quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

OS INCONFIDENTES

TESTEMUNHA 7ª

O Bacharel Antônio José Soares de Castro, Tenente-Coronel dos Pardos da Vila do Príncipe, comarca do Serro do Frio, natural de São Gonçalo do Rio Preto, Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da dita Vila, morador atualmente nesta Vila Rica, que vive de suas letras, de idade de trinta e quatro anos, testemunha a quem o dito Ministro deferiu o juramento dos Santos Evangelhos em um livro deles em que pôs sua mão direita, sob cargo do qual lhe encarregou jurasse a verdade do que soubesse e se lhe perguntasse, o que assim prometeu fazer como lhe estava encarregado.

E perguntado ele, testemunha, pelo conteúdo no Auto desta Devassa que todo lhe foi lido, disse que somente sabe, por ouvir dizer depois das prisões que se fizeram nesta Vila, que estava para se concitar na mesma e em todas as Minas um levante. E se lembra que das pessoas a quem ouviu falar neste fora o Tenente-Coronel Basílio de Brito, e mais não disse. Porém, antes das prisões, recolhendo-se para a casa dele, testemunha, Salvador Carvalho do Amaral Gurgel, onde também assistia juntamente, lhe perguntou o mesmo se sabia o que ia de novo; e respondendo-lhe que não, tornou-lhe o mesmo Salvador que o Alferes Joaquim José, por alcunha o Tiradentes, lhe contara que estava para haver um levante em toda a Capitania, para cujo efeito haviam já solicitado alguns sujeitos opulentos de São Paulo. E que o mesmo Alferes ia para o Rio de Janeiro agregar aí algumas pessoas. E depois que este dito Alferes foi preso naquela cidade, indo ele, testemunha, à casa em que então já morava separado o dito Salvador para visitá-lo, estando enfermo, lhe perguntou este se ele, testemunha, estava certo no que ele, Salvador, lhe havia contado a respeito daquele Alferes. E respondendo-lhe que sim, lhe tornou o dito Salvador: “Veja lá em que estado agora me punha se lhe dou a carta que ele me pedia para o Tenente de Artilharia do Rio de Janeiro, Francisco Manuel!”

E perguntado mais pelo referimento que nele fez a testemunha, o Tenente-Coronel Basílio de Brito Malheiro, disse que era verdade o nele conteúdo, do que tem perfeita lembrança; e que o mencionado Doutor, quando disse que o Senhor General havia de ser o mais infeliz que veio a Minas, deu logo a razão: “porque perseguia os clérigos”, em cuja matéria e resposta está bem presente ele, testemunha. E mais não disse, nem ao costume; e assinou com o dito Ministro, depois de lhe ter sido lido seu juramento, que achou conforme. E eu, o Bacharel José Caetano César Manitti, Escrivão nomeado, que o escrevi.

Saldanha  -  Antônio José Soares de Castro

Autos de Devassa da Inconfidência Mineira. Vol. 1.
Editado pela Câmara dos Deputados e a Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais. Brasília  /  Belo Horizonte.1976.