terça-feira, 1 de abril de 2014

50 ANOS DO GOLPE


Hoje, 1º de abril de 2014, faz 50 anos o golpe que derrubou a Constituição e as instituições políticas e judiciárias do Estado Brasileiro, colocando o país em estado de anarquia e os brasileiros, todos, sem exceção nem mesmo dos donos do poder, de calças na mão e cagando de medo, submetidos à anomia que poderia, a qualquer momento, lançá-los na prisão, nos braços da tortura, da morte, do esquartejamento, da quebra dos dentes, do corte dos dedos, no lançamento de seus corpos nas águas profundas de alto-mar, quando não, pelo menos, na perda de seus empregos, com a destruição de suas carreiras e a colocação de suas famílias, suas crianças e maridos ou mulheres em estado de miséria, sem roupas próprias, aproveitando as de parentes, e sem ter o que comer, às vezes por simples denúncia de um coronelzinho, colega de serviço no magistério público, como foi o meu caso.

Este foi o caso, em primeiro plano, de milhares de brasileiros, e, logo depois, de todos, sem exceção, já que todos estavam, como dito acima, de calças na mão e cagando de medo, pois qualquer delação poderia lançá-los nos braços da violência física ou da violência psicológica, esta sem prazo determinado, e exercida dia a dia, durante 10, 11 anos, com a redução dos atingidos, como foi o meu caso, à condição de leproso na Idade Média ou de judeu no regime nazista. E, em alguns casos, com tal grau de culpabilidade que, apesar da fuga de todos os supostos amigos e companheiros de profissão e de militância na Juventude Estudantil Católica, quando  não era esta ainda comunista, mereceram muitas vezes, como também foi o meu caso, a visita solidária de coronel, colega de profissão no magistério superior, mas ciente, pelo convívio quase diário, da minha inocência no que diz respeito a atividades, embora eticamente fiel ao meu povo, à sua miséria e correto no trato com os colegas, pelo menos com os mais decentes.

Mas o coronelzinho delator, menino de recados do SNI...

Mudando um pouco de assunto, no meio de toda esta miséria, qual foi o fato, nos primeiros dias de abril de 64, que mais me chocou, logo nos primeiros momentos e me choca até hoje? Sem dúvida alguma foi a adesão do coronel comandante do 1º RI, o Regimento Sampaio, que, mandado pelo seus comandantes, da Vila Militar, do então lº Exército e do Ministério da Guerra para enfrentar o general rebelado e as tropas do governador que atentara contra a integridade do território nacional, declarando Minas independente da Constituição, dos poderes federais e separada dos demais estados da federação, confraternizou, por conta própria, sem ouvir os seus chefes, com o inimigo contra o qual deveria lutar de armas na mão. Meu choque, na época e ainda hoje, vem do sentimento de que, quem fizera isto, no plano interno, estava pronto a fazê-lo igualmente com um inimigo externo que agredisse o país. Eram estes os nossos militares? Se o coronel não queria derramar sangue (dizem que altos oficiais brasileiros só vêem sangue no dia em que nascem...), que pelo menos barrasse o avanço das tropas do general rebelado e do governador separatista, sem confraternizar com o inimigo!

Esta, em conjunto com as fotos acima, de duas das vítimas da ditadura fascista, e junto com a lista abaixo, a minha singela homenagem a este sinistro, a este diabólico cinqüentenário do golpe, resultado das ordens emanadas da Casa Branca, através de Lincoln Gordon e Vernon Walters, operacionalizado pela CIA, através do satânico Padre Patrick Peyton, obedecidas pelos udenistas Pedro Aleixo, Milton Campos, Afonso Arinos e seus correligionários udenistas, pelos bispos católicos, pelo empresariado, principalmente o paulista e o mineiro, e pelo grupo, possivelmente minoritário, de militares das três forças.

Coroando tudo isto, para ficar completa a (singela) homenagem ao 1º de abril, a foto do humanóide que O Globo publicou, na primeira página,em tamanho grande e em lugar de destaque, sob o título de A Face do Mal.