Aqui
era umas araraquaras. A Terra do Boi Solto. Chegaram, em mês de maio, acharam,
na barriga serrã, o sítio apropriado, e assentaram a sede. O que aquilo não
lhes tirara, de coragens de suor! Os currais, primeiro; e a Casa. Ao passo que
faziam, sempre cada um deles recordava o modo de feitio de alguma jeitosa
fazenda, de sua terra ou de suas melhores estradas, e o queria remedar, com o
pobre capricho que o trabalho muito duro dá desejo de se conceber; mas, quando
tudo ficou pronto, não se parecia com nenhuma outra, nas feições, tanto as
paragens do chão e o desuso do espaço sozinho têm seu ser e poder. Daí,
esperaram as grossas chuvas. Era a Casa, grada, com muitos cômodos de chão
batido e só um quarto de assoalho; em dado não passava, bem dizer, de uma
casa-rancho, mas com teto complexo, de madeiras, por sobrecima as talas e
palmas de buriti. A rebaixa — um alpendre cercado — ; o rancho de
carros-de-boi; outros ranchos; outras casinhas; outros rústicos pavilhões.
Contiguavam-se os currais, ante esse conjunto, dele distanciados por um pátio e
pelo eirado, largoso, limpo de vegetação, porque o gado nele malhava, seu
pisoteio impedindo-a. Ali e no pátio, onde os homens e animais formavam convivência,
algumas árvores mansas foram deixadas — gameleiras, tinguis com frutas partas
maiores que laranjas, e cagaiteiras, ora em flor. Os longos cochos, nodosos,
cavados em irregulares troncos, ficavam à sombra delas. Enquanto os bois
comiam, as florinhas e as folhas verdes caíam no sal.
João
Guimarães Rosa
Corpo
de Baile – 1º volume
José
Olympio. Rio de Janeiro.
1ª
edição. 1956.