CARTA-DENÚNCIA
DE FRANCISCO ANTÔNIO DE OLIVEIRA LOPES; CACHOEIRA DO CAMPO, 19-05-1789.
Ilustríssimo
e Excelentíssimo Senhor
Dou
parte a Vossa Excelência por escrito do que já manifestei a Vossa Excelência
por palavras: Que o Sargento-Mor Luís Vaz de Toledo Piza me havia dito que
ouvira ao Coronel Joaquim Silvério dos Reis, em casa do Capitão José de Resende
Costa, em ato de revista que passava o Tenente-Coronel João Carlos Xavier da
Silva Ferrão, e mais pessoas que se achavam na dita revista, que o dito Coronel
Joaquim Silvério dissera que esta terra podia ser um império, ser um país
liberto, e que nesta terra não havia homens, e que, se os houvesse, que em
pouco tempo seriam senhores da terra; e que ele, dito sargento-mor, se
despedira do Tenente-Coronel João Carlos e que se fora embora; e passados
alguns dias, fora o Coronel Joaquim Silvério a Vila de São José e lhe dissera
que, se ele queria encarregar-se de ir a fazer gente para as bandas de São
Paulo, que ele assistiria com o dinheiro, pois se houvesse um patrício que
fosse o libertador dos mais, que estava toda Vila Rica, Sabará, Serro e Minas
Novas, que tudo estava pronto; e que ele, dito sargento-mor, se opusera a isso:
“Que ele coronel se não metesse nisso que ficava perdido”, e que o despersuadira
com razões que, se não deixasse de tal intento, que dava parte; e que o dito
coronel lhe pedira com as mãos postas que não falasse o dito sargento-mor, que
ele prometia nunca mais falar em tal, o que lhe pedia como amigo; e que, mais,
lhe dissera o mesmo Coronel Joaquim Silvério que, vindo do giro em que vinham
de passar as revistas com o Tenente-Coronel João Carlos, vindo de S. Tiago, em
um alto parara o cavalo e dissera para os que vinham na comitiva, (João Carlos,
o Sargento-Mor Pestana, e outros mais): “Que mundo novo não é este! Que país
não seria este! O melhor do mundo!”; que o Tenente-Coronel João Carlos picara o
cavalo e fora andando, e que ao depois ele, dito tenente-coronel, caíra em si
do que havia dito.
E
indo eu à Vila de São José a ir depor em uma causa do Coronel Joaquim Silvério,
na volta quando nos vínhamos recolhendo, em caminho, me veio dizendo o
Sargento-Mor Luís Vaz o que acima relato; e eu disse ao mesmo sargento-mor que
logo viesse depor e que estas coisas se não deviam calar; e me respondeu o
mesmo sargento-mor que ele, dito coronel, lhe havia pedido com as mãos postas,
que semelhantes loucuras ali acabavam. Vi mais a este respeito uma carta de uma
senhora, freira de Santa Clara de Coimbra, escrita ao Sargento-Mor Joaquim Pedro
da Câmara, em que lhe dizia que se fosse embora para Portugal que esta terra
estava para se levantar; e que não quisesse ficar sujeito aos homens, e que não
deixasse o governo da Soberana; e esta carta me não mostrou o sargento-mor por
querer mostrar a novidade, porque isto tomou como loucura; assim, mostrou-a,
porque nela não falava em uma senhora que se achava no mesmo Convento; e eu lhe
disse que aquela carta se não devia mostrar a pessoa alguma, à vista do
Ajudante Tomás da Costa e do Capitão Antônio Nunes; ao que me respondeu o
sargento-mor: “Isto são loucuras de freiras, que os maganões lhe metem quatro
petas”; disto não dei logo parte a Vossa Excelência; como alguns passos se
passaram na presença do Tenente-Coronel João Carlos Xavier da Silva Ferrão,
Ajudante de Ordens de Vossa Excelência, devia capacitar-me que logo desse parte
a Vossa Excelência.
Excelentíssimo
Senhor, isso ponho na respeitável presença de Vossa Excelência como leal
vassalo, fiel e obediente às ordens da Soberana, para que Vossa Excelência dê
as providências que forem justas em segurança do Estado, assim como pelo posto
que ocupo.
Francisco
Antônio de Oliveira Lopes
Coronel
de São João del-Rei
Reconheço
a letra desta carta e firma abaixo ser tudo do próprio punho do Coronel Francisco
Antônio de Oliveira Lopes por outras semelhantes. Vila Rica, 15 de junho de
1789.
José
Caetano César Manitti