quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

HISTÓRIA DA INTELIGÊNCIA BRASILEIRA



Porque, se Agamenon Magalhães e Plínio Correia de Oliveira recusavam o modelo norte-americano em nome do socialismo de Direita, havia,ao contrário, quem desejava encaminhar a Segunda República, em coerência com as suas origens, para o socialismo de Esquerda. É curioso lembrar que, ao livro de Eduardo Prado, reeditado nesse ano com prefácio de Augusto Frederico Schmidt, correspondia A Ilusão Brasileira, com prefácio de Lindolfo Collor, e no qual Américo Palha reuniu a séries dos seus artigos políticos no Diário Carioca. O autor, dizia o Ministro do Trabalho, fora “um dos mais veementes jornalistas da Aliança Liberal”, tendo vindo de Pernambuco para o Rio depois da Revolução:

Foi nessas alturas que conheci o autor deste livro. Era nos primeiros dias do Ministério do Trabalho. Todo mundo tinha opiniões sobre o que se começava a fazer naquela casa embora se tratasse de assuntos que quase ninguém conhecia. Falar em sindicalização era, nessa época (foi ontem e parece que já lá vão dez anos), o mesmo, para muita gente, que fazer profissão de fé comunista. Para os que tinham interesses em jogo, tudo quanto se começava a tentar estava errado. Não havia horários de trabalho? Nem garantias de salários? Nem direitos de aposentadoria, fora dos ferroviários e portuários? Nem como contratar coletivamente com os patrões? Que importava isso? Que importava que, em tal fábrica, homens, mulheres e crianças trabalhassem dez ou doze horas a fio, a salários incertos, privados de higiene e sem nenhuma segurança sobre o dia de amanhã? Por acaso, desde que existem fábricas no Brasil, não fora sempre assim? Por que inventar, agora, essas questões?

(Encarado como comunista, Lindolfo Collor sofria a hostilidade dos intelectuais de Direita. Virgínio Santa Rosa, por exemplo, que manifestava inequívocas simpatias pelo Integralismo (cf., no volume coletivo Plínio Salgado, o seu artigo “A Personalidade de Plínio Salgado”, escrito em agosto de 1933 e expressamente ampliado para figurar na coletânea), via no Ministro do Trabalho apenas um “bom moço, vestindo boas roupas”  e que, desejando “ardentemente a simpatia dos homens rudes do trabalho”, não ousava, contudo, “desgostar os magnatas da indústria e do comércio”: “Homem sem convicções firmadas, político sem orientação social definida, legou-nos somente leis precárias e defeituosas, próprias a aguçar os instintos de poderio e revolta do proletário, sem, ao menos, tentar saciá-lo” (O Sentido do Tenentismo, 3ª ed., p. 66).

Os debates ridículos sobre o parlamentarismo e o presidencialismo estavam superados, continuava ele, acrescentando que Américo Palha era um dos raros brasileiros a perceber que “o sentido da política dos nossos dias ée eminentemente social”. De fato, desde 1929 o manifesto da Aliança Liberal proclamara que a “questão social” existia. Américo Palha dera a todo o volume o título de um artigo em que respondia a Matos Pimenta, diretor de A Ordem:

A questão social brasileira tem de ser encarada, estudada e resolvida dentro dos aspectos e das fórmulas puramente brasileiras. Por isso, não devem os governos, de hoje em diante, tremer diante do espantalho do comunismo (...). O aspecto mais sério, porém, da questão social, é sem dúvida, o que concerne à sorte das populações rurais.


Wilson Martins
História da Inteligência Brasileira
vol. VII (1933-1960)
Cultrix. Editora da Universidade de São Paulo.
São Paulo, SP
1ª edição. 1979.