domingo, 14 de outubro de 2012

PANEM NOSTRUM



Hoje, o Rio das Velhas, tem o supremo prazer de apresentar o melhor poema — ou um dos melhores — do maior poeta brasileiro (ao lado de Jorge de Lima), Cruz e Sousa.

REGINA COELI

Ó Virgem branca, Estrela dos altares,
Ó Rosa pulcra dos Rosais polares!

Branca, do alvor das âmbulas sagradas
E das níveas camélias regeladas.

Das brancuras da seda sem desmaios
E da lua de linho em nimbo e raios.

Regina Coeli das sidéreas flores,
Hóstia da Extrema-Unção de tantas dores.

Ave de prata e azul, Ave dos astros...
Santelmo aceso, a cintilar nos mastros...

Gôndola etérea de onde o Sonho emerge...
Água Lustral que o meu Pecado asperge.

Bandolim do luar, Campo de giesta,
Igreja matinal gorjeando em festa.

Aroma, Cor e Som das Ladainhas
De Maio e Vinha verde d’entre as vinhas.

Dá-me, através de cânticos, de rezas,
O Bem, que almas acerbas torna ilesas.

O Vinho d’ouro, ideal, que purifica
Das seivas juvenis a força rica.

Ah! faz surgir, que brote e que floresça
A Vinha d’ouro e o vinho resplandeça.

Pela Graça imortal dos teus Reinados
Que a Vinha os frutos desabroche iriados.

Que frutos, flores, essa Vinha brote
Do céu sob o estrelado chamalote.

Que a luxúria poreje de áureos cachos
E eu um vinho de sol beba aos riachos.

Virgem, Regina, Eucaristia, Coeli,
Vinho é o clarão que ao teu Amor impele.

Que desabrocha ensangüentadas rosas
Dentro das naturezas luminosas.

Ó Regina do Mar! Coeli! Regina!
Ó Lâmpada das naves do Infinito!
Todo o Mistério azul desta Surdina
Vem d’estranhos Missais de um novo Rito!...


Cruz e Sousa
em Broquéis