quinta-feira, 1 de maio de 2014

OS INCONFIDENTES


Testemunha 16ª

José Vicente de Morais Sarmento, Capitão do Primeiro Regimento de Auxiliares desta Capital, natural da Vila de Vinhais, Comarca de Miranda do Douro, assistente nesta Vila Rica de Nossa Senhora do Pilar do Ouro Preto, que vive de suas fazendas, de idade de cinquenta e dois anos, testemunha a quem o dito Ministro deferiu o juramento dos Santos Evangelhos em um livro deles, em que pôs sua mão direita, sob cargo do qual lhe encarregou que jurasse a verdade do que soubesse e lhe fosse perguntado, o que prometeu fazer como lhe estava encarregado.

E perguntado ele testemunha pelo conteúdo no Auto desta Devassa que todo lhe foi lido, disse que antes das prisões que se fizeram nesta Vila e em São João del-Rei, nunca ouviu falar coisa alguma positiva a respeito do levante que se pretendesse concitar; e somente, estando certo dia na loja do Capitão Antônio Ferreira, e achando-se na mesma o Coronel Inácio José de Alvarenga, se entrou a falar na derrama que se pretendia lançar, em cuja ocasião principiou a dizer aquele Alvarenga que faziam muito mal em lançarem derrama; que a terra estava muito decadente e que desta sorte se ia pondo o povo em termos de alguma sublevação, para o que tinham bem fresco o exemplo da América Inglesa. E que também, depois das ditas prisões, ouvira ele, testemunha, dizer ao Tenente-Coronel Antônio José Soares de Castro que, pedindo umas mulheres desta Vila, por alcunha as Pilatas, ao Alferes Joaquim José da Silva concorresse para se assentar praça de soldado na Tropa Paga a um seu irmão, ele lhe respondera que deixassem estar, que brevemente se lhe assentaria praça, porque ele, dito Alferes, estava para ser um grande homem. Também ouvira dizer ele, testemunha,  a várias pessoas, que o mesmo Alferes, encontrando no caminho do Rio, ou na cidade já, um homem tropeiro, fulano Pires, que anda no caminho para esta Vila, lhe recomendara que trouxesse bem pólvora, chumbo e sal; e mais não disse. E perguntado pelo referimento que nele fez a testemunha, o Tenente-Coronel Basílio de Brito Malheiro, que todo lhe foi lido, disse que passa na verdade quanto a dita testemunha referiu, o que aconteceu na mesma forma que se menciona, e ele testemunha tem já recontado; e só mais declara que achando-se em casa do Doutor Cláudio Manuel da Costa, haveria oito dias pouco mais ou menos antes da sua prisão, e conversando-se sobre as que se tinham feito, lhe disse o mesmo Doutor que não se podia capacitar que os homens que se tinham presos o fossem por intentarem alguma sublevação, porquanto nem havia dinheiro, nem armas, nem potência alguma estrangeira que os favorecesse; e que do contrário não podia tal intento ter êxito algum, nem subsistência, e o que o intentasse sem estes essenciais requisitos se devia reputar por bêbado ou por louco. E mais não disse, nem aos costumes; e sendo-lhe lido o seu juramento, o assinou com o dito Ministro, e eu, o Bacharel José Caetano César Manitti, o escrevi.



Saldanha – José Vicente de Morais Sarmento


Publicação da Câmara dos Deputados
e do Governo do Estado de Minas Gerais
Brasília / Belo Horizonte. 1976.