terça-feira, 9 de dezembro de 2014

OS INCONFIDENTES


TESTEMUNHA 28ª, CONTINUAÇÃO

Conversando mais nesta matéri com o Tenente-Coronel Manoel Teixeira de Queiroga, este disse a ele, testemunha, que as referidas prisões tinham mais ponderoso objeto, contando-lhe que lhe tinham segurado que o Alferes Joaquim José da Silva, por alcunha o Tiradentes, quando foi para o Rio de Janeiro, tomou a sua conta ir semeando alguns discursos suasórios das conveniências deste país, que podia muito bem ser livre e independente, alargando-se e convidando algumas pessoas, a quem persuadia dos seus intentos, e a quem se encaminhavam aqueles discursos. E como ele, testemunha, ainda assim duvidasse do que ouvira ao dito Tenente-Coronel, conversando também com o Quartel-Mestre do Regimento Pago, Manoel Antônio de Magalhães, este lhe disse haverem-lhe segurado que o Furriel João Rodrigues Monteiro contara que, quando foi com o Tenente Antônio José Dias (Antônio José Dias Coelho. Foi antes cobrador militar de Fanfarrão Minésio na Comarca do Rio das Mortes. Em 1787 teve um filho de D. Maria Inácia Policena, cunhada de Alvarenga Peixoto, o qual foi exposto à porta de Francisco Antônio de Oliveira Lopes e sua mulher, D. Hipólita Teixeira de Carvalho, que o criaram e dos quais foi herdeiro, sendo reconhecido pelo pai em testamento (1826)) a prender ao Rio das Mortes o Vigário de São José e o Coronel Alvagenga e outros (o Dr. João de Araújo e Oliveira, consoante ordem do Visconde de Barbacena). Devia igualmente ser preso e levado para o Rio Luís Vaz de Toledo, que conseguiu fugir, vindo depois apresentar-se à prisãao, sendo encaminhado para Vila Rica pelo Sargento-Mor Joaquim Pedro de Sousa da Câmara), havendo-se encontrado com o dito Vigário em caminho e sendo preso pelo dito Tenente, entretanto que esta passou adiante, ficou o mesmo Furriel de guarda ao dito Vigário, o qual disse que bem sabia a causa da sua prisão. E perguntando-lhe o Furriel qual era, lhe respondeu que frigissem ou açoitassem a seu irmão, e outro tanto ao Coronel Joaquim Silvério, porquanto induzindo este ao dito seu irmão, e sabendo ele Vigário para que fim, se lhe deitara aos pés pedindo-lhe que, pelo amor de Deus se fosse logo e logo delatar ao seu Coronel. E tornando-lhe aquele Furriel que se isso assim se passou, por que razão ele, Vigário, não fez que o dito seu irmão o viesse delatar a Sua Excelência? lhe respondeu o mesmo que se persuadira que naquela forma havia satisfeito a sua obrigação. Além disto, tem ele testemunha ouvido dizer, já depois daquelas prisões, que eles intentavam que morresse todo o filho da Europa que tivesse menos de sessenta anos, e outras extravagâncias dessa natureza; porém não tem ouvido especificar que entrassem na confederação alguns outros além dos que se acham presos, e a quem ele testemunha refere o mencionado procedimento. E mais não disse, nem dos costumes, e assinou com o dito Ministro, e eu, o Bacharel José Caetano Manitti, Escrivão nomeado, o escrevi.


Saldanha  -  Teotônio Maurício de Miranda Ribeiro


Autos de Devassa da Inconfidência Mineira
volume I
Câmara dos Deputados  /  Governo do Estado de Minas Gerais
Brasília  /  Belo Horizonte
1976