou condição favoreceu o português, tanto quanto a miscibilidade e mobilidade, na conquista de terras e no domínio de povos tropicais: a aclimatabilidade.

Nas condições físicas de solo e de temperatura, Portugal é antes África do que Europa. O chamado “clima português” de Martone, único na Europa, é um clima aproximado do africano. Estava assim o português predisposto pela sua mesma mesologia ao contato vitorioso com os trópicos: seu deslocamento para as regiões quentes da Europa não traria as graves perturbações da adaptação nem as profundas dificuldades de aclimatação experimentadas pelos colonizadores vindos de países de clima frio.

Por mais que Gregory insista em negar ao clima tropical a tendência para produzir per se sobre o europeu do Norte efeitos de degeneração, recordando ter Elkington verificado em 1922 na colônia holandesa de Kissav, fundada em 1783, condições satisfatórias de salubridade e prosperidade, sem nenhuma evidência de degeneração física (“obvious evidence of physical degeneration”) entre os colonos louros, grande é a massa de evidências que parecem favorecer o ponto de vista contrário: o daqueles que pensam revelar o nórdico fraca ou nenhuma aclimatabilidade nos trópicos. O professor Oliveira Viana, desprezando com extrema parcialidade depoimentos como os de Elkington e Gregory, aos quais nem sequer alude, reuniu contra a pretendida capacidade de adaptação dos nórdicos aos climas tropicais o testemunho de alguns dos melhores especialistas modernos em assunto de climatologia e antropogeografia: Taylor, Glenn Trewarka, Huntington, Karl Sapper. Deste cita o sociólogo brasileiro expressivo juízo sobre os esforços colonizadores dos europeus do Norte nos trópicos:

Os europeus do Norte não têm conseguido constituir, nos planaltos tropicais, senão estabelecimentos temporários. Eles têm tentado organizar, nestas regiões, uma sociedade permanente, de base agrícola, em que o colono viva do seu próprio trabalho manual; mas em todas essas tentativas têm fracassado.

Mas é Taylor, talvez, aquele dentre os antropólogos cujas conclusões se contrapõem com mais força e atualidade às de Gregory. Antes dos estudos de Taylor e de Huntington, de Antropogeografia e Antropologia Cultural e dos de Dexter, de Climatologia, já Benjamin Kidd observara quanto à aclimatação dos europeus do Norte nos trópicos: “todas as experiências nesse sentido têm sido vãos e inúteis esforços desde logo destinados a fracasso (“foredoomed to failure”). E Mayo Smith concluíra do ponto de vista da estatística aplicada à Sociologia: “As nossas estatísticas não são suficientemente exatas para indicarem ser impossível aclimatar-se permanentemente o europeu nos trópicos, mas mostram ser isto extremamente difícil.”


Gilberto Freyre
Casa-Grande & Senzala