TESTEMUNHA
10ª
Antônio de Afonseca Pestana, Sargento-Mor do Regimento de Cavalaria Auxiliar de
São José, Comarca de Rio das Mortes, natural da mesma Vila e nela morador no
sítio chamado de Pedra; que vive de suas fazendas, de idade de quarenta e seis
anos, testemunha a quem ele, dito Ministro, deferiu o juramento dos Santos
Evangelhos em um livro deles em que pôs sua mão direita, subcargo do qual lhe
encarregou que jurasse a verdade do que soubesse e lhe fosse perguntado, o que
assim prometeu fazer como lhe estava encarregado.
E
perguntado ele, testemunha, pelo conteúdo no Auto desta Devassa, que todo lhe
foi lido, disse que vindo ele em certa ocasião pela Vila de São João del-Rei,
onde costumava ir muitas vezes às suas dependências, encontrara na Rua do Carmo
ao Alferes Joaquim José, por alcunha o Tiradentes; e perguntando-lhe este
depois de se cumprimentarem, como ia de utilidades, lhe respondeu ele,
testemunha, que muito mal pelas diminutas conveniências que se faziam; ao que
replicou, o dito Alferes, que este país das Minas era fertilíssimo e riquíssimo
de tudo e, a não ir toda sua riqueza para fora, seria a terra da maior utilidade;
e que tempo viria em que acontecesse alguma sublevação, e escusariam os
moradores de sofrer derramas e outras imposições, e de aturar ministros que
faziam insolências à terra. Ao que tudo ele, testemunha, lhe respondeu que não
fosse louco, e que semelhantes matérias nem se falavam, nem se ouviam. E se
retirou imediatamente, não pensando que o dito Alferes dissesse aquelas
palavras com ânimo dobrado e com segunda tenção.
Em
outra ocasião, indo àquela Comarca o Ajudante de Ordens João Carlos Xavier da
Silva Ferrão, a passar revista aos Regimentos Auxiliares de ordem do
Excelentíssimo Senhor Visconde General, achando-se o dito Ajudante de Ordens em
casa do Capitão José de Resende Costa, no Distrito da Laje, passando-se revista
ao Regimento de que é Coronel Severino Ribeiro, e estando aí presente ele,
testemunha, observou que o Coronel Joaquim Silvério dos Reis, que também se
achava assistindo, dissera perante os circunstantes (de cujos nomes só lhe
lembra unicamente o Sargento-Mor Luís Vaz de Toledo Piza), que esta terra era
muito abundante de ouro e pedras preciosas e que, da mesma sorte, produzia
muitos efeitos utilíssimos; e que viria tempo em que se tornasse um florente
Império.
E
quando ele, testemunha, vinha agora para esta vila, encontrou no caminho um
homem chamado José Francisco Dutra, morador para as partes da Igreja Nova,
Comarca do Rio das Mortes, o qual conversando a respeito das prisões do Alferes
Joaquim Tiradentes, e outros, lhe contara que tinha ouvido dizer que, já no
tempo do governo do Excelentíssimo Senhor Luís da Cunha e Meneses, o mesmo
Alferes andara com mania de falar em levantes nestas Minas. E declara mais ele,
testemunha, que depois das ditas prisões, assim no Rio de Janeiro como nesta
Vila Rica e na Comarca do Rio das Mortes, do dito Tiradentes, Joaquim Silvério,
o coronel Alvarenga, o padre Carlos, vigário da Freguesia de São José, o Desembargador
Gonzaga, e Domingos de Abreu, ouvira publicamente discorrer que as sobreditas
prisões derivavam: uns, de diamantes; outros, de extravio de ouro em pó. Mas
que passados alguns dias mais, era voz constante que aqueles procedimentos
nasciam de notícias de alguma sublevação; e que por ele, testemunha, ser
sabedor destes discursos, viera ultimamente denunciar os já referidos fatos ao
Excelentíssimo Senhor Visconde General, como efetivamente executou; e mais não
disse, nem dos costumes, a que foi perguntado, e só declara ser compadre do
coronel Inácio José de Alvarenga; e assinou com o dito Ministro, lido o
juramento, e eu, o bacharel José Caetano César Manitti, escrivão nomeado, o
escrevi.
Saldanha —
Antônio de Afonseca Pestana