Porque,
se Agamenon Magalhães e Plínio Correia de Oliveira recusavam o modelo
norte-americano em nome do socialismo de Direita, havia,ao contrário, quem
desejava encaminhar a Segunda República, em coerência com as suas origens, para
o socialismo de Esquerda. É curioso lembrar que, ao livro de Eduardo Prado,
reeditado nesse ano com prefácio de Augusto Frederico Schmidt, correspondia A Ilusão Brasileira, com prefácio de Lindolfo
Collor, e no qual Américo Palha reuniu a séries dos seus artigos políticos no Diário Carioca. O autor, dizia o
Ministro do Trabalho, fora “um dos mais veementes jornalistas da Aliança
Liberal”, tendo vindo de Pernambuco para o Rio depois da Revolução:
Foi nessas alturas que conheci o autor
deste livro. Era nos primeiros dias do Ministério do Trabalho. Todo mundo tinha
opiniões sobre o que se começava a fazer naquela casa embora se tratasse de
assuntos que quase ninguém conhecia. Falar em sindicalização era, nessa época
(foi ontem e parece que já lá vão dez anos), o mesmo, para muita gente, que
fazer profissão de fé comunista. Para os que tinham interesses em jogo, tudo
quanto se começava a tentar estava errado. Não havia horários de trabalho? Nem
garantias de salários? Nem direitos de aposentadoria, fora dos ferroviários e
portuários? Nem como contratar coletivamente com os patrões? Que importava
isso? Que importava que, em tal fábrica, homens, mulheres e crianças
trabalhassem dez ou doze horas a fio, a salários incertos, privados de higiene
e sem nenhuma segurança sobre o dia de amanhã? Por acaso, desde que existem
fábricas no Brasil, não fora sempre assim? Por que inventar, agora, essas
questões?
(Encarado
como comunista, Lindolfo Collor sofria a hostilidade dos intelectuais de
Direita. Virgínio Santa Rosa, por exemplo, que manifestava inequívocas
simpatias pelo Integralismo (cf., no volume coletivo Plínio Salgado, o seu artigo “A Personalidade de Plínio Salgado”,
escrito em agosto de 1933 e expressamente ampliado para figurar na coletânea),
via no Ministro do Trabalho apenas um “bom moço, vestindo boas roupas” e que, desejando “ardentemente a simpatia dos
homens rudes do trabalho”, não ousava, contudo, “desgostar os magnatas da
indústria e do comércio”: “Homem sem convicções firmadas, político sem orientação
social definida, legou-nos somente leis precárias e defeituosas, próprias a
aguçar os instintos de poderio e revolta do proletário, sem, ao menos, tentar
saciá-lo” (O Sentido do Tenentismo,
3ª ed., p. 66).
Os
debates ridículos sobre o parlamentarismo e o presidencialismo estavam
superados, continuava ele, acrescentando que Américo Palha era um dos raros
brasileiros a perceber que “o sentido da política dos nossos dias ée
eminentemente social”. De fato, desde 1929 o manifesto da Aliança Liberal proclamara
que a “questão social” existia. Américo Palha dera a todo o volume o título de
um artigo em que respondia a Matos Pimenta, diretor de A Ordem:
A questão social brasileira tem de ser
encarada, estudada e resolvida dentro dos aspectos e das fórmulas puramente
brasileiras. Por isso, não devem os governos, de hoje em diante, tremer diante
do espantalho do comunismo (...). O aspecto mais sério, porém, da questão
social, é sem dúvida, o que concerne à sorte das populações rurais.
Wilson
Martins
História
da Inteligência Brasileira
vol.
VII (1933-1960)
Cultrix.
Editora da Universidade de São Paulo.
São
Paulo, SP
1ª
edição. 1979.