Testemunha
16ª
José Vicente de Morais
Sarmento, Capitão
do Primeiro Regimento de Auxiliares desta Capital, natural da Vila de Vinhais,
Comarca de Miranda do Douro, assistente nesta Vila Rica de Nossa Senhora do
Pilar do Ouro Preto, que vive de suas fazendas, de idade de cinquenta e dois
anos, testemunha a quem o dito Ministro deferiu o juramento dos Santos
Evangelhos em um livro deles, em que pôs sua mão direita, sob cargo do qual lhe
encarregou que jurasse a verdade do que soubesse e lhe fosse perguntado, o que
prometeu fazer como lhe estava encarregado.
E
perguntado ele testemunha pelo conteúdo no Auto desta Devassa que todo lhe foi
lido, disse que antes das prisões que se fizeram nesta Vila e em São João
del-Rei, nunca ouviu falar coisa alguma positiva a respeito do levante que se
pretendesse concitar; e somente, estando certo dia na loja do Capitão Antônio
Ferreira, e achando-se na mesma o Coronel Inácio José de Alvarenga, se entrou a
falar na derrama que se pretendia lançar, em cuja ocasião principiou a dizer
aquele Alvarenga que faziam muito mal em lançarem derrama; que a terra estava
muito decadente e que desta sorte se ia pondo o povo em termos de alguma
sublevação, para o que tinham bem fresco o exemplo da América Inglesa. E que
também, depois das ditas prisões, ouvira ele, testemunha, dizer ao
Tenente-Coronel Antônio José Soares de Castro que, pedindo umas mulheres desta
Vila, por alcunha as Pilatas, ao Alferes Joaquim José da Silva concorresse para
se assentar praça de soldado na Tropa Paga a um seu irmão, ele lhe respondera
que deixassem estar, que brevemente se lhe assentaria praça, porque ele, dito
Alferes, estava para ser um grande homem. Também ouvira dizer ele, testemunha, a várias pessoas, que o mesmo Alferes,
encontrando no caminho do Rio, ou na cidade já, um homem tropeiro, fulano
Pires, que anda no caminho para esta Vila, lhe recomendara que trouxesse bem
pólvora, chumbo e sal; e mais não disse. E perguntado pelo referimento que nele
fez a testemunha, o Tenente-Coronel Basílio de Brito Malheiro, que todo lhe foi
lido, disse que passa na verdade quanto a dita testemunha referiu, o que
aconteceu na mesma forma que se menciona, e ele testemunha tem já recontado; e
só mais declara que achando-se em casa do Doutor Cláudio Manuel da Costa,
haveria oito dias pouco mais ou menos antes da sua prisão, e conversando-se
sobre as que se tinham feito, lhe disse o mesmo Doutor que não se podia
capacitar que os homens que se tinham presos o fossem por intentarem alguma
sublevação, porquanto nem havia dinheiro, nem armas, nem potência alguma
estrangeira que os favorecesse; e que do contrário não podia tal intento ter
êxito algum, nem subsistência, e o que o intentasse sem estes essenciais
requisitos se devia reputar por bêbado ou por louco. E mais não disse, nem aos
costumes; e sendo-lhe lido o seu juramento, o assinou com o dito Ministro, e
eu, o Bacharel José Caetano César Manitti, o escrevi.
Saldanha
– José Vicente de Morais Sarmento
Publicação da Câmara dos Deputados
e do Governo do Estado de Minas Gerais
Brasília / Belo Horizonte. 1976.