domingo, 27 de maio de 2012

PANEM NOSTRUM


Eu te sinto pecado original
não só corroendo ainda os meus tecidos
porém intumescendo-me com a lava
do orgulho em que um arcanjo se abrasou.

Para me dominares a alma escrava
entorpeces-me todos os sentidos,
crânio, tórax, abdômen, membros, sexo,
tudo é uma gorda empola alta e convexa.

Mudas depois meu crânio, tronco e membros:
a boca em tromba, espádua em asas negras
sorriso, em gargalhada má. Lusbel,

vês que a minha figura se assemelha
à tua, tu que foste o meu modelo
orgulhoso da luz que me cegou.


Jorge de Lima
Livro de Sonetos