Testemunha
19ª
Ana Maria da Silva, parda disfarçada, natural desta Vila
Rica de Nossa Senhora do Pilar do Ouro Preto, moradora na mesma Vila, que vive
de suas costuras, de idade de quarenta anos, testemunha a quem o dito Ministro
deferiu o juramento dos Santos Evangelhos em um livro deles em que pôs sua mão
direita, sob cargo do qual lhe encarregou que jurasse a verdade do que
soubesse, o que assim prometeu fazer como lhe estava encarregado.
E
perguntada ela, testemunha, pelo conteúdo no Auto desta Devassa, que todo lhe
foi lido, disse que somente sabe pelo ouvir dizer geralmente, depois que foi
preso no Rio de Janeiro o Alferes Joaquim José, e nesta Vila o Desembargador
Gonzaga, que aquele dito Alferes pretendia fazer um levante nestas Minas, e que
por causa desta desordem é que se tinham feito aquelas prisões; e mais não disse. E perguntada pelo referimento
que nela fez a testemunha, o Capitão José Vicente de Morais Sarmento, disse que
era verdade quanto se relatava naquele referimento, e que ela era a própria que
tinha pedido ao Alferes Joaquim José que quisesse interceder para sentar praça
a seu filho; ao que lhe tornou o dito Alferes, batendo-lhe com a mão no ombro:
- “Deixe estar, minha camarada, que ninguém há de sentar praça a seu filho,
senão eu.” E que a isto acrescentara que estava para ter grandes rendas e
fortunas por certas dependências que tinha no Rio, que lhe levariam quatro
anos, mas que depois se considerava o homem mais feliz do mundo, e que também
ainda havia de fazer a sua terra feliz. E mais não disse, nem dos costumes; e
sendo-lhe lido o seu juramento, o assinou com o dito Ministro; e eu, o Bacharel
José Caetano César Manitti, Escrivão nomeado, o escrevi.
Saldanha - Ana
Maria Rosa da Silva