quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

OS INCONFIDENTES


TESTEMUNHA 11ª


JOSÉ JOAQUIM DE OLIVEIRA, homem branco, natural da Vila de Aldeia Galega, Comarca de Setúbal, Patriarcado de Lisboa, morador nesta Vila Rica de Nossa Senhora do Pilar do Ouro Preto, em casa de Silvério Furtado da Silveira, que vive de sua agência, de idade de trinta e dois anos, testemunha a quem ele dito Ministro deferiu o juramento dos Santos Evangelhos em um livro deles, em que pôs sua mão direita, subcargo do qual lhe encarregou que jurasse a verdade do que soubesse e lhe fosse perguntado, o que assim prometeu fazer como lhe era encarregado.

E perguntado ele, testemunha, pelo conteúdo no Auto dessa Devassa que todo lhe foi lido, disse que depois de se efetuarem nesta Vila Rica e na Comarca do Rio das Mortes as prisões que se têm feito, assim como também no Rio de Janeiro, ouviu constantemente dizer que estava para haver um levante nestas Minas, pelo que se tinham feito aquelas prisões, sendo o cabeça, ou chefe dele, um Alferes do Regimento Pago desta Capital, Joaquim José, por alcunha o Tiradentes, que fora preso no Rio de Janeiro; e mais não disse.

E perguntado ele, testemunha, pelo referimento que nele fez o tenente-coronel Basílio de Brito Malheiro, disse que tudo nele referido era pura verdade e se passara na mesma forma que no dito referimento se acusa; cuja notícia ouviu ele, testemunha, do Doutor e Tenente-Coronel Antônio José Soares de Castro, de que absolutamente havia perdido a lembrança, por ser o único de quem a tinha ouvido, e ter sido este acontecimento muito tempo antes de se fazerem as sobreditas prisões; e declara mais ele, testemunha, que achando-se no Rio das Mortes em casa de um pardo, mestre de música, por nome José Manuel Vieira, (que assistia paredes meias e conjuntamente com a casa onde morava o Coronel Inácio José de Alvarenga), o qual ensinava música a uma filha do dito, por nome Dona Maria Efigênia, segundo sua lembrança, e tratando-se sobre o seu adiantamento, lhe disse aquele José Manuel que a dita menina  nunca poderia adiantar-se muito, e isto pelo demasiado mimo com que a criava sua mãe, a qual lhe costumava chamar “princesa do Brasil” e acrescentava que, se este continente viesse em algum tempo a ser governado por nacionais, sem sujeição à Europa, a ela lhe pertencia (o título) por antiguidades de paulista, sendo a família e sua casa das primeiras. E mais não disse; nem dos costumes , por que foi perguntado; e assinou com o dito Ministro, depois de lhe ser lido o seu juramento que achou conforme; e eu, o bacharel José Caetano César Manitti, escrivão comissário, que o escrevi.



Saldanha   -   José Joaquim de Oliveira