Hoje,
o Rio das Velhas, tem o supremo
prazer de apresentar o melhor poema — ou um dos melhores — do maior poeta
brasileiro (ao lado de Jorge de Lima), Cruz e Sousa.
REGINA
COELI
Ó
Virgem branca, Estrela dos altares,
Ó
Rosa pulcra dos Rosais polares!
Branca,
do alvor das âmbulas sagradas
E
das níveas camélias regeladas.
Das
brancuras da seda sem desmaios
E
da lua de linho em nimbo e raios.
Regina
Coeli das sidéreas flores,
Hóstia
da Extrema-Unção de tantas dores.
Ave
de prata e azul, Ave dos astros...
Santelmo
aceso, a cintilar nos mastros...
Gôndola
etérea de onde o Sonho emerge...
Água
Lustral que o meu Pecado asperge.
Bandolim
do luar, Campo de giesta,
Igreja
matinal gorjeando em festa.
Aroma,
Cor e Som das Ladainhas
De
Maio e Vinha verde d’entre as vinhas.
Dá-me,
através de cânticos, de rezas,
O
Bem, que almas acerbas torna ilesas.
O
Vinho d’ouro, ideal, que purifica
Das
seivas juvenis a força rica.
Ah!
faz surgir, que brote e que floresça
A
Vinha d’ouro e o vinho resplandeça.
Pela
Graça imortal dos teus Reinados
Que
a Vinha os frutos desabroche iriados.
Que
frutos, flores, essa Vinha brote
Do
céu sob o estrelado chamalote.
Que
a luxúria poreje de áureos cachos
E
eu um vinho de sol beba aos riachos.
Virgem,
Regina, Eucaristia, Coeli,
Vinho
é o clarão que ao teu Amor impele.
Que
desabrocha ensangüentadas rosas
Dentro
das naturezas luminosas.
Ó
Regina do Mar! Coeli! Regina!
Ó
Lâmpada das naves do Infinito!
Todo
o Mistério azul desta Surdina
Vem
d’estranhos Missais de um novo Rito!...
Cruz
e Sousa
em
Broquéis