Testemunha
l7ª
Simplícia Maria de
Moura, natural do
Arraial de Paracatu, moradora nesta Vila Rica de Nossa Senhora do Pilar do Ouro
Preto, que vive de suas costuras, de idade de vinte e um anos, testemunha a
quem o dito Ministro deferiu o juramento dos Santos Evangelhos em um livro
deles em que pôs sua mão direita, sob cargo do qual lhe encarregou jurasse a
verdade do que soubesse e lhe fosse perguntado, o que assim prometeu cumprir
como lhe estava encarregado.
E
perguntada ela, testemunha, pelo conteúdo no Auto desta Devassa que todo lhe
foi lido, disse saber por ouvir dizer publicamente, depois das prisões que se
fizeram, no Rio de Janeiro, ao Alferes Joaquim José e Coronel Joaquim Silvério,
assim como nesta Vila ao Desembargador Tomás Antônio Gonzaga, e no Rio das
Mortes ao vigário de São José, e ao Coronel Inácio José de Alvarenga, que se
pretendia fazer nestas Minas um levante, sendo que andava falando nisso o
sobredito Alferes, por alcunha o Tiradentes; e que as outras prisões dos já
referidos eram pelo mesmo motivo; e mais não disse.
E
perguntada pelo referimento que nela fez a testemunha , o Capitão José Vicente
de Morais Sarmento, disse que é verdade em parte o dito referimento; porque é
certo que tendo a mãe dela, testemunha, desejo de fazer sentar praça um seu
filho, irmão dela, testemunha, e tendo-se aquele Alferes Joaquim José inculcado
por valido do Ajudante de Ordens Antônio Xavier de Resende, e que também o
Excelentíssimo Senhor Visconde General lhe fazia muito favor, nestas
circunstâncias lhe rogou a mãe dela, testemunha, quisesse empenhar-se para o
dito seu filho, e irmão, sentar praça; ao que o mesmo Alferes respondeu que por
ora deixasse estar, até ele Alferes voltar do Rio de Janeiro, porque então não
seria necessário pedir a ninguém. E que ele havia de fazer feliz esta terra, e
também ele havia de ser muito feliz; e que ia ao Rio, na diligência de aí fazer
construir muitos armazéns e introduzir naquela cidade certas águas; e que ainda
esperava ter de renda mais de cinqüenta mil cruzados, dizendo mais outros
disparates de que ela, testemunha, se não recorda bem. E mais não disse, nem
dos costumes; e sendo-lhe lido o seu juramento, o assinou com ele, dito
Ministro, e eu, o Bacharel José Caetano César Manitti, o escrevi.
Saldanha - Simplícia
Maria de Moura