TESTEMUNHA
11ª
JOSÉ JOAQUIM DE OLIVEIRA, homem branco, natural da Vila de Aldeia Galega,
Comarca de Setúbal, Patriarcado de Lisboa, morador nesta Vila Rica de Nossa
Senhora do Pilar do Ouro Preto, em casa de Silvério Furtado da Silveira, que
vive de sua agência, de idade de trinta e dois anos, testemunha a quem ele dito
Ministro deferiu o juramento dos Santos Evangelhos em um livro deles, em que
pôs sua mão direita, subcargo do qual lhe encarregou que jurasse a verdade do
que soubesse e lhe fosse perguntado, o que assim prometeu fazer como lhe era
encarregado.
E
perguntado ele, testemunha, pelo conteúdo no Auto dessa Devassa que todo lhe
foi lido, disse que depois de se efetuarem nesta Vila Rica e na Comarca do Rio
das Mortes as prisões que se têm feito, assim como também no Rio de Janeiro,
ouviu constantemente dizer que estava para haver um levante nestas Minas, pelo
que se tinham feito aquelas prisões, sendo o cabeça, ou chefe dele, um Alferes
do Regimento Pago desta Capital, Joaquim José, por alcunha o Tiradentes, que
fora preso no Rio de Janeiro; e mais não disse.
E
perguntado ele, testemunha, pelo referimento que nele fez o tenente-coronel Basílio
de Brito Malheiro, disse que tudo nele referido era pura verdade e se passara
na mesma forma que no dito referimento se acusa; cuja notícia ouviu ele,
testemunha, do Doutor e Tenente-Coronel Antônio José Soares de Castro, de que
absolutamente havia perdido a lembrança, por ser o único de quem a tinha
ouvido, e ter sido este acontecimento muito tempo antes de se fazerem as
sobreditas prisões; e declara mais ele, testemunha, que achando-se no Rio das
Mortes em casa de um pardo, mestre de música, por nome José Manuel Vieira, (que
assistia paredes meias e conjuntamente com a casa onde morava o Coronel Inácio
José de Alvarenga), o qual ensinava música a uma filha do dito, por nome Dona
Maria Efigênia, segundo sua lembrança, e tratando-se sobre o seu adiantamento,
lhe disse aquele José Manuel que a dita menina
nunca poderia adiantar-se muito, e isto pelo demasiado mimo com que a
criava sua mãe, a qual lhe costumava chamar “princesa do Brasil” e acrescentava
que, se este continente viesse em algum tempo a ser governado por nacionais,
sem sujeição à Europa, a ela lhe pertencia (o
título) por antiguidades de paulista, sendo a família e sua casa das
primeiras. E mais não disse; nem dos costumes , por que foi perguntado; e
assinou com o dito Ministro, depois de lhe ser lido o seu juramento que achou
conforme; e eu, o bacharel José Caetano César Manitti, escrivão comissário, que
o escrevi.
Saldanha -
José Joaquim de Oliveira