TESTEMUNHA 5ª
O
Sargento-Mor Raimundo Correia Lobo, homem pardo, natural da Freguesia de Nossa
Senhora da Conceição da Vila do Príncipe e morador no Arraial do Tejuco,
Comarca do Serro do Frio, que vive de suas lavras, de idade de trinta e sete
anos, testemunha a quem o dito Ministro deferiu o juramento dos Santos
Evangelhos, em um livro deles em que pôs sua mão direita, subcargo do qual lhe
encarregou jurasse a verdade do que soubesse e lhe fosse perguntado, o que
assim prometera fazer como lhe estava encarregado.
E
perguntado ele, testemunha pelo conteúdo no Auto desta Devassa, que todo lhe
foi lido, disse que, achando-se ele em casas do Doutor Antônio José Soares de
Castro, com quem assistia junto com um Salvador de Carvalho do Amaral Gurgel,
vindo este de fora em certa ocasião, ouviu que o mesmo, em particular, estava
contando àquele Doutor, que também é tenente-coronel dos Pardos da Vila do
Príncipe, que o Alferes Joaquim José da Silva, por alcunha o Tiradentes, lhe
referira que estava para se fazer um novo Parlamento nestas Minas; a cuja
notícia, virou logo o dito Doutor dizendo: “Não se fale aqui nisso; e quem for
o motor de semelhante coisa, verá o que lhe sucede, pois é um crime da primeira
cabeça”. E foi isto unicamente o que ele, testemunha, tem ouvido a este
respeito.
E
perguntado ele, testemunha, pelo referimento que nele fez a testemunha
Tenente-Coronel Basílio de Brito Malheiro, que todo lhe foi lido, disse que
passava na verdade ter ele falado, na ocasião apontada no referimento e na
mencionada Estalagem, com o pardo Crispiniano da Luz Soares, e dizer-lhe este:
— “Que lhe parece a Vossa Mercê o que vai de novo: o levante que querem fazer?”
Ao que lhe respondeu ele, testemunha: — “Nem falar nisso é bom; já o Salvador
falou no mesmo em casa do Tenente-Coronel Antônio José Soares de Castro, e este
ralhou infinito”.
Não
está porém certo ele, testemunha, se o mesmo Crispiniano lhe disse o mais que
acusa o referimento, relativamente a ter-se escrito para São Paulo para se não
pagarem os dízimos, do que não tem lembrança. E mais não disse nem aos
costumes; e sendo lido o seu juramento o assinou com dito Ministro; e eu, José
Caetano César Manitti, Escrivão nomeado, o escrevi.
Saldanha —
Raimundo Correia Lobo