TESTEMUNHA
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José Pereira Marques, Tenente-Coronel do Regimento de Cavalaria
Auxiliar desta Vila Rica, natural de São João de Limãos, Concelho de Cerva,
Comarca de Vila Real, Arcebispado de Braga, morador nesta mesma Vila, que vive
de seu comércio e atual Contratador das Entradas nesta Capitania; de idade de
trinta e oito anos; testemunha a quem o
dito Ministro deferiu o juramento dos Santos Evangelhos em um livro deles em
que pôs sua mão direita, subcargo do qual lhe encarregou que jurasse a verdade
do que soubesse e lhe fosse perguntado, o que assim prometeu fazer como lhe
estava encarregado.
E
perguntado ele, testemunha, pelo conteúdo no Auto desta Devassa, que todo lhe
foi lido, disse que somente sabe, por ser público e notório depois das prisões
que se fizeram na Cidade do Rio de Janeiro, do Coronel Joaquim Silvério dos
Reis e do Alferes Joaquim José da Silva, por alcunha o Tiradentes, que o dito
Alferes andava convocando gente, tanto naquela cidade como nesta Minas, para se
efetuar nas mesmas e no Rio de Janeiro um levante. Porém que nunca ouvira
dizer, nem tem a menor notícia dos companheiros que o mesmo tinha para esta
ação, nem ouviu falar em mais ninguém a este respeito; pois somente sabe o que
dito tem. Declara porém, que transitando pela estrada do Rio o sobredito
Alferes e passando pela Borda do Campo, onde ele, testemunha, se achava nas
suas cobranças, em companhia de outro alferes do mesmo Regimento por nome
Matias Sanches, e achando-se este a horas de almoço na casa dele, testemunha, a
almoçar, chegou pouco depois também o dito Joaquim José; e dizendo o Sanches
que estava mal montado, lhe ofereceu ele, testemunha, um cavalo seu, que
aceitou; ao que disse aquele Joaquim José: “Só a mim se não fazem estes
oferecimentos”, ao que tornou ele, testemunha, que não tinha outro cavalo,
porém que tinha vendido um menos mau ao Padre Francisco Vidal de Barbosa Laje e
que, para o servir, lhe ia escrever para lho emprestar, o que de fato executou
escrevendo ao padre; e levando o mesmo Alferes Tiradentes aquela carta,
entregando-a ao dito padre, este lhe ofereceu outra cavalgadura, mas não aquele
dito cavalo picaço, o que o dito Alferes não aceitou; e ignora ele, testemunha,
se além disto, sempre aquele padre lhe emprestou alguma outra cavalgadura; e
mais não disse. E perguntado pelo referimento que nele fez a testemunha Basílio
de Brito Malheiro, disse que absolutamente se não lembra de que na sua presença
se praticasse na matéria que se articula no referimento; e mais não disse, nem
dos costumes; e sendo-lhe lido o seu juramento, o assinou com o dito Ministro,
e eu, o Bacharel José Caetano César Manitti, Escrivão nomeado, o escrevi.
Saldanha —
José Pereira Marques
Câmara
dos Deputados / Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais. Brasília /
Belo Horizonte. 1976.