quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

OS INCONFIDENTES



CARTA DO PADRE JOSÉ S. O. ROLIM

Tejuco, 20-04-1789

Senhor Domingos de Abreu Vieira

Meu prezado amigo do coração. Recebi a última de Vossa Mercê de dois de abril, em que me certifica ter falado ao nosso Mecenas segunda e terceira vez; ele, eficaz e certo no que nos prometeu, assim me devo persuadir como homem de bem; e fico esperando a resolução da parte que levou o meu próprio, para de todo viver em paz, para o nosso amigo Brandão. Eu tenho observado tanto à risca, que ainda té o dia de hoje não saí à rua a pagar visitas; nem o pretendo fazer sem a resolução que vier, pois não é do meu gênio, nem me está bem aparecer e tornar a esconder-me; eu, confiado na promessa que a Vossa Mercê lhe asseveraram, vivo certificado que tal me não acontecerá; e espero que de Vossa Mercê, pelas suas diligências, me venha o meu sossego.

Este é o condutor do ouro; leva um caixão com doce de mangabas secas que me fará mercê oferecê-lo ao Senhor Gonzaga em meu nome. Amanhã, terça-feira, que se contam 21, saem daqui os dois negros com quadro bestas para a condução de Vossa Mercê; e os deixará estar inté que Vossa Mercê venha; e tenha satisfação para a sua jornada muitoà sua vontade; e quando cá chegar, reformará de outras que estarão descansadas à sua espera. Faça-me recomendado a nosso bom amigo Afonso Dias e todos os mais amigos que Vossa Mercê bem os conhece: ao Senhor Bernardo, e ao Bento Pereira, e todos os da sua família. Sirva-se da minha vontade que pronta fica para o que for de lhe dar gosto. Deus guarde a Vossa Mercê por muitos anos. Tejuco, 20 de abril de 1789.

De Vossa Mercê
amigo de coração e obrigadíssimo.

José da Silva

(P.S.) Mande-me notícia de seu compadre, o Alferes Joaquim José, a quem não escrevo por não saber se já veio do Rio de Janeiro; e também me certifique se o Alvarenga se acha nessa Vila, ou se foi para a Campanha.


Nós, abaixo assinados, reconhecemos a firma desta carta ser do próprio punho do Padre José da Silva e Oliveira Rolim, pelo próprio conhecimento que dela temos, e sendo necessário o juramos aos Santos Evangelhos. Vila Rica, 15 de junho de 1789.

Francisco Antônio Rebelo
Joaquim José de Carvalho

Reconheço a letra e firmas do Tenente-Coronel Francisco Antônio Rebelo, e Capitão Joaquim José de Carvalho pelas próprias, por as ter visto fazer na minha presença, do que dou fé. Vila Rica, 15 de junho de 1789.

José Caetano César Manitti