TESTEMUNHA
7ª
O
Bacharel Antônio José Soares de Castro, Tenente-Coronel dos Pardos da Vila do
Príncipe, comarca do Serro do Frio, natural de São Gonçalo do Rio Preto,
Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da dita Vila, morador atualmente nesta
Vila Rica, que vive de suas letras, de idade de trinta e quatro anos,
testemunha a quem o dito Ministro deferiu o juramento dos Santos Evangelhos em
um livro deles em que pôs sua mão direita, sob cargo do qual lhe encarregou
jurasse a verdade do que soubesse e se lhe perguntasse, o que assim prometeu
fazer como lhe estava encarregado.
E
perguntado ele, testemunha, pelo conteúdo no Auto desta Devassa que todo lhe
foi lido, disse que somente sabe, por ouvir dizer depois das prisões que se
fizeram nesta Vila, que estava para se concitar na mesma e em todas as Minas um
levante. E se lembra que das pessoas a quem ouviu falar neste fora o
Tenente-Coronel Basílio de Brito, e mais não disse. Porém, antes das prisões,
recolhendo-se para a casa dele, testemunha, Salvador Carvalho do Amaral Gurgel,
onde também assistia juntamente, lhe perguntou o mesmo se sabia o que ia de
novo; e respondendo-lhe que não, tornou-lhe o mesmo Salvador que o Alferes
Joaquim José, por alcunha o Tiradentes, lhe contara que estava para haver um
levante em toda a Capitania, para cujo efeito haviam já solicitado alguns
sujeitos opulentos de São Paulo. E que o mesmo Alferes ia para o Rio de Janeiro
agregar aí algumas pessoas. E depois que este dito Alferes foi preso naquela
cidade, indo ele, testemunha, à casa em que então já morava separado o dito
Salvador para visitá-lo, estando enfermo, lhe perguntou este se ele,
testemunha, estava certo no que ele, Salvador, lhe havia contado a respeito
daquele Alferes. E respondendo-lhe que sim, lhe tornou o dito Salvador: “Veja
lá em que estado agora me punha se lhe dou a carta que ele me pedia para o
Tenente de Artilharia do Rio de Janeiro, Francisco Manuel!”
E
perguntado mais pelo referimento que nele fez a testemunha, o Tenente-Coronel
Basílio de Brito Malheiro, disse que era verdade o nele conteúdo, do que tem
perfeita lembrança; e que o mencionado Doutor, quando disse que o Senhor
General havia de ser o mais infeliz que veio a Minas, deu logo a razão: “porque
perseguia os clérigos”, em cuja matéria e resposta está bem presente ele,
testemunha. E mais não disse, nem ao costume; e assinou com o dito Ministro,
depois de lhe ter sido lido seu juramento, que achou conforme. E eu, o Bacharel
José Caetano César Manitti, Escrivão nomeado, que o escrevi.
Saldanha -
Antônio José Soares de Castro
Autos
de Devassa da Inconfidência Mineira. Vol. 1.
Editado
pela Câmara dos Deputados e a Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais.
Brasília / Belo Horizonte.1976.