sexta-feira, 17 de outubro de 2014

OS INCONFIDENTES


TESTEMUNHA 26ª

Victoriano Gonçalves Veloso, homem pardo, Alferes no Arraial da Igreja Nova, natural da Vila de São José, Comarca do Rio das Mortes, morador no Bichinho, ou Gritador, da mesma Comarca, que vive do seu ofício de alfaiate, idade de cinqüenta e um anos, testemunha a quem o dito Ministro deferiu o juramento dos Santos Evangelhos em um livro deles, em que pôs sua mão direita, sob cargo do qual lhe encarregou jurasse a verdade do que soubesse e lhe fosse perguntado, o que assim prometeu cumprir como lhe era encarregado.

E perguntado ele, testemunha, pelo Auto desta Devassa que todo lhe foi lido, disse que somente depois que se fizeram as prisões do Alferes Joaquim José da Silva e Coronel Joaquim Silvério dos Reis no Rio de Janeiro, assim como do Desembargador Tomás Antônio Gonzaga, do Coronel Inácio José de Alvarenga, e Vigário de São José, Carlos Correira de Toledo, foi que ele, testemunha, ouviu dizer geralmente que o dito Alferes tinha andado suscitando um levante nestas Minas; e que por este motivo se havia falado a quase todos os moradores da estrada do Rio de Janeiro, como era constante; e mais não disse.

E perguntado pelo referimento que nele fez o Padre Manoel Pacheco Lopes ao Mestre de Campo Inácio Correira Pamplona, testemunha desta Devassa, que todo lhe foi lido, disse que é verdade todo o nele conteúdo; porquanto tendo ido pedir ao Coronel Francisco Antônio de Oliveira Lopes um cavalo para vir á cidae de Mariana, a fim de aprontar certos papéis tendentes ao casamento de uma sua sobrinha; e havendo-lhe efetivamente emprestado o dito Coronel, se admirou ele testemunha de o achar nessa ocasião chorando como uma criança e dizendo que estava perdido, sem contudo lhe declarar a causa e circunstâncias que o moviam àquele excesso; e seguindo ele, testemunha, com efeito o seu destino, falou no caminho com os Padres Joaquim Barbosa, e com o Vigário do Ouro Branco, Manuel Pacheco Lopes; sendo certo que também no mesmo caminho pedira ao Padre José Maria de Assis (José Maria Fajardo de Assis) lhe fizesse um requerimento respectivo àquela dependência para igualmente o despachar em Mariana; mas chegando ele, testemunha, ao Capão do Lana, e tendo observado que havia passado já preso o Desembargador Tomás Antônio Gonzaga, este sucesso junto com a notícia das prisões do Rio de Janeiro, o fez persuadir que o mesmo teria também já sucedido o dito Coronel Francisco Antõnio de Oliveira, lembrando-se então das palavras que lhe tinha ouvido: "Que estava perdido". Pelo que, voltando logo outra vez para sua casa e tornando em caminho a falar com os referidos padres, lhes disse que voltara depressa porque os soldados lhe tinham apanhado umas cartas, o que verdadeiramente foi invenção dele testemunha, para se desculpar de ter imediatamente voltado, acrescentando que àquela hora se capacitava que já estaria preso também o dito Coronel, como recontado fica; e mais não disse, e aos costumes declarou ser compadre do dito Coronel Francisco Antônio de Oliveira Lopes. E sendo-lhe lido o seu juramento, que achou estar conforme, o assinou com o dito Ministro, e eu, o Bacharel José Caetano César Manitti, Escrivão nomeado, o escrevi.


Saldanha   -   Vitoriano Gonçalves Veloso