sábado, 26 de janeiro de 2013

OS INCONFIDENTES


OS INCONFIDENTES
AUTO DE EXAME E SEPARAÇÃO FEITA NOS PAPÉIS APREENDIDOS AO CORONEL DE AUXILIARES DA COMARCA DO RIO DAS MORTES, INÁCIO JOSÉ DE ALVARENGA PEIXOTO.

Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil e setecentos  e oitenta e nove, aos onze dias do mês de junho do dito ano, nesta Vila Rica de Nossa Senhora do Pilar do Ouro Preto e Palácio da residência do Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Visconde de Barbacena, Governador e Capitão General desta Capitania, sendo aí presente o mesmo Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor, e o Doutor Desembargador Pedro José Araújo de Saldanha, Ouvidor Geral e Corregedor desta Comarca, junto comigo o Bacharel José Caetano César Manitti, Ouvidor e Corregedor da do Sabará, Juiz e Escrivão  nomeados para esta diligência por portaria do dito Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor; logo pelo mesmo nos foi ordenado que víssemos e examinássemos todos os papéis que foram apreendidos ao Coronel Inácio José de Alvarenga Peixoto, e que direta ou indiretamente pudessem de alguma sorte respeitar ao fim por que foram apreendidos, os quais todos se achavam encerrados em uma caixa de pau pequena, que nos foi no mesmo ato apresentada; e a qual abrimos; e depois de exata e miudamente examinados todos os referidos papéis na presença do mesmo Excelentíssimo Senhor, dentre eles se separaram os dois ao diante juntos e aqui autuados, por induzir o seu conteúdo alguma suspeita relativa à presente diligência nas atuais circunstâncias; contendo, o primeiro, parte de uma ode escrita pelo próprio punho do dito Coronel Inácio José de Alvarenga; e o segundo um aviso a este, escrito da mesma sorte e assinado pela mão do Vigário de São José, Carlos Correia de Toledo, que ambos vão por mim rubricados; para sobre os mesmos se fazerem as averiguações competentes, mandou o referido Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor praticar na sua presença este auto de achada, exame, e separação dos sobreditos papéis, que rubricou; e em que também assinou o referido Juiz , o Doutor Desembargador Pedro José Araújo de Saldanha, comigo, Escrivão nomeado, o Bacharel José Caetano César Manitti, que o escrevi e assinei.

Saldanha  -  José Caetano César Manitti

Anexo 1: Parte de uma Ode de Inácio José de Alvarenga

Segue dos teus Maiores,
Ilustre ramo, as sólidas pisadas.
Espalha novas flores
Sobre as suas ações grandes e honradas.
Abre, por tua mão, da glória o Templo;
Mas move o braço pelo seu exemplo.

A herdada Nobreza
Aumenta, mas não dá merecimento.
Dos heróis, a grandeza
Deve-se ao braço, deve-se ao talento,
E assim foi que, calcando o seu destino,
Deu leis ao mundo o cidadão de Arpino.

Abra-se à nova terra,
Para heróicas ações, um plano vasto.
Ou na paz, ou na guerra,
Orna os triunfos teus de um novo fasto:
Faze servir aos Castros, aos Mendonças,
Malhados tigres, marchetadas onças.

Não há bárbara fera
Que o valor e a prudência não domine
Quando a razão impera.
Que leão pode haver que não se ensine?
E o forte jugo, por si mesmo grave,
A doce mão que o põe o faz suave.

Pródiga, a Natureza
Fundou neste País o seu tesouro.

Que fez a Natureza
Em pôr neste País o seu tesouro?
Das pedras, na riqueza,
Nas grossas minas abundantes de ouro?
Se o povo miserável... mas que digo!
Povo feliz, pois tem o vosso abrigo.

Qual formada nos ares
Em densa nuvem, grossa tempestade
Qual, sobre os densos ares,
Horrenda tempestade levantada
Abre o seio dos mares
Para tragar a nau despedaçada;
Porém destro, o Piloto arreia o pano,
Salva o perigo, e remedeia o dano.

Assim a grande Augusta,
Que vê o mal, com ânimo paterno,
Em mão prudente e justa
Vem colocar as rédeas do governo.
Eu vejo a nau já do perigo isenta
Buscar o porto, livre da tormenta.

A vós, florente ramo,
Meus versos mal limados dirigia


Reconheço a letra retro e supra ser do próprio punho do Coronel Inácio José de Alvarenga  pelo perfeito conhecimento que da mesma tenho. Vila Rica, 15 de junho de 1789.


José Caetano Cér Manitti


ANEXO 2: — Bilhete do Vigário de São José, Carlos Correia de Toledo, a Inácio José de Alvarenga Peixoto, escrito na casa do Ten.-Cel. Francisco de Paula Freire de Andrada, na noite de 26-12-1788 em Vila Rica.

Alvarenga,

Estamos juntos, e venha Vmcê. já, etc.

Amigo Toledo

Reconheço a letra supra e sobrenome Toledo ser do Reverendo Vigário Carlos Correia de Toledo por ter de sua letra pleno conhecimento, em fé do que passo a presente.

Vila Rica, a 15 de junho de 1789

Em testemunho (sinal público do Tabelião) da verdade.

Antônio de Oliveira e Sá